quinta-feira, agosto 28, 2014

Daqui desta Lisboa

Aqui nada se passa: Cheguei das férias, os vizinhos ainda estão nelas, não ouço o cabrão do cão a descer as escadas a trote com as unhas nas tábuas do soalho e o rabo a bater no corrimão, a velha do andar de baixo não liga a televisão, o café está vazio e não serve caracóis até à meia noite, a pastelaria da esquina tem a esplanada improvisada cheia porque é a família do dono, putos indianos muitos e calados, na esquina de baixo a tasca vai servindo minis aos trolhas habituais, a papelaria que vive à conta da escola já abriu mas está sempre vazia. Porta sim porta não as igrejas envagelicas estão todas a trabalhar a meio gás, os 2 sem abrigo habituais passam o dia entre 2 carros. A Penha de França é uma zona insegura, dizem os velhos e contraria a senhoria, mas tirando facadas alheias, ainda não vi nada.

terça-feira, agosto 26, 2014

Habitats naturais e não-naturais, um estudo

Gente esfaqueada num concerto do Anselmo Ralph, gente que leva porrada no Vasco da Gama, um tipo esfaqueado no Cais do Sodré e praias inabitáveis no Algarve: A culpa é da crise.
As cidades evoluem no sentido de oferecer o melhor relação habitat/habitante possível. Contrariar as forças da natureza que definiram a preciosa função de sítios com a Amadora, o Cacém, o Cais do Sodré ou da Lapa é desafiar leis intemporais.
Em Lisboa tenta-se fazer do Cais do Sodré um sítio in. Eventualmente acontecerá, mas até lá, esperam-se sacrifícios regulares de inocentes. Este esfaqueamento da semana passada chegou às notícias porque implicou um tipo com dentição completa, licenciado, viajado, de-boas-famílias. No entanto, há esfaqueamentos no Cais do Sodré todas as semanas. Mas é só de pessoal xunga que, como eu, viajaram bem menos, chamam-se Santos ou Silva e assim levam a facada anonimamente, nunca entrando na conversa de café lounge vintage sobre insegurança. Este fenómeno cognitivo pode encontrar-se também em pessoas que usam frases como "eu até gosto de andar de transportes públicos" e "Não ando no Martim Moniz porque tenho medo de ser roubado".
Anselmo Ralph e concertos no geral: O porquê dos betos gostarem de kizomba e afins pode ser analisada de muitas formas mas a resposta é simples: kizomba nunca foi bom, é só falta de gosto. Misturem os fans reais do Anselmo com os que o ouvem à laia de very-tipical e há um choque de culturas. Afinal kizomba, como todos os géneros de musica, é uma coisa séria. Perguntem aos fans da Ana Malhoa.
A culpa disto tudo, como sempre, também é do Passos. Indo ao bolso de todos, meteu os novos ricos a pensarem que têm de ir a eventos gratuitos onde normalmente não iriam nem pagos para isso. Fiquem em casa. Por todos.

P.S. no surf observa-se o mesmo fenómeno: normalmente vendido como actividade zen e boa-onda, nesse floreado não entram os Locals. Os Locals provam que há uma zona natural para um tipo estar. Se estás a surfar numa praia que não é tua, podes ser só um palhaço do caralho que não sai da frente, ó filha da puta.

quinta-feira, agosto 21, 2014

Tudo menos putas

Alguém devia explicar ao gerente que a) o pessoal cá fecha os olhos à prostituição b) Entre os clientes habituais há GNR's.

A lista de actividades, em detalhe:

Shower Dance
Shower Mix
Show Vip
Erotic Bed
Table Dance
Private Dance
Private Touch

Pelo imobilismo - Uma praia é areia e água

Como quase todos os portugueses, só faço férias de praia. Sou meio masoquista e gosto de confusão, por isso tiro-as sempre em Agosto. E meto-me na boca do lobo, no Algarve. Não é que voluntariamente goste de confusão, apenas gosto de sítios que são sobre-populados durante 3 meses do ano. Essa falta de gosto - podia gostar de ir para o Gerês ou para o Alentejo - limita-se à escolha da zona onde fico. Não implica abdicar de mais nada, especialmente da combinação que vim cá à procura: Areia e água.

Mas as praias estão cheias de gente que não gosta de areia e água. Fazem de tudo para se abstrairem desse facto. Estou deitado na areia, em frente à água e vejo-os, sempre ocupados. Jogam à bola como se não houvesse amanhã, jogam paddle, jogam à bola dentro de água, jogam volley, jogam ao kames, jogam à sueca, jogam no telemóvel, ocupam a praia toda nisto, só actividades, tudo para esquecer a areia e a água, e eu deitado na areia em frente à água, a desviar-me do kames e do sol. Numa boa parte dos sítios, as actividades já não chegam e surgem empresas para ajudar a passar este bocado de tempo que nunca mais acaba. Massagens na praia. Gaivotas para alugar. Banana-boats. Escolas de Surf.
Até que em desespero, alguns tentam salvar toda a praia deste destino e metem musica ambiente na praia. Alto. Para todos irem para casa mais cedo e poderem descansar do inferno que tudo aquilo podia ser, só areia e água.



