segunda-feira, setembro 14, 2015

Aquele carrinho de bebé na escada: um estudo

Todos já observaram este fenómeno: aquele carrinho de bebé nas escadas.
Quero explicar as origens do carrinho de bebé nas escadas do ponto de vista comportamental, demonstrar a sua universalidade e por que motivo este fenómeno não acabará nunca.

Historicamente, aquele carrinho de bebé nas escadas surge da escassez de espaço nos apartamentos das grandes cidades. Quase auto-justificado e por meio de empatia dos vizinhos também eles com apartamentos exíguos, este fenómeno propagou-se rapidamente.
Depois, surge a gentrificação deste fenómeno: Os carrinhos de bebé passam a ser separados por classes e há uma clivagem clara entre carrinhos de bebé clássicos - os ditos "normais" - e os novos carrinhos gentifricados, cujo ratio de espaço ocupado/espaço util só é superado pelo ser ratio de preço/conforto. Enormes conchas desmontáveis são colocadas sobre imponentes e apetecíveis chassis, que se revelariam impossíveis de colocar numa escada - e em carros gama baixa - caso isso fosse necessário de alguma forma. Afinal, estes pertencem a famílias de maiores posses e com acesso a apartamentos maiores.
Surge finalmente a austeridade, conceito vendido universalmente que ofereceu a todas as classes uma permissão e até um convite a abraçar a escassez material como sua, independentemente da sua condição social. Englobando esse movimento, surge a minha vizinha de baixo, com o seu carrinho de bebé na escada.
Socialmente beta mas vendo-se cercada pela austeridade, abraça-a, tomando para si o espaço da escada, como um manifesto popular. A escada, agora espaço de descontentamento, abriga a contradição: A burguesa das plantas em vasos neo-hippies é também a que agora dispõe aquele carrinho propositadamente low-end, provavelmente herdado de uma prima, como bilhete de entrada para uma humildade involuntária, forçada e artificial, no lumpen. Ocupa a escada como quem ocupa wall street, dirá. Mas não: Aquele carrinho na escada foi, é e será apenas um despeito ao espaço físico e mental alheio, que só quer sair de casa placidamente, sem tropeçar em tralha dos outros.

2 comentários:

SJ disse...

Mas ninguém o rouba???
(estes reCaptcha são muita difíceis, quase que tive um esgotamento com este das flores)

Prezado disse...

Ninguém rouba carrinhos de bebé. É como bater em grávidas.