terça-feira, dezembro 31, 2013

Sube lo carburador



Se a Ana Malhoa tivesse menos piercings diriam que se reinventou, no telejornal. Mas como é um fenómeno global a uma escala local, essa ideia só ressoa na margem sul. 
Esta miuda é quase um génio do marketing. Quase, porque nunca acerta no cérebro reptiliano de ninguém, ficando-se por quase passar de raspão na tangente da superficie de uma ideia que podia ter potencial, eventualmente.
A Ana tem um problema que é tipicamente tuga: Quer fazer tudo ao mesmo tempo.
Os tugas têm medo de perder o comboio. Os clientes de publicidade mais sofregos mostram isso. Perguntamos sobre quem é o target da campanha e muitas vezes são capazes de dizer "toda a gente", ou mais contidos, "todos entres os 8 e os 65 anos". O tuga faz isto porque tem medo. Vive com este medo de meter dinheiro  num projecto, numa ideia, num filme, num anuncio, e não agradar a toda a gente. Que alguém se ofenda. Mas na verdade, toda a gente esquece.
Por partes: A Ana tem um novo logotipo. Tem medo que não o entendam. Então faz o esquema logotipo-arvore-de-natal. Mete o logo no meio e umas frases à volta a explicar os seus significados ocultos. Porque não pode deixar de fora as pessoas que não percebem que aquilo é um logotipo do top gun redesenhado.
 a) Mapa gnosiolígico-tipográfico.
 Olhando para esta peça promocional, leio: Dios adelante, a musica da rua ana malhoa la makina code: de fiesta, musica do povo, talento de calle, "subelo". Vou deixar de fora o resto porque já tenho aqui alguns conceitos para traduzir. "Dios adelante", Ana Malhoa fala com o Nazareno em espanhol. É uma coisa que ela insiste. É algo que vem das musicas que ela curte ouvir em casa. Ela acha que dá uma onda "latina" à coisa, mas o Deus de Portugal não é este Deus presente. É o deus da lotaria e das desgraças, do Zé que partiu o pé quando foi à lenha e deus quiz que não fossem os dois pés.
"A musica da rua". Uma aproximação ao povo, ao popular, às raizes. Certo. "ANA MALHOA LA MAKINA", com o logo top gun no meio: aqui começam os problemas. Deus, a rua, e agora um logo militar. Máquina com "K", um erro ortográfico para destacar a makinicidade. "Code" com letra a armar ao Terminator de 98. "De fiesta", sim é música de festa. Sigo. "Música do Povo". Sim, a música da rua, escrita de outra forma, para confirmação do target. "talento de calle". Novamente, a importancia de ser popular, da rua, mas agora em espanhol, porque "calle" é das poucas palavras espanholas que sabemos traduzir bem. Plátano é banana.
Portanto o logotipo da Ana Malhoa lê-se: A Ana é uma makina de fiesta militar com deus nas ruas da américa latina. Isto é o mote para o teaser online.
Animação 3D de 2001 para intro, um crescendo de expectativa que desemboca numa guitarrinha cigana. Ana Malhoa costuma fazer isto: Já com o videoclip anterior, tinhamos 10 minutos de expectativa e o problema era semelhante: a expectativa crescia e crescia mas desembocava no mesmo, uma música da Ana Malhoa.
Ana Malhoa agarra-se ao terço de taxista, ao volante um grande carro. Novamente, aquele medo que alguém perca algum tipo de informação, logo, coloquem-se todos os logotipos possíveis ao longo do carro, capacete, fato, la makina parece um showcase de vinil autocolante. Mas, musica de rua? do povo? Estás num carro do racing, Ana. Ou é musica de street-racing?
Este visual entre o Drive e o Fast and Furious com gipsy kings expressa bem o conceito comum a todos os videoclips: A musica é de fusão, mas não é pan-cultural, é pan-conceptual. Ana Malhoa pega na ideia de um Melting-Pot, torna-o  primeiro latino, depois global, e depois cruza e mistura tudo o que pode no mínimo de tempo possível.

A Ana não é parva. Ela no fundo faz tudo o que um produtor de Hollywood faz, mas tudo mal.
Qualquer semelhança entre este processo criativo e o de qualquer agência de publicidade, é pura coincidência.

* análise só para designers que não gostam de perder tempo: o logo tem 3 tipos de fontes diferentes. Está tudo dito.

segunda-feira, dezembro 30, 2013

Lista para viagem

  1. Computador
  2. Drive externa
  3. Telemóvel
  4. Canivete Suíço
  5. iPod
  6. Caderno
  7. Canetas
  8. Estojo
  9. Livro
  10. Máquina fotográfica
  11. Cartões de Memória
  12. Tripé
  13. Tablet
  14. Rato
  15. Cabos

  16. Roupa

domingo, dezembro 29, 2013

Palavra do ano

Empreendedorismo.


