sexta-feira, dezembro 26, 2014

A Cláudia

A Cláudia é a inteligencia artificial das empresas, diz o anúncio. A Cláudia é uma referência visual ao Tron, um filme de culto que ninguém gosta senão pelo facto dos actores usarem fatos neon futuristas. O problema da Cláudia é que a meteram num fato desses, o que à partida é uma boa premissa porque de facto uma miuda fica bem dentro daqueles fatos. Mas a tentativa de usar o modelo clássico de publicidade para empresas ( falta de ideia + gaja boa ) saiu-lhes ao lado. Conseguiram fazê-la tão sexy como um agrafador, um quadrado com pernas, um ser monodimensional, matando a premissa para sempre.

É natal lá longe

Os pobres que só conhecem o Natal de Lisboa não sabem o que perdem:

Ter Natal na terra dos ancestrais implica visitar 200 primos, beber pinga caseira em todo o lado, jogar snooker no café da terra, com uma mesa já toda quinada, comer filhoses, comer peru, discutir sobre o peru, comer vitela e discutir qual é o peso ideal para matar uma vitela, o que a vitela comeu em vida, comer galo e discutir de onde veio  o galo e quem o matou, beber vinho carrascão, beber água-pé, comer filhoses, brincar com 5 primos novos todos os anos, descobrir novos primos velhos também, apreciar lareiras, apreciar caldeiras a gás, apreciar caldeiras a lenha, apreciar salamandras, apreciar qualidades de lenha, carvão e briquetes e discutir o assunto durante horas, discutir estradas, caminhos e atalhos e a forma como chegar do ponto A ao B nos dias presentes e em tempos já idos, discutir o frio, quantificá-lo e comer filhoses.

segunda-feira, dezembro 22, 2014

Verdade absoluta VII

Não invistam só em cultura pop. Conhecer meia dúzia de clássicos ajuda bastante. Refiram Joyce num post e parece logo que querem dizer mais do que pensaram.

Tosta mista, tempo padrão

Teorias várias tentam explicar o porquê deste fenómeno: vão a uma esplanada/café da moda e vão ter de esperar meia hora por uma tosta mista. "A Máquina demora a aquecer", dizem.
Hoje fui de propósito pedir uma tosta mista a uma pastelaria normal, com a certeza que não ia demorar meia hora. Confirmo: 15 minutos. Este é o tempo que uma tosta deve levar a ser feita.

quarta-feira, dezembro 17, 2014

Como gerir uma empresa tuga III

Crie castas.
Mostre preferência em relação a alguns empregados aleatoriamente. Dê alguma rotatividade às castas, só para somar à incerteza. Empregados tratados como iguais levam ao nacional-porreirismo e à preguiça.

Como gerir uma empresa tuga II

Fomente a incerteza.
Mude de humor rapidamente e sem aviso. Troque o lugar de alguém sem dizer porquê. Evite a transparência.Empregados com rotinas ganham conforto, levando ao nacional-porreirismo e à preguiça.

Como gerir uma empresa tuga I

Governe pelo medo.
Um ambiente saudável cria conforto, levando ao nacional-porreirismo e à preguiça. De tempos a tempos, de preferência pelo Natal ou antes das férias de Verão, faça um discurso semi-calamitoso que faça os alicerces da vida de todos os empregados tremer.

segunda-feira, dezembro 15, 2014

A prova que estou velho

O Spotify passa um anuncio em que refere que de Bragança a Lisboa são 5 horas de musica.
Quem ouviu Xutos sabe que são 9 horas de distância e faria logo a piada. Mas não. Nem uma referência. Nada. É a versão online de ter as miudas na fila dos bilhetes a dizer "cuidado com o senhor.".

quinta-feira, dezembro 11, 2014

Ninguém os avisa?

O pessoal do Gato Fedorento deve ser o mais jovem grupo de reformados em Portugal. Deixaram-se de macacadas, escrevem nuns jornais, e fazem uns anúncios a telemóveis que me pergunto se alguém lhes acha piada. Estou a vê-los a ter de voltar à Sic Radical a fazer uns sketches low-budget, depois de um dia destes um puto qualquer perguntar de onde apareceram os tipos do anúncio dos telemóveis e se algum dia fizeram outra coisa, uma coisa com piada.

Este Natal vai ser diferente

Este ano em vez de enviar cartões de boas festa e gastar dinheiro em prendas, vou mandar bardamerda todas as multinacionais, empresas, cooperativas, grupos, grupelhos, associações, iniciativas, pessoas, humanos, macacos, bastardos e bipedes em geral que ciclicamente reivindicam esta frase plena de originalidade para convencer que não estão a ser forretas, tentando demonstrar que estão a fazer algo extraordinário quando na verdade estão a poupar dinheiro. Não me fodam. Não querem dar nada não dêem.
Querem dar? Dêem mas cortem no miserabilismo.
Essa conversa foi moda em 2001.

quinta-feira, dezembro 04, 2014

O circo continua, cada vez com mais números, especialmente palhaços. Acho que não se pode esperar diferente vindo de portugueses. Às vezes acho que isto passa por nos vermos comos atlântico e não como latinos, devemos achar que somos muito diferentes dos italianos ou dos espanhois. Tudo é um fado, tudo é sempre dramático. Objectividade é que não, isso não funciona.

sábado, novembro 29, 2014

Só para mudar de tema II ( antes de sair de casa )

Gostava de ter outro blog para escrever sobre Design. Infelizmente não tenho o arcaboiço para escrever a sério sobre nada sério como Design. Sobra-me o estado do país, os taxistas, a falta de imaginação alheia.

Caso escrevesse sobre design, podia deixar esta dica sobre agilidade escrita com pinta: O Design é só mais uma disciplina que tem de conviver com o processo de qualquer empresa diariamente. Resultado de um certo complexo freudiano dada a pouca importância que se lhe atribui neste país, há por vezes o risco de cair no excesso oposto. Como todas as outras disciplinas, o design também é um processo. Não se chega ao fim desse processo com uma iteração. É preciso errar, e só se reconhece o erro depois de uma solução ter tido uso. Não é o ideal e sabemos disso - não há tempo para muito mais - mas não se pode esperar ter uma solução à primeira. Ter essa esperança é que mata um trabalho bem feito.

Depois poderia escrever sobre clientes e dizer que sim, não é suposto nem ele nem o designer encontrarem a melhor solução à primeira e que esta é só um ponto de partida, para ser melhorada. Que seria como quem diz, não vale a pena pedirem 6 soluções para o mesmo problema quando o caminho certo só é encontrado propondo teses e testando-as sobre o processo a decorrer.

Eventualmente escreveria porreiro sobre design, como outros.

Só para mudar de tema

Como em todo o lado, se perguntarem, em Portugal não há racismo.
Hoje estava a fazer zapping e comecei a contar o número de comentadores, jornalistas, locutores, passei para deputados, ministros, depois publicitários, designers, até colegas de escola. Não-brancos contam-se pelos dedos das mãos.

sexta-feira, novembro 28, 2014

Sócrates, mais um dia

Portanto, 4 facções possíveis:
  • Acredito na justiça
  • Acredito na justiça mas não neste caso, porque claramente o processo é uma cabala direccionada contra o PS
  • Não acredito na justiça
  • Não quero saber e já sei que isto não vai dar em nada.
Para tirar isto a limpo, proponho uma experiência: juntem-se todos os casos ( e suspeitas ) de corrupção em todos os partidos nos últimos 12 anos e procure-se uma moda. Caso não se encontre um clara diferença entre partido algum, ( e até dava uns pontos de avanço ao bloco e ao PC, mas temos de ser imparciais )  calem-se.

quinta-feira, novembro 27, 2014

Porno para taxistas

é ler, minha gente.

