segunda-feira, novembro 29, 2021

Memes de whatsapp, a nova manif

Estive em contacto com vitimas de ideologia de internet. São pessoas aparentemente normais que fazem a sua vida, vão à rua, sabem separar o lixo e mexer o café numa chávena sem entornar e deixam gorjeta ao sair do jantar. No entanto, os memes do whatsapp controlam-lhes o discurso que usam como desbloqueador de conversas. Todos, à vez, usaram o mesmo começo de conversa: "Já viste como a gasolina está cara?"
Não vi, não. Respondo como respondia o meu pai há 20 anos: "Meto sempre o mesmo no depósito". A conversa acaba instantaneamente.
Tivess a conversa continuado nesse tema e o tema seguinte seria a Venezuela do Kosta.

domingo, novembro 21, 2021

Os blogs são como as baratas

Comecei este blog em 2006, há 15 anos. O Youtube tinha começado há pouco tempo. O Facebook ainda mal se usava cá e ainda era bem visto.
O blog começou inspirado numa revista que uma colega de trabalho trouxe um dia. Era a Found, uma revista feita de texto e imagens perdidas pela cidade (nudge nudge). Durante algum tempo tentei fazer algo parecido, escrevendo posts baseados em qualquer coisa que encontrasse na rua. Como andava muito tempo em muitos transportes públicos, a oportunidade de ter estes achados imprevistos era alta. Mantive essa ideia algum tempo. Ao longo do tempo foi dando cada vez mais gozo e durante algum tempo foi até a melhor coisa que fazia o dia inteiro.

Passados 15 anos, queria escrever mais seriamente mas falta-me a convicção de que valha a pena fazê-lo aqui. Por outro lado, aqui o querido diário já durou tanto que não faz sentido fechar isto. Provavelmente começo outro.

segunda-feira, novembro 15, 2021

Bicicletas não são ciclovias

As ciclovias deviam ser promovidas com o Ronaldo.
Punha-se o Ronaldo a ir da Praça do Chile até ao Corte Inglés comprar velas de cheiro numa bicicleta de dobrar e dava-lhe um mês. Era a única forma de dar calar toda a gente que as odeia. Só com um multimilionário nascido na Calheta se percebia que qualquer pessoa pode e deve usá-las. Mas como só uns milhares de pessoas as usam todos os dias sem as odiar, são uma coisa de burgueses.
Eu uso-as umas 2 ou 3 vezes por mês e posso dizer que fazer de todos os passeios e estradas ciclovias era a melhor medida possível. Todos os pedestres que as usam porque não gostam de escorregar na calçada, todos os cadeirantes que as usam porque não conseguem andar no passeio confirmam que não há pisos lisos suficientes nesta terra.

sexta-feira, novembro 12, 2021

A vizinhança do Salazar


Claro que nesses grupos de vizinhos do facebook raramente se vai além da fotografia da praça limpinha e ordenada, sem pessoas, sem ruído, sem barulho. São muito santas.
Nesta imagem já há algum ruído, o vento na linha de árvores que não deixa perceber o que sopra do lado de lá. Também há uns chatos, gente pobre sem dinheiro para sapatos e outras merdas. Raramente aparecem estas fotos, porque há poucas e são uma chatice, é como fotos de funerais, lembrar funerais para quê?
Mas isto, tenho de dizer, é porno também. Os mais pobres apreciam-nas muito. Fazem uma corrida a ver quem é mais pobre, a comparar a miséria. Pelo meio dizem que apanhavam muita porrada mas sabiam os rios e as linhas de comboio de cor e salteado. É uma alegria.


quinta-feira, novembro 11, 2021

Salazar, o vizinho lisboeta

Lá no grupos de facebook dos bairros de Lisboa aparecem muitas vezes umas fotos muito claras e limpas de outros tempos, como esta.
Retratam um tempo perfeito e eterno. Tudo estático, tudo quieto. Um silêncio muito solene e sério. Raramente têm pessoas em primeiro plano. Raramente a imagem é pessoal ou subjectiva. 
Estas imagens, tenho de dizer, são pornografia para salazaristas. Onde pessoas normais vêem o bairro onde cresceram e os sítios onde faziam a sua vida, os fans de porno salazarista vêem muito mais, como a ausência de ciclovias, lojas chinesas ou pessoas sem um dente da frente. 2 ou 3 imagens destas são suficientes para deixar essas pessoas entusiasmadas durante horas de seguida.

Amanhã continuo o tema, que isto é uma coisa séria

segunda-feira, novembro 08, 2021

Trotinetes no Cacém

Quando não ando de taxi, ando de trotinete. As trotinetes deviam cobrir todo o território nacional, espalhadas pelos passeios, para que toda a gente pudesse ir do ponto A ao ponto B num tempo marginalmente mais curto e substancialmente mais perigoso que indo a pé.
Há tempos vi um miudo de trotinete em contra-mão com um pé de gesso. As trotinetes eletricas são menos odiadas que as bicicletas por causa disto, pela perfeição do conjunto: o meio, quem o usa e as consequências do seu uso. Uma tempestade de más escolhas. Uma trotinete cara, desengonçada, jovens erasmus em contra-mão, quedas aparatosas a qualquer momento. Ninguém reclama das trotinetes porque só podem trazer alegrias.

Para a semana:
Bicicletas

terça-feira, novembro 02, 2021

Os taxistas estão de volta

Voltei ao escritório e voltei a andar de taxi.
Os Ubers só têm 29 vantagens em relação aos taxis. Mas uma desvantagem suplanta todas as outras: Os Ubers não são de fiar.
Claro que os taxis não têm apps, não têm multibanco, cheiram mal, estão sempre sujos e tudo, mas aparecem e pago sempre o mesmo. Os Ubers não aparecem, dão-me baile e pago entre 3 euros e 13 euros pelo mesmo caminho.
Além disso, fico com uma ideia real de como vai o mundo, o que é importante para burgueses que não andam de transportes públicos.

Para a semana:
Trotinetes no Cacém


segunda-feira, novembro 01, 2021

Resumo impossível de digerir, em 3 passos

Confrontado com 2716 pontos de vista sobre o que se passou com o orçamento de estado, o meu cérebro fez o esperado: fechou-se para balanço, parou de dar atenção a comentadores, jornalistas e políticos e concentrou-se no essencial, memes de whatsapp. Assim fiquei a saber, como é habitual, que há uma grande revolução prestes a acontecer a qualquer momento e que toda a gente anda descontente, mas sem ter vontade de se manifestar em grupos maiores que 1000 ou 2000 pessoas, - bons tempos em que o Sócrates conseguia mobilizar centenas de milhares de pessoas contra ele - poruqe apesar aparentemente vivermos numa ditadura semelhante à Venezuela em demasiados aspectos, esses aspectos só acontecem em memes,  construídos com imagens de stock gamadas do google.