terça-feira, janeiro 28, 2014

Perdido pela cidade grande

Grande.
Uma Lisboa aumentada e extendida ao comprido, com o tempo de Sintra. Tentei, como tento sempre em todas as viagens, andar a cidade toda a pé. É uma mania que vem de Lisboa e que não tem em conta cidades planas. Em Lisboa as caminhadas são ditadas pela orografia, os limites de cada passeio são fáceis de prever. Numa cidade que é plana ( tem dias ) e cujo mapa mostra ruas rectas com 2 km, é dificil criar limites para o andar a pé. Aqui apanhei um autocarro só para ir até ao fim de uma rua, depois de já ter andado mais de metade e perceber que não ia acabar. Foi uma decisão inteligente, especialmente porque os autocarros são um cenário igual aos de Portugal mas em versão cut-the-bullshit. Se na carris tenho de levar com a velhinha saudosa do Salazar, cá apanhei a velhinha que tinha andado agarrada ao cracka contar a vida dela e que não julga ninguém porque a vida dá muitas voltas e a vida toda do bairro à volta do autocarro, a rua recta é a aldeia, as histórias passam-se ao longo da rua, as personangens habituais entram e saem, o motorista preto já as conhece todas e fala-lhes naquele tom de preto-bacano-do-filme, a vida é dura mas passa-se, um tipo trabalhador e honesto há-de ser recompensado um dia.
Na rua outra vez, os contrastes são muito grandes, se uma rua é de lojas impecáveis e hipsters a passear o skate, o bloco à frente já é de sem abrigo e putas na rua, céu aberto que aqui ainda não vi uma geografia própria para a miséria, tanto as ruas boas como as más são abertas, a tal recta não se interrompe para mudar de anual income, é tudo a direito, na rua dos sem abrigo e dos seven-eleven vão os mesmo hipster de skate. (continua)

A lingua

Falam muito rápido. Um gajo acha que sabe inglês espetacular e dá-se mal. Os adjectivos. Metem muitos adjectivos. Já disse isto, espera. Se não houvesse publicidade, os americanos continuariam a falar com muitos adjectivos hiperbolicos. Alias, metade do sucesso dos americanos deve-se a este facilidade em hiperbolizar o que fazem. Desde que estou aqui acho que sou um género de designer de alfama, não dou hipoteses de ter linguagem técnica nem de fazer de mim um génio. Fico-me pelas piadas genéricas e faço figura de urso, que o material que tenho não funciona bem aqui. É da pronuncia.

sábado, janeiro 25, 2014

Há uma coisa que vou sentir falta

Não estou aqui há um mês e vou sentir falta disto: Este pessoal não engonha. Não sei como serão nas relações pessoais, mas aí imagino que sejam complicados, - se numa conversa na paragem do autocarro são capazes de falar do que fizeram durante a vida toda e relatar o que andam a fazer no trabalho a desconhecidos, calculo que com um nível tão elevado de conversa de encher-chouriços demorem anos até realmente falarem de coisas sérias - mas no trabalho, não perdem tempo. Há um contacto para fazer? faz-se. Precisas de ajuda para fazer qualquer coisa? Aparece. Queres conhecer o sítio onde trabalham? na boa. Precisas de conhecer o director da empresa com quem trabalham há 2 dias? Toma o contacto. Coisas que em Portugal demoram dias ou semanas e que geralmente se resolvem com um telefonema.

A um tuga basta isto

Um tuga tem saudades de coisas simples, como pedir uma bica e ouvir o barulho da máquina do café, duas doses bate bate encaixa torce liga vapor.
Em Portugal as coisas são mais simples.

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Os carros

Dizer que os carros são grandes é um eufemismo. Ontem encontrei um SUV e um carro europeu lado a lado e pude ver que o carro europeu cabe debaixo da roda do SUV.
Qualquer ida ao supermercado é uma oportunidade de ficar debaixo de uma pickup ou de um SUV. Mas percebe-se o porquê disto: novamente, o tamanho do país. Se vou sair de casa, vou demorar pelo menos 20 minutos a chegar a qualquer lado, por isso é bom que vá em algo o mais parecido possível com a minha sala de estar.

sábado, janeiro 18, 2014

São malucos os americanos I

o código é 722849.
Estes gajos metem cadeados no frigorífico mas deixam a porta de contraplacado destrancada dia e noite. No outro dia um gajo entrou na casa errada por engano.

Os refills

Pensava que já tinha percebido o domínio dos refills. Pede uma bebida, dão-te um copo vazio, podes escolher o tamanho do copo mas podes ir encher o copo as vezes que entenderes. A escolha do copo passa por prever que peso se consegue levar para fora ou a distância que vai ser percorrida até comprar um novo copo noutro sítio ( no outro dia entrei num supermercado que oferece café enquanto se anda lá dentro ), um americano está sempre a beber qualquer coisa.
Quando não temos acesso à máquina das bebidas, provavelmente não há refill. Mas ontem estava a comer numa esplanada e lá vem a empregada perguntar-me se não quero refill, o que me faria beber um litro de coca-cola só até à hora de almoço.