Mas daquele a sério.
O a-sério nunca aparece nem nos jornais nem na televisão. Porque é chato. Como todos os assuntos sérios, não tem nada que aparecer nos telejornais. Ninguém quer saber nada assim a fundo pela televisão. Não dá para filmar. Imagina o Shark Tank mas com muitas contas pelo meio, com muitos termos em inglês, bastante trabalho e com cláusulas de confidencialidade. É uma seca.
O que aparece nos jornais, na TV da manhã, nos Telejornais, pode ser o empreendedorismo tipo Pan-Pipe-Moods, uma mescla de ideias manhosas já conhecidas e embrulhadas de uma forma incomum ( que já é comum, entretanto ). Geralmente mete ideias que nada têm de novo, comércio a retalho mascarado de modernaço-retro.
Hoje ia a passear ao pé da Sé e vejo umas portas antigas abertas, à frente duas menina pintalgavam de rosa um escadote de madeira. Cheguei-me à porta e espreitei para dentro: Ainda em arrumações, mas já perto de acabado, um café lounge com sortido de cadeiras, sofás em segunda mão e mesas de café velhas. Prateleiras com tralha velha, candeeiros "design" a rematar. A sério, não viram já que isto não é original, já é só um pastiche, um visual "café original"? Já chega de pobre pseudo-pobre. Façam pobre mesmo.
 Depois pode aparecer o empreendedorismo neo-salazarista, miudas que fazem cupcakes/pins/crafts em casa, fadas do lar modernaças porque usam óculos de massa grandes. A minha avó fazia isso. Mas porque precisava mesmo do dinheiro.
Pode aparecer tembém o empreendedorismo Crónica-de-Nárnia, um que é só baseado em fábulas com muitos zeros e muito sucesso mas que na verdade é uma história para boi dormir. Para complicar o trabalho que fiz este ano, há o pior empreendedorismo de todos, o daquele marmanjo do punho, de lá de cima do Norte, que é no fundo um taxista motivado. Muita garganta, muita cena, deviamos amarrar os gajos a um pinheiro e meter-lhe fogo, mas depois vai-se a ver e não faz ponta. Toda a gente sabe para que é que servem os qualquer-treta motivacionais. Foi assim que nasceu muita religião.

sexta-feira, dezembro 27, 2013

Odisseia: mini-série

Depois da Odisseia original, não a de Omero que essa é fraca comparada com a minha, o quotidiano passou a ser um mau descafeinado para mim, para o Pascoal e para o Januário. Hangover tuga sem droga, a Odisseia está dependente de uma boa dose de inconsciência, boa vontade e cerveja. Infelizmente o carro do Pascoal não anda alimentado a boa vontade, por isso ficámos por Lisboa, desta vez. A zona da Praça da Alegria estava por explorar há anos. É decadente, vive ainda na sombra do Parque Mayer e ainda não tem os preços do nível final de Odisseia ( elefante branco, hipopotamo e afins ).
Depois de vaguear à porta de não-sei-quantos bares duvidosos, escolhemos um que parecia ocupado e festivo.
Grave engano.
Estava vazio e era do tamanho de um maço de cigarros. Se enroscassem uma stripper no varão de pernas abertas, não cabia na sala. Imaginei uma pirueta a partir copos, bolas de espelhos, lasers, tudo. Fomos para o balcão. Depois de largar uma soma considerável por duas cervejas, reparei em duas coisas: as mesas tinham pratos com croquetes e pasteis de bacalhau em cima de guardanapos de papel e vinham duas putas na nossa direcção. Já estava a fazer as contas para responder o mais evasivo possível ao "pagas-me um copo" quando as duas senhoras se apresentaram. É interessante esta formalidade quando já tinham passado a zona de conforto há 30 cms atrás. Era suposto esta proximidade ser uma tentação. Mas Deus, eram feias. Feias como poucas mulheres que tenha visto até hoje. Ou se calhar era a distância a menos. O que se passou a seguir deve ter-se passado em 2 minutos, mas pareceram 20 minutos. Quando um gajo acha que já viu muita coisa no mundo - e isto é mesmo verdade e não é só uma frase muito repetida - acontece uma provação destas e um gajo percebe que é um menino na mesma. Não, meu caro, já foste a muita coisa muito decadente mas nunca tiveste decadente ao colo. Naqueles 2 minutos em que as senhoras faziam uma conversa que garantidamente só pode resultar em cama porque não podem resultar em mais nada, não é material para ensaios, teorias, mestrados ou workshops. Nem servem para esquecer. Naqueles 2 minutos o Pascoal parecia que tinha engolido um garfo e eu acabei com a cerveja toda. Ainda meninos, pedimos licença porque precisavamos de apanhar ar.
Os croquetes e pasteis de bacalhau estavam lá porque o barman fazia anos, já agora.

segunda-feira, dezembro 23, 2013

As melhores fotos de 2013 III

Voltei ao Algarve
Andei nas Belas Artes outra vez
Voltei ao Avante


Fui aos Açores

E aos Açores

E aos Açores
E aos States

E perdi o fascínio por carros pós-68
E aquilo é tudo grande.

domingo, dezembro 22, 2013

As melhores fotos de 2013 II

Recebi uma caneca brutalmente bonita

Não a vendi na feira da ladra.
Fui surfar para Aljezur.

