quarta-feira, junho 25, 2014

O melhor do Bairro

O Mercado da Ribeira que eu conheço mete esta história: Numa noite memorável de copos, um tipo muito bêbado senta-se à minha frente num tasco de muito má fama e diz onde nasceu, a meio da verborreia sem sentido. Ali ao lado, no mercado da ribeira, parido entre duas bancas do peixe, há muito. Passados 60 anos, a vida passava-se toda ainda em volta do mercado da ribeira. Se o homem ainda é vivo, está ali à volta do mercado. Mas largou a bebida e meteu-se na coca.
Porque depois de ver o que fizeram ao mercado, é a unica forma de lidar com a realidade.
O mercado da ribeira está feito uma espécie de gare com restaurantes indiferenciados, um refeitório de luxo. Ir ao mercado da ribeira na esperança de comer coisas diferentes seria o mais natural. Como ir ao circo. A piada do circo é ser universal. Há de tudo. Quem não gosta de palhaços, vê os leões, quem não gosta de animais, vê o ilusionista, quem já conhece os truques, vê as trapezistas. Quem não gosta de circo, vai a restaurantes a sério.
O mercado é um circo só de palhaços. Eu com a mania traduzo para americano: é um one-trick-poney. Na senda do neo-vintage-neo-cool-neo-retro, meteram todos os números de circo do mesmo género, os tascos-do-bairro, a mercearia-do-bairro, o-melhor-bolo-do-mundo, a peixaria-ideal, os enlatados-portugal no mesmo espaço, normalizando tudo. Todos são tradicionais, todos adjectivam os menus, todos misturam abacate com salmão braseado e amendoins. Sim, já percebi: há coisas que parece que não casam mas para quem sabe apreciar, casam. Eu sei, eu sou um brutamontes, não sei apreciar pêra com farinheira. E bolo do caco. O caralho do bolo do caco. Com hamburguers. E farinheira. E sumos detox. E farinheira. E mais hamburgers.
Tudo novo mas a imitar velho mas com pratos novos mas com coisas antigas. No meio de tanto defeito, tentei encontrar outro motivo para tudo estar mal que não fosse eu. Acho que é a falta de genuinidade.

Comi bem. Nunca mais lá volto.

4 comentários:

Banana disse...

Ora cá está, alguém que me percebe.

Carla R. disse...


Sou emigrante e ainda não fui a Lisboa depois da abertura do mercado da ribeira Mas tendo em conta todas as "melhorias" a que tenho assistido ultimamente em Lisboa, realmente temia algo podre.

E pelos vistos, não és o unico a não gostar desta moda :
http://pedras14.wordpress.com/2014/06/24/mercado-da-ribeira-a-convivencia-do-real-e-do-simulacro/

Carla R. disse...


Sou emigrante e ainda não fui a Lisboa depois da abertura do mercado da ribeira Mas tendo em conta todas as "melhorias" a que tenho assistido ultimamente em Lisboa, realmente temia algo podre.

E pelos vistos, não és o unico a não gostar desta moda :
http://pedras14.wordpress.com/2014/06/24/mercado-da-ribeira-a-convivencia-do-real-e-do-simulacro/

disse...

E abarrotar, não?
Ainda não conheço...mas também pêra com farinheira não me atrai. Abacate, só se for guacamole! Adoro!!! :)