O taxista também personifica o Portugal mais lúgubre e sombrio, o que rasa o medieval. Trabalha que se desunha entre biscates e part-times. Vive humildemente mas a miséria ocupa-lhe o pensamento. Como passa o tempo a conduzir sozinho, ocupa este pensamento num diálogo consigo mesmo, em que ciclicamente concorda com cada ideia peregrina que tem, refinando-a, como quem afia um lápis até o transformar num couto imprestável. Isto tem efeitos: No facebook, reclama como qualificações a "universidade da vida", a escola que mais o ensinou.
O Correio da Manhã, pronto a vender mais uns números e atento, vende pornografia: Sócrates é pintado como uma boa personagem de Gil Vicente, fidalgo, doutor da mula russa, corrupto, que se enche de vinho "de cara cepa" - aqui um taxista pensa em Papa Figos ou ATÉ melhor -  e comida com estrelas da Michelin. Só não se enche de putas porque acreditam a pés juntos que é maricas.
O CM entrega a narrativa perfeita para a catarse de um taxista que a lê a comer um prego na tasca dos Restauradores forrada a alumínio, ali ao lado do elevador. Fado cruel, - mas mais que justo - Sócrates acaba a comer uma carcaça com manteiga de pacote, numa cela sem água quente.
Genial.

Só falta o brinde do jornal ser um pinheiro especial para amarrar engenheiros e meter-lhes fogo.

quarta-feira, novembro 26, 2014

Já passou

Pronto, vou voltar a discutir o excesso de padarias vintage e hamburguers em bolo do caco. Já percebi o que é que o processo do Sócrates vai dar:
Nada.

Podem largar a televisão, se estão a pensar que alguma coisa vai mudar. O lado positivo disto é que as coisas boas de Portugal também não mudam, pronto.

terça-feira, novembro 25, 2014

Sócrates, dia 1

Como era esperado, há muitos pesos e muitas medidas. Os jornalistas atropelam-se para dizer muito sobre nada, muitas vezes. Outros acusam os jornalistas de serem sanguessugas que quebram o segredo de justiça. Surgem muitos pedidos particulares relativos à forma como lidar com Sócrates: uns pedem-lhe a cabeça numa bandeja, outros numa estaca. Alguns clamam por enforcamento no terreiro do paço. Alguns queixam-se que há um circo mediático. Outros dizem que não é mais do que o esperado, dada a situação. Pessoas clamam pela prisão numa cela pior. Outros dizem que não devia estar em nenhuma. Passos diz que os políticos não são todos iguais - e é verdade - provando que são todos iguais.
O povo é sereno, o caralho.

segunda-feira, novembro 24, 2014

Portugalaland

Um português adulto comporta-se desta forma: Da boca para fora, diz que todos os políticos são iguais. Mas calado espera pacientemente que um dia surja um Dom Sebastião, um Salazar, um Sócrates, qualquer um que tenha a qualidades que ele acha as ideiais ou, bem mais simples, para nem ter de pensar nestas qualidades ideais, que simplesmente diga o que ele quer ouvir.

Um caso de corrupção a este nível revela que afinal não há D. Sebastião, nem Salazar, nem Pai Natal, nem menino Jesus, de uma vez. O que deixa este espaço ocupado por mitos pronto a ser ocupado por algo que ainda não vimos.

Talvez o português perceba agora que não pode esperar por salvadores. E que o caminho é trabalhar com o que tem. Pessoas.


Já comecei um post sobre isto do Sócrates

Não consigo rematar nada porque é muita coisa ao mesmo tempo. Tentei abordagens diferentes: já comecei a abordagem com o Pai Natal. Já escrevi sobre milagres. Já apaguei tudo 3 vezes. Não tenho paciência para escrever sobre isto, é demasiado sério.

domingo, novembro 23, 2014

São todos iguais

Agora quero ver como é que descalçam a bota.

quinta-feira, novembro 20, 2014

Soa-me tudo ao mesmo II

A mamã quer ser mulher
O papá toma aspirina
O banzé que o gato fez
Na cabeça da menina

Tira o chapéu à entrada
O menino bate o pé
O tio Zé faz papada
chinelo na tromba, bebé

Pedante comercial
musica de fachada
Não fica no ouvido
Quando não rima.

Falo à grande
a fala de patrão
frases perfeitas
feitas de raspão


Nota: Não posso perder mais tempo útil da minha vida com albuns deste gajo: são sempre cantados com falta de ar e as letras têm sempre a mesma construção, que é uma entremeada de frase banal com frase de subentendido com a frase banal sempre com um jogo de palavras, paranomásias, aliterações e assonâncias. E quem ouvir Fachada confirme isto, que é óbvio.


quarta-feira, novembro 19, 2014

Ouvi B Fachada e lembrei-me I


Estou a pensar sei lá
Perdi a cabeça vá
Tomei a parte pelo todo
Vi tudo passar, tá

Comi presunto por bom
Cantei fora de tom
Tomei a parte pelo todo
Não percebo de som

Pequei na guitarra pequei
Quando pediram larguei
Tomei a parte pelo todo
Devia ser contra a lei

Fui à feira de chinelos
Comi sopa de Alfornelos
Tomei a parte pelo todo
Nunca fiz versos tão belos
Mas a minha mãe diz que não.

terça-feira, novembro 18, 2014

Não, isto não muda nada.

A coisa mais medieval que vejo na televisão neste momento são aqueles planos de pessoas de boca aberta que entremeiam todas as actuações naqueles programas tipo chuva de estrelas e afins ( sim, referência com 20 anos, eu sei ). São a actualização da gargalhada enlatada, mas para todas as situações possíveis.

António Zambujo, B Fachada, Luisa Sobral:

Expliquem-me como é que a voz de corneta passou a ser bem vista? Parece que estão sempre com uma insuficiência polmunar.

segunda-feira, novembro 17, 2014

Comissão de inquérito

Tomando como referência todas as comissões de inquérito e a sua função primordial de encontrar culpados mas dissipar a culpa até que não se possa atribui-la a ninguém, ver que a comissão de inquérito para o BES vai ser a maior de sempre e que já prevêem que vai demorar meses em trabalho, já estou a ver a quantidade de conclusões a que vão chegar.


Corrupção, the drug of a nation.

sábado, novembro 15, 2014

O Natal é assim, diz a Worten

A Worten lançou o seu anúncio de Natal. Habituada a vender tablets, telemóveis e máquinas fotográficas de todos os feitios a toda a gente, este ano deve ter tido uma surpresa enorme quando o pessoal do marketing descobriu que o seu público deixou de ser toda a gente e tinha passado a ser a marca de eleição dentro de um fenómeno fruto das políticas do governo: A fuga de cérebros.