Andei a passear por Lisboa

Depois voltei ao algarve

sábado, dezembro 21, 2013

As melhores fotos de 2013 I

Bom, não são as melhores, são as que me apetece.
O ano começou com esta trupe multicontinental.


Depois começaram as manifs

Não vou fazer a piada "e foi um purgatório"

Fui turista por Lisboa, como é hábito

Voltei a andar de metro, que tinha largado em favor do ferrari

Voltámos a ter manifs

As Catacumbas fecharam

E fui com o Pascoal e o Januário a Santarém

quarta-feira, dezembro 18, 2013

A insegurança pública

Esta semana assisti a uma tentativa de assalto. Já não presenciava um episódio assim há anos. Fruto do choque de quem assistiu a uma cena tão chocante, quero mostrar um estudo patrocinado pelo PPC, sobre segurança em Lisboa.
O estudo concluiu que a insegurança pública está dependente de vários factores e que é, mais do que um fenómeno social, um problema cognitivo. Veja a gravura a). ( clique para aumentar )

 
Mapa a) Mapa Prezadiano ( PPC ) de insegurança pública
Estão anotadas as zonas que, em absoluto, não são seguras em Lisboa. Por coincidencia são as zonas onde eu próprio não me sinto seguro a passar lá a pé à noite ou de dia caso leve uma máquina fotográfica. A Madragoa está ali mas só porque não curto aquela onda de locals manhosos a defender território. Eles não roubam nem nada, mas partem-me a boca toda se olhar na direcção deles a dizer isto.
Mas, isto é um mapa geográfico-cognitivo. Passo então ao mapa b).
Mapa b) Mapa para cidadãos comuns de Lineu
As coisas complicam-se neste mapa. Há aqui uma dimensão cognitiva maior, um território por vezes ocupado por preconceitos, temores, crenças e alguma burrice. De salientar que as zonas de pobres são até muito apreciadas por turistas ( a feira da Ladra, por exemplo) e pessoal que faz hotéis hip.
Finalmente, o mapa c):

Mapa c) Lisboa para Betos
O caso desesperante que pude assistir e que originou este estudo partiu do fenómeno cognitivo Beto. Os betos, dotados de uma premonição auto-confirmada, simultaneamente relatam um mundo cruel e criam esse mesmo mundo cruel, que paradoxalmente ora é um paraíso neo-colonial ora é uma selva aborígene, dependendo apenas do tipo de mitra que atraem com a sua camisa-de-fralda-de-fora, um sinal universal de tentação entre a mitra normalmente ocupada com coisas sérias. Concluindo este estudo, resta dizer que isso da insegurança muda conforme o número de facas, pistolas, seringas e assaltos a que assiste ao longo de N tempo versus a relatividade.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Não faças amanhã o que podes fazer hoje

Backups do computador.

Quando o quadro vai abaixo com uma tomada do computador em curto circuito, percebem-se as prioridades que temos e passam-nos à frente dos olhos em repeat:

  • Anos de trabalho no computador.
  • Anos de trabalho na drive.
  • Anos de fotografias. As fotografias dos Açores.
  • Não poder trabalhar.
  • Os filmes.
  • As fontes.
  • O software.
  • O computador todo optimizado para o meu workflow.
  • O desenho que estava a fazer há 20 minutos.
  • A janela com a série que ia ver.
  • As passwords.

Mas safou-se.

Morrer da cura

Fui ali à zona nova do Intendente à noite e posso confirmar: está bonita e cheia de mitra. Limparam a rua, calcetaram tudo à maneira, meteram-lhe candeeiros em barda na esperança que a luz afastasse a má onda toda mas não. O novo Intendente ficou um género de Champs Elisees chunga, o largo  colado a prédios a cair, um casal à procura de uma dose e a mostrar a ultima ressaca, putas chulos e agarrados a passear de mão dada, misturado com hipsters dos cafés pseudo-chunga - isto é giro, na rua tentam renovar e está cheio de mitra acabada, no café da moda do largo não renovam, deixam as paredes descascarem até cair, enchem tudo de tralha velha e está cheio de hipsters  - com o típico sortido de cadeiras, copos e candeeiros, o look-austeridade.