os adjectivos

Em Portugal um tipo vai a um restaurante e se estiver a pagar um pouco mais do que o habitual, leva com adjectivos extra na comida. As batatas deixam de ser assadas e passam a ser "pequenas batatas assadas", o pargo deixa de ser pargo e passa a "pargo fresco" e assim por diante. Aqui na Califórnia os adjectivos ficam à porta e fixam-se na quantidade. Se pedir uma coca-cola, perguntam-me que quantidade. Repara, não dizem "grande" ou "gigassauranorme", mas enumeram as quantidades, 1/4 de litro, 1/2 litro, 2/3 litro. A mesma coisa para o bife. Bem passado, mal passado, 1/4 de kg, 1/2 kg, 2kg, etc. Depois as calorias. Os menus dos restaurantes têm as calorias uma a uma. E os Carbs.
Pedir um bife parece um enunciado de uma troca de moles da aula de quimica. E demora tanto como uma.

quinta-feira, janeiro 16, 2014

A ganância

O americano gosta de acreditar que o trabalho é bom porque lhe trará tudo. O tuga já percebeu há muito que nada garante nada. Nesse aspecto já estamos muito à frente no tempo. Só ainda não implementámos um sistema porreiro para quem gosta de trabalhar. O americano faz cumprir os seus objectivos. Nós seguimos o que o fado ditou. Eles têm um país gigante que resolveram preencher por ordem directa de Deus. Nós vamos ocupando o nosso à bruta.

terça-feira, janeiro 14, 2014

A estrada

Não consigo dizer o que veio primeiro, se o copo se o carro. Todos os carros têm um cup-holder gigante, que forçaria todas as dimensões do carro a aumentar de forma a conter o copo num holder confortável. Pode ter acontecido o inverso também: Os carros gigantes convidam a trazer quantidades maiores de bebida, que com o tempo foram aumentando mais e mais, derivado das distâncias a percorrer.

segunda-feira, janeiro 13, 2014

Barroco americano

A experiência visual americana é fácil de identificar. O design gráfico, de produto, industrial, automóvel, tem um feeling que eu costumo descrever como "barroco". O americano tem alergia ao vazio, tudo tem de ter montes de ornamentos e adjectivos. Ainda não percebi de onde é que isto vem, mas até voltar a Portugal resolvo esta teoria que tem anos.

quinta-feira, janeiro 09, 2014

Zombieland

Os filmes de Zombies tinham de ser americanos porque os americanos é que criaram os zombies originais: a sociedade paralela que funciona em turnos, à noite.
Devido à abertura de supermercados à noite, as pessoas que trabalham à noite precisam de serviços à noite e como tal abriram mais serviços à noite. Um passeio por um supermercado aberto às duas da manhã é pós-apocalipticamente só. Devem andar 10 pessoas a arrastar-se pelos corredores, mais 2 funcionários a tomar conta de um supermercado inteiro, por isso o medo é real, um dos clientes pode ser um dos malucos das armas, pode ter uma virose qualquer, posso ter de me encher de genéricos na secção dos medicamentos.

quarta-feira, janeiro 08, 2014

As pessoas: Dimensões

Estou num condomínio normal, numa terra que pode ser vista como a versão local de Leiria. Logo, não há muitas personagens bizarras, que como é habitual estão reservadas às cidades grandes.
Ainda não fui a uma discoteca, mas pelo tamanho do tipo que faz a manutenção do apartamento, estimo que um porteiro esteja entre o incrível Hulk e um cacilheiro.
O americano médio WASP - que é raro de encontrar - é grande mas de cara pequena. Há-os de feições John-Fordescas, prontos a entrar num casting a qualquer momento. Ontem vi sósias da Julianne Moore e do Henry Fonda, por exemplo.

terça-feira, janeiro 07, 2014

O Tempo

Estudos indicam que estudos indicam que há uma propensão genética, mais que cultural, para começar as conversas por falar do tempo. O Inverno por aqui é Outono durante o dia e Inverno à noite. Não há chuva e as pessoas agem de acordo com esta combinação: dizem bom dia na fila da supermercado e desejam um dia bom.

California Uber Alles

Directamente e fora de horas, estou na Califórnia. Uma espécie de Estremadura infinita onde se conseguem encontrar campinos, esquimós e mexicanos. O melting pot que falaram na escola é real e não é fusão, é confusão. Há mais chineses que pretos, há paquistaneses em todo o lado e hoje de manhã trouxe as notícias marroquinas locais para casa. Posso escolher a que nacionalidade pertencer. As estradas levam a mais estradas, as lojas a mais lojas, há 3 metros de carro por pessoa e 12 lugares de parque de estacionamento por carro. Há mais lojas que dólares, há menos motas que bicicletas e é tudo plano até perder de vista. Para lá da curva há dragões, mas são sempre iguais, mais sinais, mais passadeiras, mais lojas e mais lojas. A Califórnia é um cenário gigante.

quarta-feira, janeiro 01, 2014

Ideas frescas no primeiro dia do ano



Acordei com isto, a ressaca foi fraca.
O Miguel Angelo tem o mesmo problema da Ana Malhoa ao nível de saber gerir uma ideia. Ele sabe que tem qualquer coisa para dizer e sabe como chegar lá, mas nunca consegue. Esta música é um bom exemplo: está lá tudo, mas não vale nada.
Bom Ano.