A Worten sabe que o Natal é sobre ligar as pessoas e torná-las mais próximas, como a nokia. E este ano resolveu fazê-lo ligando um família a que vou chamar de Família Vasconcelos de Sá. Cientes do novo target, - gostava de ver os estudos de mercado que indicaram isto, a sério - escolheram uma família perfeita(mente) queque. O piano delicodoce que me começa a encher um bocado a paciência acompanha o filme do princípio ao fim porque sem ele a realidade das imagens ia mostrar uma felicidade absoluta, sem espaço para a saudade, para a distância. A criança feliz brinca com a mãe numa casa de revista que podia ser nas Avenidas Novas de Lisboa ou em Cascais, mas não: Há lá pelo meio um plano com neve imaculada lá fora. Só pode ser um país mais a norte. O marido está no trabalho ( só pode ser engenheiro, com uma casa destas no norte da Europa ou da América ). Depois vamos descobrindo os seus pais, que ficaram para trás. Não sei se sentem que ficaram para trás. Mas não conseguimos descobrir onde ficaram.  Nada parece Portugal. A avó Vasconcelos de Sá lembra a neta enquanto toca piano, o avô Vasconcelos montou a árvore de Natal na sala com a janela panoramica a dar para o mar e para a piscina. "Está imenso frio aqui", diz a filha, lá no norte, enquanto os pais se banham na piscina. Aqui finalmente percebi que não estão em Portugal. Isto é quente mas não é o Rio de Janeiro. Pela arquitectura, diria que estão em Malibu. Ou então isto é só uma história de saudade dentro uma família rica, mas não o suficiente para ajudar a filha a não ter de emigrar, contada em Agosto.

quinta-feira, novembro 13, 2014

Legionella Andrade

Neste país de bimbos, a linha da frente é ocupada pelos bimbos dos jornalistas. O jornalismo português está muito longe do jornalismo sensacionalista de outros países mas não deixa de ter muito podre. Engana. Como é educado e calmo, como o povinho, habituado a essa conversa dos brandos costumes, passa por baixo do radar. A Legionella foi o orgasmo do ébola que não veio. Semanas de tensão e nem um emigrante sequer com ébola. Nem médicos. Nem enfermeiros. Nada. A Legionella veio acabar este coito interrompido e foi ver jornlistas a fazer os directos de Vila Franca, ground zero da emergência, o tom de alívio, finalmente uma coisa com escala, o garbo de saber que é a maior crise de Legionella em anos, vamos ter entrada na wikipedia, vamos ser um caso de estudo. Somos uns bimbos.

* Tinha de fazer aquele título.

terça-feira, novembro 11, 2014

O chão é que é torto

Pensei, preciso de uma rede na chaminé, está sempre a cair lixo cá em baixo. Pensei, vou fazer a solução mais simples possível e que cause o mínimo de estrago. Loja do chinês, pack de filtro do fogão com quadrados de fita cola dupla incluida. Chego a casa, fogão para o lado, cadeira para chegar lá acima, colo a fita cola na chaminé, colo a rede à fita cola. Chego a casa passado 8 horas. Rede está no chão, quadrados de fita cola não pegam. Fogão para lado, cadeira para chegar lá acima, colo fita cola normal em quantidade na chaminé, colo a rede à fita cola. Chego a casa passado 8 horas. Rede está no chão,  fita cola em quantidade não pega. Loja do chinês, imans de frigorifico para colar à parede e poder retirar a rede a qualquer altura. Chego a casa, desmonto os imans, fogão para o lado, cadeira para chegar lá acima, pistola de cola, colo os imans à chaminé, pego na rede e nos outros imans e os imans são fracos. Caiu um ao chão. Foi para debaixo da bancada da cozinha. Desço da cadeira, desmonto mais um iman na sala. Subo a cadeira, pego na rede e nos outros imans e os imans são fracos. Caiu outro ao chão. Foi para debaixo da bancada da cozinha. Desço da cadeira, desmonto mais um iman na sala. Subo a cadeira, pego na rede e nos imans que restam e os imans são fracos. Desço da cadeira, pego na pistola de cola, colo a rede nos imans porque não estou para os descolar. Depois meto cola a ferver num dedo, sem barafustar porque estou preso dentro da chaminé. Colo a rede ao iman.

Moral da história: Mais valia ter ficado no sofá.

domingo, novembro 09, 2014

As testemunhas de Jeová são como os taxistas


Abri a porta por engano e aparece uma velhinha muito simpática que me pergunta quem controla o mundo.
Apesar de saber onde isto ia dar, não consegui dizer que não estava interessado, porque estava interessado em responder. Apliquei o modelo de conversa que aplico aos taxistas. Instalo a dúvida, colho conclusões.
- Ah, ninguém. É auto-regulado ( aqui ainda não tinha visto o folheto ).
- Acha mesmo?
- Claro. Tudo o que acontece é mesmo assim.
- Acha que Deus não teve o objectivo de fazer um mundo perfeito para vivermos?
- Bom, o mundo não é bem perfeito para viver. Ou então andamos a construir casas demasiado a norte, olhe o frio que faz.  Não deviamos precisar de tanta roupa.
- Mas como é que acha que tudo acontece como devia acontecer? Há pessoas mesmo más.
- Nah, isso somos todos.
- Não acredita em Deus?
- Como as outras pessoas, só quando estou mesmo à rasca.
- Não acha que há uma ordem em que as coisas são feitas? sem ser física, química... ( vê-se logo que a doutrina é feita por americanos, qual é o tuga que fala de física para questionar Deus? Um tuga sabe que Deus não existe porque nunca ganhou o totoloto ou porque o Benfica não ganhou a semana passada )
- Tem dias.
- Sabe, quem manda no mundo é Satanás.
- Ah.

Conclusões deste tempo recorde que passei com uma testemunha de Jeová: Estão a ficar melhores, dantes eu abria a porta e começavam a debitar sem parar até eu conseguir apanhar-lhes uma pausa para respirar para os conseguir interromper. Ao contrário dos taxistas, estes não têm dúvidas em nada. Um taxista ainda se questiona porque respeita as hierarquias: Pessoas de fato, Pessoas que sabem de bola como eles, Pessoas que dizem coisas mais estranhas que eles.

quinta-feira, novembro 06, 2014

Ideia grátis

Vendam uns frascos de shampoo a um décimo do preço só com um resto no fundo  e um autocolante "adicione água antes de usar.". Isto dura pelo menos uma semana.

Daqui à noite

A esta hora, a Morais Soares só tem putos de capuz, gente a ir à farmácia à procura de creme para o pé de atleta e taxistas a caminho da padaria.
Tropecei num taxista a sair da padaria. A cabeça caiu-me pela calçada abaixo e só a apanhei à boca do metro de arroios, entrada nascente, depois de uma corrida meio atabalhoada onde perdi o pé esquerdo. Recompus-me apenas para descobrir o estado em que tinha ficado o meu pé. Atleta? Capuz.



Disclaimer:

quarta-feira, novembro 05, 2014

Fico sempre na dúvida





A casa dos segredos ajuda a mudar mentalidades ou não? É que esta miuda é, para todos os efeitos, uma libertária.


 

segunda-feira, novembro 03, 2014

O mais perverso

O que é mais lixado neste mundo onde passamos o tempo a reclamar, é que no fundo ele nunca foi tão bom como é agora.

O escritório politicamente correcto

Num escritório onde o inglês é obrigatorio todos os dias mas onde ainda há muitos portugueses, observo este fenómeno que não posso dizer que seja negativo mas que revela como é complicado ser emigrante, por exemplo.

Um tipo entra de manhã e diz em português:
- bem, ontem estava em casa à noite, tipo às 10, e os vizinhos de baixo estavam a comer-se. Quando chega a hora, o gajo solta um urro que parecia um urso. O prédio todo deve ter ouvido aquilo. Vou olhar a vizinha com outros olhos, agora.

