segunda-feira, abril 11, 2011

Matéria pura

Ontem estive a hipnotizar sobrinhas por meio de desenhos e resolvi partilhar esta técnica que desenvolvo há anos - Palo Alto tenta, o MIT copia, o Prezado faz - com a ajuda de sobrinhos emprestados. O processo desenrola-se em 2 campos simultâneos, como uma performance pense-se acto continuo: materializa-se um desenho, sendo o desenhar tomado pelo sujeito como um processo mágico, complementado com a corporalidade. Voz, corpo, desenho. Completam-se. O objectivo: hipnotizar uma sobrinha(o) - sobrinhas tem mais piada - de modo a que o demónio interior que a impede de estar sentada quieta a comer desapareça momentaneamente. Assim sendo, o processo aparentemente simples é:
Declara-se: "vou desenhar um porco.". esta frase deve ser proferida solenemente como quem dita um discurso sobre a influência do FMI na política portuguesa actual.
  • Desenha-se um porco. Não é importante a qualidade formal.
  • Apresenta-se o desenho.
  • Volta-se a pegar no desenho, nomeia-se o porco. Os nomes devem ser tradicionais portugueses. A reter: Alberto. Horácio. Anibal. Fernando. Artur. Alfredo. Andrade.
  • Escreve-se o nome do porco por baixo do porco.
  • Declara-se "vou desenhar-lhe um prato com batatas.".
  • Desenha-se um prato com batatas.
Nesta altura, a paciente está a rir-se perante tanta mas tão simples estupidez e a hipnose está efectuada.
Explico o processo cognitivo, Piaget roi-te palhaço andaste a escrever merda durante decadas e isto com desenhos de porcos tava tudo resolvido grunho. A palavra "porco", ao proferida, instala o gene do duplo-sentido nos cérebros incautos: Porco - sujo e Porco - animal, os dois conceitos chocam-se, entrando o cérebro em confusão e incerteza. Instalada a dúvida, aumenta-se a parvoice com seriedade, fazendo o desenho numa postura grave, cavaquiana. Findo isto, volta-se então a inserir a parvoice, oferecendo um nome austero, simples, mas reconhecido como sendo impróprio para um porco - animal. Finalmente, acrescenta-se um prato de batatas. As batatas conferem acção - inesperada - ao desenho, criando um tensão anímica elevada. Neste momento o cérebro tenro e incauto do sujeito rebola de incerteza, não conseguindo processar o que poderá ou não acontecer, debatendo-se com questões que não está habituado a debater, como por exemplo, como é possível comer de garfo e faca com chispes em vez de mãos. Todo este processo cognitivo faz o sujeito colocar em causa toda uma série de convenções, culminando na mais importante: Será possível haver gente assim tão parva e com esta idade?

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