quarta-feira, dezembro 11, 2013

Tasco, body language

Após muitos anos a coleccionar almoços em tascos seleccionados, onde pude observar milhares de vezes a única body language portuguesa conhecida universalmente, o gesto faça-me-aí-a-conta, pude hoje adicionar 2 novos fenómenos que acho que devem ser património imaterial da humanidade:
É sabido que num tasco a função do empregado de mesa é dizer em voz alta o que queremos. É um facilitador: assim como no autocarro as pessoas mais acanhadas não se metem aos berros para abrir a porta de trás e vão até Pedrouços ou até Caneças, num tasco limitamo-nos a apontar para algo no menu e o empregado é que então berra "SAI MEIA DE FEBRAS!" e um gajo ainda diz "só com arroz, se faz favor." e berra "SÓ COM ARROZ", e é isto, o empregado é alguém de se desenvolveu de forma cénica, não tem problemas com fazer-se ouvir e ver. Esta facilidade abriu uma nova categoria de serviço quando hoje, depois do almoço terminado no tasco habitual, o empregado resolveu ser possível atender-me a 10 metros de distância, por meio de linguagem gestual e berros.
A 10 metros, pedi as febras grelhadas e a imperial.
Apesar de tudo, manteve a premissa de que um cliente não berra e ainda o premiaria com a confirmação de que tem a acuidade visual e cerebral capaz de perceber o gesto para ainda-vai-beber-café-não-é? seguido do gesto de bica-cheia-certo?. Finalmente, apesar de eu estar a 15 metros da cozinha e ele só a 2 metros, ainda teve de berrar "SAI MEIA DE FEBRAS", o que pode invalidar a teoria das linhas anteriores e expor uma nova, todos os cozinheiros são surdos.

sexta-feira, dezembro 06, 2013

O mundo não é justo

Jpeg do Mandela

Outro Mandela
Já sei que o mundo não é justo. Mas esta semana recolhi, sem querer, alguns dados interessantes sobre a vida de designer em Portugal em 2013.
A tal insegurança no trabalho. Recibos verdes? já desbundei. Anos. ( Aliás, nunca fui efectivo de uma empresa ). Só na inconsciência voluntária ou disfarçada do pessoal que é efectivo ou deputado é que um recibo verde é um pagamento de um serviço e mais nada.
Mas agora parece-me que estamos numa nova fase que não sei caracterizar bem:
a) na mesma
b) nunca houve tão pouco para pagar
c) não há assim tão pouco para pagar

Quando ouço todo o tipo de falcatruas das agências com hype para contratar designers - e aqui não deixa de ter alguma ironia as condições estarem a ficar parecidas com fábricas de calçado em Moimenta da Beira - oferecendo recibos ad aeternum, ordenados de 700 euros, 600 euros, estágios em barda, pagamentos por fora cada vez maiores, e finalmente a possiblidade de terem alguém interno pago a acto único, somado a conviverem com salários 6 ou 7 vezes maiores ( afinal há dinheiro ) dentro da mesma empresa, só posso dizer: bardamerdapraestescabrões.

Sempre achei que empresas cool são as que pagam bem. O resto é peanuts.

Este é um daqueles posts que serve de registo de um tempo em particular e a que vou voltar daqui a 3 anos para ver o que mudou entretanto. Provavalmente vou dizer "vês? isto já era uma merda há 3 anos. Crise? Nada de novo."

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Arquitecturtura

Há uns tempos esta campanha esteve na rua e passou ao lado de meio mundo, por razões óbvias.


Acho, o engenheiro fez isso e ficou bom.



A campanha é má. Meio pedante e auto-contemplativa. Parte do princípio errado de que qualquer pessoa sabe reconhecer o trabalho de um engenheiro ou de um arquitecto ou que consegue até  distinguir entre um bom ou um mau trabalho de um arquitecto, o que é assim a puxar para o arrogante. Digo isto porque com o trabalho dos designers passa-se o mesmo. Mas, como temos esta sorte/cruz de só fazermos coisas bonitas e que enchem o olho, tanto os salsicheiros como os arquitectos almejam fazer design. Os salsicheiros porque precisam de ganhar dinheiro, os arquitectos porque acham que desenhar num computador, fazer esboços e ler Kahn é a confirmação de um domínio sobre uma linguagem metafísica qualquer que acham que todos sabem/devem saber ler.
Pessoal: Ser arquitecto não habilita ninguém a mais nenhum ramo de conhecimento. Partam do mesmo príncipio que eu, se há licenciaturas dentro de alguma área, é porque aquilo não se aprende a ver Pinterests e tutorials de Photoshop.
E nada contra auto-didatas, desde que mostrem que dão o litro.
Isto tudo porque vi um logotipo feito por um arquitecto e estou a beber água das pedras desde as quatro.