O mesmo tipo diz em inglês:
- 'morning people. How was the weekend?

domingo, novembro 02, 2014

Sobre os piropos

Vi por aí muita reacção ao tal video dos piropos. Achei importante revelar que há solução e que há muito piropo decente. Os do vídeo eram piropos de trolha, quase todos. Cá ouvem-se perto de andaimes, ou vindos de camiões de mudanças.
Declamam-se assim ao longe ou em andamento porque um piropo, independentemente do nível formal, funciona como um boomerangue, atira-se para longe e a) leva-se com ele na tromba b) funciona. A distância é importante no caso dos de trolha porque 99% das vezes devem levar com ele na tromba ( estou a dar 1% de margem embora não acredite que seja possível ). O piropo de trolha é basicamente algo entre uma actividade desportiva ao ar livre e uma forma de performance artística. Não serve para nada senão passar tempo.
Como uma boa quantidade de problemas que a sociedade tem por resolver, o problema dos piropos resolve-se com educação. Não a educação entendida como vinda da "má-educação", mas a educação no geral. Escolas. Licenciaturas. Mestrados. Doutoramentos. Claro que estas coisas não resolvem nada no mundo - não há nada que por si só resolva alguma coisa no mundo, isso parte de todos individualmente - mas obrigam os labregos a deixar os os piropos de trolha face à concorrência crescente e a desenvolver piropos refinados - quando um piropo é refinado, educado, passa a chamar-se sedução - deixando eventualmente de ser labregos e isto tem a vantagem de, como efeito secundário, resolver todos os outros problemas da sociedade, nomeadamente civismo, corrupção, Marinhos Pintos ( o gajo tem cara de quem manda uns piropos daqueles tipo "pijama de cuspo" ), o Colombo cheio de gente ao domingo, a taxa de abstenção nas eleições, o Marinho Pinto ser eleito, ninguém ir preso por inside trading no BES. Quanto a acabar com os piropos com campanhas de sensibilização, esqueçam. É uma perda de tempo. Estão a tentar sensibilizar primatas. Como é que acham que o pessoal da casa dos segredos se reproduz? a declamar Keats?

quinta-feira, outubro 30, 2014

A Terceira Vaga

O empreendedorismo que tanto odiava e que agora me alimenta todos os dias, mudou. Bom, na verdade está na mesma, simplesmente já lhe consigo ver as nuances. Passou a ter uma corrente mainstream. O ciclo temporal que define quão cool uma coisa é está a aproximar-se do fim ( sim, empreendedorismo pode ser cool ). Este fenómeno observa-se em tudo, desde a publicidade ou a plantação de oregãos, até à industria de congelados da Póvoa do Varzim. Os Early Adopters já sairam do jogo, uma segunda geração já vinga, a terceira limita-se a macaquear as soluções que já viu que resultavam. O jargão mantém-se, a postura muda. A publicidade passa por isto. Claro que há sempre pioneiros a mudar o mercado neste momento, numa cave algures, mas esses só serão reconhecidos passados uns anos. Parte desta nova vaga de empreendedorismo ( eu estou nela, mas sou diferente, claro ) é só uma bandwagon. Pegam em modelos de negócio bem conhecidos ( exemplo: um restaurante, venda de serviços ) e dao-lhe uma pincelada de inovação, e isso aparentemente chega. Mas não chega. Por isso é que já estou cheio da porra dos restaurantes da treta, das "novas soluções com um toque de tradicional" e essa bacocada toda. Façam coisas novas. Parem de tentar inventar novos pasteis de nata. Parem de fazer coisas com hamburgers. Parem de meter cadeiras de cores diferentes nos cafés, não pintar o tecto sequer e ainda assim cobrar 2 euros por um café. Façam-me perceber porque é que hei-de pagar mais só porque são iguais a mais 30 cafés na mesma zona. Parem de empregar primas betas que demoram 20 minutos para fazer um café. Parem de me foder a cidade. Morram longe.

quinta-feira, outubro 23, 2014

Lisboa autofágica

O português tem um orgulho desmedido da sua comida. Vejo isto todos os dias, no orgulho com que recomendamos aquele tasco, o restaurante escondido que conhecemos e que, como iluminados, mais ninguém conhece, um prato de bacalhau que só há cá, o peixe só daquela tasca. É um dos produtos do país mais visíveis e dos que vendemos mais para quem cá vem, tanto comercialmente como culturalmente. Os restaurantes são do mais importante que temos, enquanto destino turístico. Mas não pela qualidade gastronómica. Os nossos pratos sabem sempre bem e isso é ponto assente. Não admira: usamos toneladas de condimentos, ervas, vinho, molhos, tudo para disfarçar o gosto original de tudo. E fica bom. Até pode ser carne má, peixe morto, não quero saber. Toda a gente sabe o que são as "grelhadas mistas" e a carne-ao-piri-piri. Não interessa. O que interessa é que lhe deram a volta e sabe bem. Os tascos funcionam assim e eu, declaradamente, gosto.

Vivermos habituados a este porto seguro que é a comida tem promovido a comida como negócio, repetindo-se até ao infinito em ofertas iguais, espalhadas pela cidade e pelo país. O modelo é sempre igual, pegue-se em algo tradicional e misture-se com o novo e é sempre bom. Soa bem? sim, mas a nossa comida real não é slow-food, essa espécie de versão heroica da fast food. A fast food usa truques básicos para nos enganar, adoçando tudo com açucar. A slow food que andam a vender adoça tudo com azeite premium, quadros de gis ( com letras manhosas ) e pechisbeques parecidos com antiguidades pelas paredes.

Isto dos restaurantes novos é como os minetes, toda a gente acha que é o melhor do mundo naquilo, mas na realidade só uns quantos é que se safam. É deixá-los estar.



Disclaimer: eu gosto de tascos genuínos e de tudo, desde que tudo seja só o que é.

terça-feira, outubro 21, 2014

Avarias, memória descritiva

Ano da Era do Senhor de 2014, a casa para memória futura e para a senhoria não dizer que fui eu que lhe lixei o apartamento:

Da entrada à sala vão dois passos, no primeiro a primeira tábua range ao primeiro calcanhar mas cala-se assim que passo além. Há tábuas comidas pelo bicho da madeira. O interruptor oscila no eixo do x mas também no y, o que é mau sinal. Dou-lhe pouco tempo, a andar assim de lado. Não arranquei os 3 pregos da parede da sala que parecem poder ter pendurado um baloiço em tempos. Todas as lampadas da casa rebentam de mês a mês, tirando a do frigorifico, que é azul e fraca. É pena, queria lá por uns leds do tunning que fizessem o frigorifico mais interessante para os que lá vivem. O corredor em meia cana está a abaular. Não fui eu. As luzes do corredor, não as substitui. Acho que os cantos queimados à volta dos casquilhos são prova do mau design original. Na cozinha, continuo a admirar a colecção de interruptores de parede que não dão a lado nenhum. Ainda não descobri para que serviriam. Não lhes vou mexer. As mini-gavetas onde só cabem facas na diagonal também não lhes vou mexer, continuo a usar só talheres de sobremesa. Lembrei-me disto tudo porque a toalha desequilibrou-se a secar no varão e caiu na sanita, e não fui mesmo eu.