Notas laterais sobre customer service: Portugal oferece cada vez mais turismo de merda. Criado por labregos para labregos e todos os que não se acham labregos - eu - mas que têm de levar com ele.
O Turismo de Merda está em todo o lado onde há uma boa quantidade de turistas. Sobrepõe-se à realidade local, atropela-a, desvirtua-a, tira-lhe tudo o que é genuino, mete-lhe um galo de barcelos no cu e mata tudo o que há de genuíno num local. Eu que sou um purista, gosto de genuíno. Bom ou mau. Mas no entanto, e sem pagar nem pedir, oferecem-me:

Praias com musica lounge = merda.
Praias com techno = merda.
Praias com WIFI = merda.
Praias com DJ's = merda.
Praias que estão a 2 km de distância com sunset parties manhosas com o volume tão alto que se ouve como se estivesse lá = merda.
Artesanato com tampas de Nescafé = merda.
Bancas de Tererés = merda.
Bancas de caricaturas de merda = merda.
Preços inflacionados só porque sim = merda.
Restaurantes habituados a servir camones uma só vez e que por isso sabem que podem marimbar-se no que fazem = merda.

quarta-feira, agosto 20, 2014

Nada de novo

Passam-se os dias a subir e descer escadas e escarpas onde não há escadas, comem-se gelados e comparam-se níveis de queimadura solar. Encho o bandulho de gelados. Faço o possível para ter uma cama ao lado da mesa do almoço, dispenso a powernap mas aprovo a sesta depois de almoço. No Algarve não se passa nada, os camones validam todo o tipo de actividades portuguesas como sempre, especialmente aquelas que poucos portugueses praticam, paellas touradas e passeios de barco, sardinhas a 10 euros, mackerel e chourizo. Há mais pubs britanicos em Albufeira que em Lisboa, os putos alemães atiram-se de 15 metros para a água como quem come um prego. Os Algarvios não dizem nada de novo, já sabem o que vem a seguir, 9 meses de marasmo a bolos de alfarroba e medronho. Não se aprende nada.

segunda-feira, agosto 18, 2014

Cascais no Algarve

Os maior perigo daqueles posts com títulos como "os 10 melhores sítios na costa vicentina" é que vão parar ao desktop de um beto. Os betos propagam-se como gafanhotos, tanto em termos bíblicos como em termos de descendência, e usam isso para ocupar terras inteiras.
Aconteceu aqui ao pé. Se em Lisboa os betos são atraídos por pastelarias caras e pelo santinni, no Algarve são atraídos pelo marisco e pelos restaurantes decentes. Como no Algarve há poucos, ao chegarmos a um restaurante minimamente decente, ele já estará a ser dizimado por betos. Armados de pólos às cores e pérolas nas orelhas, devoram tudo. Depois, fazem ninho. As proles, pequenos betos alvos e aprumadinhos pululam por todo o lado às dezenas. Ocupam parques de estacionamento, tratam-se por você, chamam-se Caetano e Constança. Uma praga.

sábado, agosto 16, 2014

Mudanças

Próximos tempos, as emissões continuam do Algarve. Esperam-se posts sobre esplanadas mal servidas, praias com musica de fundo, praias ao longe com musica de fundo, pessoas que ainda não têm tatuagens e técnicas de estacionamento avançadas. Nada de novo, e é assim que se querem as férias: nada de novo.

quinta-feira, agosto 07, 2014

a sharktankização

Quando era puto, as notícias sobre economia eram uma nota no fim do telejornal. Abrir noticiários a falar de bancos e taxas de juro era muito improvável. Passados 20 anos, o telejornal só fala de economia e daquele tipo em Cinfães que tem uma couve com 2 metros de altura. As mentalidades vão mudando, aos poucos, com o tempo.
Quando era puto, não havia empreendedores. Passados estes anos, estão em todo o lado. E o tipo da couve de 2 metros agora vê o Shark Tank e acha que vai poder pedir uma patente sobre o uso da couve e licenciar fotos da couve a 3ºs, recebendo royalties mas oferencendo 5% do revenue gerado por estes, depois de conseguir um bom canal de distribuição e investir 200K em televendas.
Daqui a 20 anos,  já ninguém dirá nada sobre isto.

sábado, agosto 02, 2014

A Torremolinização de Lisboa

A mecanica é simples: uma cidade tem algo com especial interesse para visitar. Facilitam-se as formas de a visitar. Criam-se estruturas para apoiar quem a visita. Ignora-se tudo o resto.

Passados uns anos, temos Torremolinos.

Lisboa está a caminho da sua torremolinização. A Baixa está quase, o Bairro também, a Bica pouco falta, Alfama para lá caminha. Hostels, hoteis, Airbnb's, lojas, cafés, os negócios vintage-fáceis estão a tomar conta destas zonas e quem ainda lá vive, já deixou de viver num bairro há muito.

Aqui ao pé de Lisboa, em Óbidos, está a acontecer o mesmo. Não é pior porque Óbidos não é tão espetacular para viver como Lisboa. É frio e não se pode estacionar o carro à porta de casa. Mas enche-se de lojas, de ginja, de restaurantes e habitantes, só velhos, são cada vez menos. Até que aquilo, um dia destes, é só um centro comercial a céu aberto. É uma vila na mesma, então?

sexta-feira, agosto 01, 2014

Lista de temas impossíveis na internet ( actualização )

Além de todos os temas do universo, há temas especiais que são famosos por serem impossíveis de abordar e encontrar uma oposição saudável na internet. Encetar uma conversa online sobre algum dos temas abaixo serve de revelador: descobrir-se-ão trolls, burros, anormais burgessos e aventesmas debaixo de uma camada de sais de prata.

  • Gatinhos
  • Anjos
  • Golfinhos
  • Vegetarianismo
  • Monsanto
  • PSD
  • Funcionários públicos
  • Estágios não-remunerados
  • Religião ( todas )
  • Israel
  • Gaza
  • Amamentação