Prometeram-me Karaoke. Eu não sou daqueles que fica feliz com a ideia porque o primeiro pensamento que tenho é que tenho de ir ao castigo. Mas isso é o primeiro pensamento.
Depois penso que a bebida resolve esse problema.
Depois lembro-me que não bebo.
Depois penso que posso só acompanhar e que no fundo o karaoke é um ritual de renovação de confiança: eu confio momentaneamente aos meus semelhantes mais proximos uma das maiores forças e fragilidades do ser humano, o poder da sua voz. Todos passaremos este ritual em sofrimento partilhado, uns mais que outros, mas no fim essa confiança é reafirmada, todos somos iguais na nossa fragilidade de cantar sem preparação, sem expectativas, sem saber.
Grande engano o meu. Isso era a minha ideia de karaoke. O karaoke dos desafinados. De quem já fez karaoke com muitos, poucos, sobrio e ébrio. Com máquina ou só com um cabo de vassoura.
Mas não: O karaoke foi todo feito de musicas educadas. Encontrei o karaoke perfeito. Mais do que cantar, eles querem cantar bem. Mostrar que sabem as letras. Mostrar que conseguem o sotaque. A musica mal se ouvia. Não tive Celine Dion nem Marco Paulo. Não tive duetos internacionais dos anos 80.
Felizmente continuavam a não conseguir ser afinados, senão tinha adormecido às oito.
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