Deixem-se de tretas

Se querem mostrar que são intelectuais, digam que não têm internet em casa. A televisão já não pega.

sábado, outubro 18, 2014

Dos copos

O mundo é sempre interessante e fico, dia a dia, mais admirado pela capacidade de muita gente disparar opiniões sanguíneas sobre coisas que não interessam muito. Os temas são muito sobrevalorizados. Estar ou ser é muito mais importante.

sexta-feira, outubro 17, 2014

Estudo: Os alicerces da piada

Há muitas regras e os bons ultrapassam as regras, mas isto pode ser basicamente algo como: Apresenta-se uma situação banal, coloca-se um evento no caminho e apresenta-se uma solução imprevista, inédita, chocante, grotesca, subversiva, freudiana co-relacionada com a situação banal. Todas as piadas de um-alemão-um-inglês-um-português-e-um-espanhol têm esta estrutura, por exemplo. O nível de banalidade, a verosimilhança do evento e a originalidade da solução a somar à distância entre estes 3 factores - e aqui há um desafio gigantesco, encontrar a palavra certa que é imprevista ainda que esperada desde o início, a palavra que faz a piada explodir no cérebro, distante que chegue do esperado mas não longe o bastante para perder a conexão com o que o cérebro pode processar - dita o nível atingido. Pessoas como o Nilton, o Sinel de Cordes e metade do canal Q ( não vejo muito, não tenho tempo para procurar a metade certa ) cumprem aquele mínimo de distância. Nunca me arrancaram uma gargalhada na vida.
 

As do Nilton são as mais espetaculares, o homem deve lembrar-se delas enquanto caga, são sempre qualquer coisa como ( leiam depressa e com voz de otário-que-não-percebe-o-mundo ) "A minha vizinha no outro dia ia a descer a escada e eu ia cheio de pressa para ir para a rádio, eu faço umas coisas na rádio não sei se sabem, e a mulher tem um cu tão grande que eu não conseguia passar! Aquilo devia ter uma placa "veiculo longo" atrás.". Tem piada? ... alguma? Dá trabalho? não. Mas há um público para isto.


Edit: Esta chegou até mim há minutos.

Parodiantes de Lisboa, Versão 2014

segunda-feira, outubro 13, 2014

Ébola em Portugal

O futuro do mundo passa pelo A/B testing. Depois de todos os não académicos se aperceberem das vantagens desta ferramenta, todos os processos ( internos, externos, comportamentais, profissionais, etc ) podem ser testados por meio da formulação de teses e pela medição repetida de resultados das provas baseadas nessas teses, o mundo vai ser bastante mais eficaz a longo prazo, mas muito estupido a curto prazo. Exemplo: Este post sobre o impacto do ébola em títulos de posts é feito com base numa tese. Os resultados serão publicados brevemente.

Globalização

Hoje descobri que na Grécia também vão a rastejar para uma capela no meio de nada que foi construida num sítio visitado pela virgem Maria. As aparições da virgem dão-se, parece-me, em pelo menos um sítio em cada nação. Acho que dá para fazer um tour à volta do mundo de joelhos à conta destas aparições sem nunca perder a rede, género wifi-spot-beato.

domingo, outubro 12, 2014

Por isso é que inventaram os telecomandos

Estava aqui distraido e deixei a televisão ficar na TVI, pela primeira vez ouvi a Teresa Guilherme mais de 10 segundos de seguida e descobri que há um discurso introdutório à casa dos segredos. O que não imaginava é que fosse tão complexo e longo. Acho que é feito para rir mas não tenho a certeza. Só pode ser arte e da mais pura que já vi: não percebi nada, achei tudo pretencioso e não deu para rir sequer.
A Teresa Guilherme é uma absurdista.

quinta-feira, outubro 09, 2014

O patronato user-friendly e o F.A.Q do universo

Não brinquem: nestes ultimos meses de trabalho, tenho aprendido umas coisas que me aproximam, dia a dia, do satori absoluto. Se relativizava muita coisa por achar que sou só mais um que anda aqui na nave, agora tenho de incluir cada vez mais coisas na lista de coisas relativizáveis e suspeito que até ao fim do ano sou capaz de entender o Marinho Pinto e o Hitler. Trabalhar com gente parva? já sei como é. E com gente brilhante? idem. Velhos? sim. Novos? sim. Outra culturas? Check. Outras culturas mais novas? idem. Com horários? sim. Sem horários? sim. Só me falta deixar de ser um outsider. Para fechar no mesmo estilo, este post é um AMA.

terça-feira, outubro 07, 2014

Ébola: Estudos

Esqueçam a época da gripe, está aí a época do ébola. Aqui ficam algumas conclusões tiradas de estudos anteriores. Há vários.
  • O Ébola espalha-se pela televisão.
  • O Ébola anda a consumir o Marinho Pinto há meses.
  • É melhor apanhar a vacina da gripe, pelo sim pelo não.
  • O Ébola apanha-se nos tampos das sanitas, como todas as outras doenças conhecidas.
  • O Ébola apanha-se em bancos de jardim.
  • O Ébola desenvolveu-se de forma a reproduzir-se nas caixas dos trocos das cabines telefónicas.
  • O Ébola desenvolveu-se de forma a reproduzir-se nas caixas dos trocos das máquinas de bilhetes do metro.
  • O Ébola é pior que o Nilton - só porque o Nilton é a nova versão dos Delfins - nunca foi bom nem deu sinal que o seria, e mesmo assim parece que criaram grandes expectativas a cumprir.  
  • O Ébola passa-se só por fluidos corporais ao redor de aeroportos.
  • O Ébola causa mononucleose, sapinhos e canalQ.
  • A televisão propaga o Marinho Pinto tanto como o Ébola.

Famosos com Ébola:
  • O Rei do Mónaco
  • Toda a gente na casa dos segredos ( isso queria eu )
  • O Cavaco

Terapias aconselhadas:
  • Rorshach
  • Sumol
  • Gel efeito molhado
  • Fazer reféns em jardins de infância

segunda-feira, outubro 06, 2014

Sobre o Marinho Pinto, agora com PDR

Tenho a certeza que ele está a por em prática uma ideia que tenho há uns anos. Sempre que me perguntam "se tivesses x dinheiro, o que é que fazias?", respondo "um partido ou uma religião". Só para ser troll e provar que é possível, por pior que seja a fazê-lo. O Marinho Pinto é o mesmo, só que quer encher os bolsos com isso. 

sexta-feira, outubro 03, 2014

Leitura Matinal II

Ainda puto, lia uns livros manhosos, pretos com letras douradas, sobre todo o tipo de "mistérios inexplicados" o material das teorias de hoje, e lia todos os que apanhava. Ao fim de uns anos a ler os livros - relia-os, porque achava aquilo fascinante - comecei a achar estranho algumas das coisas serem ditas de certa forma, consistente entre todos, um padrão. Havia sempre referências bastante más a judeus, havia sempre ligações entre tudo e tudo, havia ligações entre algumas fotos e umas legendas bombásticas, mas nunca ficava convencido que as fotos eram o que a legenda dizia nem que os judeus conseguiam fazer tanta coisa sem ninguém perceber. Parecia tudo demasiado importante para ser ignorado. Em 2014, as mesmas conspirações alimentam uma boa parte da internet - e de algum espaço político dos U.S.A. - e incrivelmente, há mais factos, provas e entrevistas sobre um evento que ninguém sabe se realmente aconteceu do que havia há 20 anos. Lembrei-me disto porque achei um artigo que consegue provar que Tesla era um génio, que foi assassinado pelas SS, as ligações com os Bush, e que Hitler está vivo. É quase tão bom como ler o Correio da Manhã.

