terça-feira, julho 01, 2014

Preciso de água das pedras para o plágio

O pessoal gosta de chamar plágio a qualquer coisa e nomeadamente a tudo o que seja parecido com outra coisa ( tudo ). De tempos a tempos, acontece algo raro: a acusação de plágio ultrapassa o meio onde nasceu, a escrita, o design, a ilustração, a arte, e entra na conversa de café. Mais raramente, depois de entrar na conversa de café, pede-se a responsabilização de alguém. O que em Portugal, é um caso sério.
Não temos por hábito fazer isso às pessoas. Podem ser nossos primos, amigos, vizinhos, ex-amantes, guarda-freios, vendedores de cautelas, deputados ou anónimos ( mas amigos de um vizinho que ainda é primo de um deputado ). É o que dá sermos poucos e pouco dados a modernismo.
Tirando a Clara Pinto Correia, não me lembro de nenhum caso de plágio a chegar à conversa de café. Mas no canto dos cafés na agência, havia conversas de plágio.

O Plágio real é raro. Já a sensação de me estarem a enganar é vulgar. A acusação de plágio funciona nos mesmos moldes da acusação - aqui usa-se sempre o Picasso, já vão ver - de que até o meu puto de 5 anos pinta o mesmo que o Picasso. Sim, também qualquer pessoa copia qualquer coisa já feita. Mas é o contexto e a intenção em que o executa que faz a diferença. 
Pois, a porra das ilustrações das garrafas Castello é inspirada num autor conhecido. Mas é isso, inspirada, trabalhada sobre, iterada. O que é, mais coisa menos coisa, voluntaria ou involuntariamente, como a criativadade e o mundo andam para a frente. A ver o que os outros fazem, mas melhor.
O que está ali é outro trabalho, outra intenção. Trabalhada. Mas pouco.
Para sermos correctos, a ideia foi roubada.
E como se sabe, vergonha é roubar e ser apanhado.

2 comentários:

Fuschia disse...

Concordo contigo. Quando ouvi falar em plágio pensei "lá vêm as flores de estufa do costume". afinal de contas nenhum artista / designer / ilustrador é impermeável e nem ganha nada em ser (senão provavelmente nem o próprio picasso teria passado por tantas fases no seu trabalho).

Mas quando vi a comparação das ilustrações do autor original e as garrafas da castello o plágio é gritante. E irrita-me ainda mais por outro motivo: porque não tentaram uma parceria com o autor? gastavam dinheiro? achavam que ninguém ia dar conta que usaram os originais como base de desenho?

bom olha, desta vez saiu-lhes mais caro.

Prezado disse...

Ainda estou para ver se lhes sai caro. O pessoal tem memória muito fraca e tudo passa. Apesar da exposição na net, ainda estamos a falar de Design em Portugal. Um tema que ainda não diz nada a ninguém fora da profissão a maior parte do tempo. Já o plágio, irrita mais gente, a começar pelo plagiado. Se processam? duvído. Apesar do caso ser gritante.

O argumento da parceria com o autor ( que defendo sempre ), já aconteceu comigo. Tentaram uma parceria com o autor e o autor era caro/estava indisponível, então contratam alguém no mesmo estilo mas mais barato. Foi o que estes fizeram.

A opinião do público em geral? isso não tem peso nenhum.