sábado, maio 02, 2015

Não posso continuar com isto

Acordei Sábado passado com o despertador. Levantei-me, estiquei-me, olhei pela janela as traseiras dos prédios vizinhos a fazer de aldeia, com limoeiros e estendais, vi o tempo e fiz 10 flexões. Comi um pequeno almoço substancial: cereais, sumo, café, ovos mexidos. Fiz a cama. Meti os sapatos de corrida, liguei o iPod e fui correr.
Subi para o alto de São João, meti-me lá em 3 minutos. A descer em direcção a Santa Apolónia, encontrei mais gente a correr, ultrapassei todos. Eram candidatos a presidentes da república. Dizem que dá azar.
Pisei um pombo inocente. Os ossos estalaram debaixo do sapato, derrapei como quem pisa um figo maduro cheio de nozes, mas safei-me: não fiquei debaixo de um carro - corro sempre no meio da estrada - e o pombo, agora repasto para condores dos andes, não sofreu. Cheguei ao Tejo. Paro para beber água mais à frente, ao pé da esquadra, enquanto vejo os candidatos à presidência a passar, agora um grupo maior. Atrás vão alguns reporteres e um carro vassoura. Devem seguir pelo rio, onde é mais plano, calculei. Resolvo subir Alfama e dar a volta ao castelo, passando pelas portas do sol, o chapitô, a Graça e a Senhora do Monte. Desço pela Baixa, subo o Chiado. Vou ultrapassá-los descendo pelo Adamastor, enquanto passam no Cais do Sodré. Quando cheguei à rua de São Paulo olhei para trás: Já são um grupo que deixo de conseguir contar. São muitos mais candidatos, já enchem a rua de lado a lado, já há reporteres recolhidos no carro vassoura, pisam-se restos de camaras de video e telemóveis, há algumas crianças a serem distribuidas para beijar, deitam-nas à berma, há vieiras com espuma de caril na berma também e pisei outro pombo. A cabeça abriu-se como uma ameixa de Santo António debaixo do meu pé, sem dizer um piu. Acelerei o passo até ao largo de Santos, mas só depois da D. Carlos I é que dou com pelo menos mais 3 multidões de apoiantes aos candidatos, agrupados por chusma, lobby e monopólio, hurros e vivas, cartelas, sms's e bidons de sangue de virgens para ofertar. Empurrei-os todos para o Tejo, afinal só vinha para correr em paz e já bastavam os candidatos. A custo lá se afogaram, nisto pisei um pombo terceiro, e é por isto que desisti de fazer corrida.

1 comentário:

Reflexos... disse...

Quase que corri ao ler a descrição :P

Muito bom!