quinta-feira, outubro 02, 2014

Leitura matinal

Cruzo-me com o hooligan simpático - o vizinho de lá de cima que tem tatuagens a subir-lhe pelo pescoço acima e tem o pitbull mas que até agora é o unico que com que deu para comunicar normalmente - e diz-me que alguém deixou um recado na minha porta, mas que não tinha conseguido ler tudo. "Veja lá o que é, eu não percebi.".

quarta-feira, outubro 01, 2014

O Processo

Profissionalmente, tenho de escrever quase todos os dias. Faço por escrever com humor*. O humor escrito para Interfaces de sites aligeira a abordagem de problemas sérios e humaniza a comunicação. Um site deixa de ser maquinal e passa a ter uma personalidade, gente real atrás daquela interface, gente que se frusta, que se alegra, que empatiza.
Há uns anos, estava cheio de design porque via como garantido o caminho que nos levou até onde estamos hoje: um Designer é um género de algoritmo bom a criar versões da solução que toma como ideal e esse processo acaba quando o tempo designado para o processo acaba. Não parece muito interessante ser designer, visto assim.
Escrever seria uma forma de continuar a criar, mas sem perder tempo com 6 ou 7 interfaces em programas diferentes e processos criativos diferentes. Na minha ideia, escrever não precisava de esboços. Não havia maquetes. Não tinha de fazer export para PDF. Nada. Era só eu e um editor de texto.
Mas escrever profissionalment é tirar a piada de escrever. Estão lá os processos todos na mesma, afinal. Escrever com humor dá muito trabalho e tem pouca piada. Escrever um email com 2 parágrafos leva-me 10 minutos. Escrever 2 parágrafos com piada leva-me meia hora. Vencer a tendência portuguesa de falar de coisas sérias com um tom salazarento e mostrar que é possível ter piada e ganhar milhões na mesma, leva-me mais 2 horas.
O email de 2 parágrafos terá umas 3 versões, a autocrítica não deixa serem menos. Depois, as opiniões. E há que dissecar todos os elementos da piada, como a um sapo. A cada análise, o sapo vai esmorecendo mais um pouco. Quando chego à 7ª versão do email, a piada morreu e o sapo também já quer dar uma opinião.
É fácil desistir quando este processo se arrasta por um bocado. A ideia original, que parecia viva, intencional, espontânea, já foi tão debatida e adulterada que já não a consigo ver assim. Não és tu, sou eu. Não dou mais que isto, cheguei ao limite do neurónio responsável por escrever com piada. Os 2 parágrafos que já tomaram 2 horas têm de ser fechados e surge a tentação de resolver tudo rapidamente, em 2 a 5 minutos, com a não-ideia, run-of-the-mill, chapa 10, que não ofende mas não resolve: Adia. Ninguém ganha. Nem o sapo, que se engole no fim.

* Não tenho pretensão de dizer que tenho piada a escrever neste blog, mas tento, obviamente. Escrevo todos os dias em inglês. Não é fluente, é como digo sempre, mangled. É mau. É um misto de inglês de Wiki com Stand-up e Sitcoms americanas.

domingo, setembro 28, 2014

Por falar nisto, mais um estudo

A temperatura de cor da luz de uma casa diz qualquer coisa sobre quem a ocupa.

Chamem-lhe arquétipo

Acabou-se o sossego. No dia em que subi a escada do prédio e encontrei o chão cheio de lixo na direcção e até à porta do vizinho do lado, verbalizei um conjunto alargado de experiências, conceitos e pensamentos numa uma única palavra: Foda-se. Ainda dei um dia, na esperança que fosse gente que como eu, que é importante e que tem mais que fazer, mas que acabaria por varrer a escada.

Não. No dia seguinte, confirmei. Pessoal das barracas, só pode. O pessoal-das-barracas não é pobre, nem vive em barracas, nem é de uma raça nem estrato social específico, é o termo para gente que acha que é muito complexo viver em sociedade. Até sei como é: Vivi com pessoal-das-barracas como vizinhos de baixo uns anos. Foi o mais próximo possível de viver com um episódio da casa dos segredos ao vivo:
Tudo era muito complicado e a interacção é intelectualmente sempre ao nível do jardim-escola. Barulho na escada? o míudo é pequeno, não tem culpa. Lixo atirado da janela? sem resposta. Berraria em casa? sem resposta. Atrasos a pagar o condomínio? a vida está cara e eu não sou rico. As janelas deixam passar vento? Este prédio é uma merda, não pago. A vizinha queixa-se? Deve ser inveja. O vizinho não tem medo de sair à rua à noite? Eu tranco-me em casa a correr quando venho da rua. Sim, em todo o lado há dragões. Tudo muito complicado, porque o pessoal-das-barracas vive uma realidade medieval em que é perseguido de todos os lados. E é verdade. Se tivesse toda a gente a apontar-me defeitos, também me cansava. Mas depois contemplava a hipótese de ter de, vá lá, dar o braço a torcer e aprender a viver com mais primatas.

Há bocado ouvi uns berros em dialecto burgesso do lado de lá da parede da sala. Acabou-se o sossego.

Marketing tem de morrer

Magical my ass
Senhores: A bifana é mágica porquê? Ir ali ao canto do Camões e pedir uma bifana, uma imperial e um croquete é a coisa mais portuguesa que se pode fazer, mas não é mágica. É no máximo, típica. É uma bifana. Não é um prato pseudo-gourmet, nem gourmet sequer. É uma bifana. Uma bifana nunca deixa de ser o que é. Uma bifana é carne de segunda frita em óleo velho, numa carcaça. Não há como fazer bifanas melhores, as bifanas são assim. É uma bifana. Uma bifana não tem como ser mal feita nem tem como ser melhor. Qualquer bifana é o ocaso das bifanas. havendo uma escala de classificação para bifanas, todas valeriam 3. É uma bifana.

Já pregos é outra coisa.

quinta-feira, setembro 25, 2014

Precisam-se voluntários para estudo

Procuram-se humanos com genuíno interesse em saber se o Seguro é melhor que o Costa, idóneos.

quarta-feira, setembro 24, 2014

A realidade é paralela

Nunca devia ter deixado de ver televisão com luvas e tenaz. Voltei a cair na morte cerebral do telejornal, dos comentadores, dos deputados, dos ministros. Já me tinha esquecido do que é viver nessa má montagem que é a realidade da televisão. Se o Twittósfera nacional me enjoa pela trica política gratuita e pelo caciquismo - caciquismo modernaço e educado continua a ser caciquismo - galopante, a televisão enjoa muito mais porque promove o bolor sem disfarçar. Só coisas fora-de-prazo e sem vergonha na cara: O jornalismo stand-de-microfone, o Marques Mendes, o Sousa Tavares, o Marinho, a política como comédia, os deputados como inimputáveis, o Passos que fugiu à lei mas de certeza que foi sem querer, tudo. Já percebi que não é preciso mais exemplos, porque isto é um filão sem fim, mas a solução sempre esteve à mão:
Larguem a televisão, lá fora fazem-se coisas.

