terça-feira, maio 19, 2009

Entrevista

Fui ver marionetas. Para adultos. Tinha muita curiosidade de ver.
Não estava à espera dos Marretas, mas não estava à espera de adormecer.
Fiz duas coisas enquanto me debatia com as minhas pálpebras a cair como chumbo: apreciei a destreza e disciplina da artista, sozinha no palco, a fazer 3 personagens independentes impecavelmente. E descobri como ela não gosta de publico, porque embrulhou o que faz na embalagem mais lixadamente intelectual que já vi. Mas segui-a. Queria algumas respostas e ela deixou-me entrevistá-la:

Prezado - Bom, qual foi o critério para a escolha da banda sonora, que é o ponto de partida da peça? um momento fulcral, como sabe.
Artista - Bem, eu tinha escolhido o "Shinny happy people" dos R.E.M., mas mostrei a algumas pessoas e algumas ficaram felizes. Desisti depois disso.
P. - O processo de selecção foi comprometido por essa reacção positiva?
A. - Foi. De modo algum quero ver alguém bem disposto num espectáculo meu. Ao fim de muita busca, encontrei algo no registo minimal-industrial, algo capaz de deixar o João Baião cabisbaixo. Insisti que os primeiros 15 minutos da peça fossem preenchidos por esse som apenas.
P. - Quanto à escolha de cenários: a penumbra é ainda a única forma de demonstrar o desapego ao material?
A. - Sem dúvida. Tentei aplicar algum conteúdo, mas não senti a necessidade de passar informação desnecessária ao público final. Os meus amigos já percebiam. Ainda meti 2 plintos pretos! Acho que com essa vendi a alma ao diabo. Detesto ser demasiado figurativa, não deixar espaço ao pensamento.
P. - É verdade que teve de mudar o canhão da fechadura, depois de ter usado os dois plintos pretos?
A. - É. As pessoas não estavam preparadas para a denuncia social. Os plintos eram ligeiramente diferentes, afinal.
P. - Narrativamente falando, teve necessidade de contar uma história?
A. - Não. Fragmentos soltos bastam. Um bocado como acontece aqui no blog, quando escreve uma seria de frases curtíssimas e desconexas, onde só os amigos próximos que o acompanharam nesse episódio especifico é que percebem de que fala.
P. - Está a criticar-me o meu blog?
A. - Bom, é altura de denunciar a sua berrante falta de talento, teimosamente disfarçada pelo minimalismo formal dos conteúdos, uma espécie de ficção de cordel paupérrima, salpicada de detalhes que não trazem nada à história, simples fumo e espelhos.
P. - Chama-se Estética. É apenas mais uma corrente, minha cara.
A. - Claro. Os erros ortográficos e de gramática serão estética também. Punk, se calhar. É sabido que os blogs são exercícios puramente narcisicos, mas o seu é um novo patamar, um referêncial. Um psicólogo pagaria para o estudar...
P. - irra, ca besta... Para terminar, onde vai a tourné a seguir?
A. - Bom, pensei em ir ao centro do país, mas ouvi que lá não há quem me entenda, como você. Salto directamente para o Porto, estarei lá 10 minutos na rodoviária e depois vou para Paris. Lá tem o grosso dos leitores do seu blog, sabe.
P. - Claro, pessoal culto e de fino trato. Isso já sabia, minha cara.

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