Para acabar, à sexta feira costumo ir buscar o almoço à churrasqueira. Enquanto estou na fila, vejo o programa da manhã de um canal qualquer, já a chegar à uma da tarde. É porno para os velhotes que vêem o gordo, o Jornal do Crime  a cores, com detalhes gráficos à altura de confirmar que o mundo é o pior possível. Depois querem que isto ande para a frente.

terça-feira, setembro 23, 2014

Animais de estimação

Deixei de ter gatos e adoptei formigas:

Não miam alto, não partem nada, não afiam as unhas no sofá. Não mordem. Não arranham, não são territoriais e não ocupam espaço. Não largam pêlo. Não cheiram a gato. Comem pouco. Podem ser dezenas e não levam mais que as migalhas do pão da manhã. À tarde ainda o estão a comer. Ao contrário dos peixinhos de aquário, têm uma memória com uma retenção anormal, tiro-lhes a migalha e ficam à procura dela no mesmo sítio por mais 2 horas. São divertidas, também. Brincam o dia todo sem chatear. Quando lavo a louça, estão à minha volta a ver, curiosas. Gostam de ver o Gordo. Fazem carreiros a dizer "Zeca Afonso". Não as preciso de passear à rua, saem por uma fresta da varanda e voltam quando lhes apetece. Nunca fico preocupado se ficam debaixo de um carro. Se mato uma sem querer, aparecem mais 10. Têm carácteres muito diferentes. Acho que lhes vou comprar um hamster femea para lhes fazer companhia.

segunda-feira, setembro 22, 2014

Problemas de identidade

O Novo Banco não nasceu sob uma boa estrela. Tem tudo para falhar, menos o facto de ter nascido já com clientes. É um bom princípio, mas não chega. Por isso, fizeram uma nova identidade.

Tecnicamente, cocó.

O Novo Banco - uma designação neutra e própria de advogados e técnicos de finanças - surgiu em helvetica e com uma borboleta. Como a Helvetica já não diz nada a ninguém, a borboleta diz tudo. A borboleta disse tudo, a meu ver: O BES, banco aparentemente bom, era uma lagarta da couve. Comia o seu peso em ouro todos os dias, já gordo escondeu-se no seu casulo e quando uns tempos depois eclodiu, revelou-se uma linda borboleta, livre de ganhos e cancros, deixando para trás uma má primavera. Diriam que é um falso raccord, a memória imediata leva-me para a lagarta porque conheço ambas as histórias, a da lagarta e a do banco. Quem começou a contar esta nova história tinha na mente contar a outra metamorfose boa conhecida, a do patinho feio. Mas os tipos do banco com o pelicano disseram logo para tirarem o cavalinho da chuva. Não são burros, não.
Veio assim a borboleta contar a história de como nasceu com 2 milhões de clientes, não há que disfarçar, uma borboleta que nasce já com o bucho forrado de ovos. Campanha inerte, identidade inerte.

Eis que relançam, passado 2 meses, a nova identidade. O baptismo dado pelo Banco de Portugal pegou e mantiveram a designação. Seria arriscado dar um nome novo ao banco novo dado que o nome mais recente do banco novo era novo? banco.
Aplica-se uma fonte moderna, arrendondam-se os cantos e mantém-se a borboleta, agora metaformoseada. Uma borboleta que ainda ninguém conhecia ( ou acham que alguém liga a publicidade? ) passou a ser icónica em 2 meses. E digo icónica no sentido hieroglifico do termo, porque agora não sei  o que é. É a borboleta? É uma traça? a metade traseira de umas aspas? um pássaro?

Arranjem uma marca nova. Já deram cabo de tudo, mesmo.

sexta-feira, setembro 19, 2014

Taxismo do dia

Depois de 10 minutos a andar, o taxista pergunta: " então, está tudo bem consigo, tudo a andar?". Não percebi se o tom era de médico ou psicólogo.

É só pegar na bicicleta e é isto

Bike fanboys. Os fanboys são como os Lovers, mas aplicado a objectos. O "Fanboy" mais conhecido é o da Apple. O objecto-computador deixa de ser um objecto e passa a objecto de adoração, ganhando propriedades metafísicas e causando azia em volta.
Na prática, é o efeito do marketing quando resulta bem. Ao que o fanboy responde "não é nada, o computador é mesmo espetacular, já viste isto e isto e isto?". Não, ainda é só um computador bom.

Com as bicicletas de cidade é pior. Em Lisboa não encontro muitos "commuters" mas sempre que apanho um, a conversa começa assim: "ah, boa. Tens uma Brompton?"

Não, porra, não tenho. Tenho uma bicla do hiper, surpresa, tem 2 rodas, assento e guiador mas isso nunca chega. Assim a olho, diria que 90% do rendimento de uma bicicleta depende da vossa vontade e das pernas. Mas vejo o olhar de desconsolo, triste a pique em direcção ao chão quando ouvem "não, é duma marca qualquer", eu sei que ficam de consciencia pesada se disser "essas custam os olhos da cara, isto é uma bike para andar". Se acham labrego as dondocas andarem com logos Chanel, expliquem lá porque é que acham que isso da Brompton é menos bimbo?

2014, os humanos ainda não largaram a dependência de tribos. E ainda querem que o país ande para a frente.

Não me podia interessar menos

Escócia? para cada território a pedir a indepência, há 1 a ser anexado. Não faz diferença, estamos todos no mesmo barco e ninguém sabe nada, no fim. A votação acabar aproximadamente nos 50/50 prova-o.

quinta-feira, setembro 18, 2014

Aquela discussão sobre a cópia privada

Há dias, vi o Prós e Contras, provavelmente a unica vez nos ultimos 3 anos. Geralmente é uma perda de tempo: tem a Fátima Campos Ferreira, que pertence ao género de pessoas-que-sabem-ler-mas-nunca-parece, um género onde é omnipresente e que em Portugal é ocupado por peças como o João César das Neves ou o presidente do ACP.
Só assisti ao debate por 2 razões: Domino o tema e detesto o Prós e Contras; acho que a lei está assente numa premissa errada.

O tema tem visibilidade porque os poucos que querem intervir politicamente no país fazem-no na blogosfera. Em Portugal o Twitter só é usado por boys. Foram eles que deram a cara no debate, frente aos artistas ( todos velha guarda ) e à SPA. Assistir a este debate permitiu-me confirmar algo que já suspeitava - provavelmente isto é preconceito, à conta da apresentadora - há algum tempo: se extrapolar o que ouvi sobre internet, copia e consumo digital a todos os temas que passam pelo P&C, ninguém sabe do que anda a falar e o programa não tem interesse nenhum. Perdi umas horas da minha vida mas confirmei isto, posso voltar a não ver televisão de encher-chouriço como é habitual.

O argumento batido e primário "se pago uma taxa por usar um disco que pode ser usado para ter musica pirateada, então devia ir preso por homicidio por comprar uma faca" mistura 2 assuntos mas continua a ser válido, de tão mal amanhado que é o projecto de lei, uma proposta que admitiram datada por não ter sido aprovada em tempo útil e adiada pelo governo. Novamente, extrapolando o que se passou com este projecto de lei, fico com a ideia que temos legislação em barda para 98, mas nada para 2014. Ainda assim segue, datada, assente numa premissa que é cada vez mais errada, e numa altura em que, graças aos serviços online que ignoraram completamente no debate, as vendas de musica sobem, ao fim de anos de queda contínua.

Sobre coisas sérias

Nestes ultimos meses, tenho vindo a trabalhar numa empresa ( também ) minha. O que tem sido uma aventura em vários aspectos, mas essencialmente uma escola. Trabalhar com pessoal com metade da minha idade e com caminhos - apesar de curtos - bem diferentes e com pessoal da minha idade e caminhos bem compridos e diferentes é um abre-olhos que me permite ainda ter mais a mania que sei tudo. Felizmente não uso esse conhecimento no trabalho, senão era mesmo chato. Por outro lado, não vou deixar de ser o palhaço de serviço tão cedo.

domingo, setembro 14, 2014

Taxismo da semana

Falar do tempo é normalmente a maneira de iniciar a conversa. Mas normalmente não levam tão pouco tempo para mudar o tema  da conversa para a invasão angolana que vai transformar Portugal no Brazil em 5 anos.
Ele avisou, os angolanos andam a comprar tudo. Daqui a uns anos isto vai ser como em Moçambique, com os retornados, e os portugueses vão ter de sair do país. ( Há aqui uma regra: sempre que um taxista fala em retornados, uma boca racista surge nos 7 segundos seguintes ).
Aparentemente, vivo numa bolha, onde não tomo atenção aos sinais: os angolanos andam a comprar tudo e a substituir os empregados brancos por pretos - salvo em restaurantes, onde os portugueses não gostam de ter pretos a mexer na comida - e um dia destes não há emprego para brancos.

- ... Mas isso não vai levar ainda uns anos bons?
- Na, eles andam a comprar tudo. Olhe a Expo.

Mas a culpa é dos patrões. Os patrões, essa classe profissional, tem financiamento gratuito nas empresas, confirmou-me. Por isso é que vendem tudo por tuta e meia aos angolanos.








Depois vi a admiração por um inimigo valeroso. Os angolanos compram tudo mas não são burros, fazem dinheiro. Compram restaurantes, que são o melhor negócio do mundo, mas não compram taxis, lamenta. ah, porca miséria. Só investem em coisas que interessam. Um império angolano de taxistas racistas ( ou pretos, melhor ainda ) a tomar conta de Lisboa pode não acontecer.

- Eles estão todos a vir para cá. Eu já deixei de fazer serviços no aeroporto por causa deles. Tá a ver, o Ébola.
- O Ébola?
- Pois está a ver, o Ébola não tem sintomas. Os gajos pegam aquilo, e como a classe média e média baixa anda a fazer umas poupanças, compram o bilhete e vêm para cá, porque lá não há hospitais.
- ah. Isso pega-se fácil, é?

E isto são 17 minutos de viagem.

Quando dizem que em Portugal não há racismo, não é bem verdade. Aliás, é uma tanga gigantesca. Só não o debatemos. Os portugueses não gostam de debater nada.

terça-feira, setembro 09, 2014

Eu sabia

Turistas. Mais que as mães. Saem de todos os buracos. Qualquer buraco com mais de 30 anos é um buraco antigo. Compram postais do buraco. Bonecos do buraco. Selfies do buraco. Selfies do buraco com o selfie-stick. Jantar à beira do buraco. Esplanada cheia. Tudo com fila, os monumentos com fila, as lojas com fila, as ruas com fila. Consumir tudo até à exaustão. O turismo é o mais parecido que os humanos arranjaram com a migração da formiga vermelha.

sábado, setembro 06, 2014

Prego

Primeiras impressões de Itália: finalmente um país onde há bicas decentes.

sexta-feira, setembro 05, 2014

Armadilhas para turistas

A ideia é viajar. A ideia de ser turista, nem por isso.

 Se viajar pode ser como desenhar, ser turista é ler bd's velhas. Desenhar é ver às coisas à minha maneira. Parte-se de um papel em branco e segue-se.
Andar a ler é ter mapas e guias. Quando a ideia é viajar, isto mata a ideia de descobrir um sítio novo. A ideia do caminho certo não tem jeito, digo eu. Andar de um lado para o outro com certezas é o que fazemos todos os dias. Perder o caminho é perder o fio à meada. O que tem piada é refazer a meada e pelo caminho, entrar num buraco qualquer que nunca se viu e que provavelmente nunca mais se vai voltar a ver.

Há uns anos, fui a Amesterdão com metade de um mapa. A impressora deu-mo assim. Tinha o local do hotel, mas não tinha as ruas que chegavam até ele. Só sabia que era para Norte de outro sítio.

Amanhã vou desenhar para uma cidade nova mas quando chegar lá já imagino o que me vão oferecer: BD's velhas. O Turismo é isto, uma praga, não nos deixa desenhar, já vem tudo mastigado e digerido, as histórias são sempre iguais, umas tretas que o turista de chinelos e meia gosta de ouvir, tudo menos que genuino, só a espuma da cerveja, só o lado certo da noite, só ruas limpas ( a vida sem ser roubado nas Ramblas não seria pior, mas tinha uma história a menos ).

quinta-feira, setembro 04, 2014

Só preciso de ser objectivo

A emissão segue de um país diferente do habitual dentro de 24 horas.

segunda-feira, setembro 01, 2014

Só naquela

Estava ali a ouvir a reportagem da sic sobre as fotos-da-Jeniffer-Lawrence-que-apareceram-na-net e a rir-me com a exactidão da notícia, que tem sempre um tom algo inocente, naif, extemporâneo à internet. A linguagem da televisão portuguesa é como a dos portugueses: expostos, são inocentes. Escondidos num tasco, são o Tarzan Taborda com coca.

Disseram "Jeniffer Lawrence QUASE como veio ao mundo". Ó senhores, mas se fosse QUASE alguém queria ver as fotos? Para isso basta cruzar-me com ela na praia. Não era bem isso.
Podiam dizer como diz a Nova Gente, "poses sugestivas".

Depois adiantaram que haveria muita gente à procura das fotos no twitter. Bom, não é bem essa a especialidade do twitter. O twitter até nem é muito bom para isso. O Imgur é melhor.

E avisaram que toda a gente que partilhasse as fotografias ia ser processado. Pois.

Podiam ter aproveitado para falar de net, telemóveis e privacidade. Mas não. Para isto, mais vale ir para a net. Só naquela, procurem por "The Fappening".

O cabo das tormentas

Ouvi dizer que os blogs voltaram a ser importantes. Os que sobreviveram a travessia desta fase em que o blog não dizia nada a ninguem atingiram a maioridade e são agora tão sólidos como o NYT. Face ao jornalismo que morre a cada dia, o Blog é um género de barata radioactiva gratuita.

quinta-feira, agosto 28, 2014

Daqui desta Lisboa

Aqui nada se passa: Cheguei das férias, os vizinhos ainda estão nelas, não ouço o cabrão do cão a descer as escadas a trote com as unhas nas tábuas do soalho e o rabo a bater no corrimão, a velha do andar de baixo não liga a televisão, o café está vazio e não serve caracóis até à meia noite, a pastelaria da esquina tem a esplanada improvisada cheia porque é a família do dono, putos indianos muitos e calados, na esquina de baixo a tasca vai servindo minis aos trolhas habituais, a papelaria que vive à conta da escola já abriu mas está sempre vazia. Porta sim porta não as igrejas envagelicas estão todas a trabalhar a meio gás, os 2 sem abrigo habituais passam o dia entre 2 carros. A Penha de França é uma zona insegura, dizem os velhos e contraria a senhoria, mas tirando facadas alheias, ainda não vi nada.

terça-feira, agosto 26, 2014

Habitats naturais e não-naturais, um estudo

Gente esfaqueada num concerto do Anselmo Ralph, gente que leva porrada no Vasco da Gama, um tipo esfaqueado no Cais do Sodré e praias inabitáveis no Algarve: A culpa é da crise.
As cidades evoluem no sentido de oferecer o melhor relação habitat/habitante possível. Contrariar as forças da natureza que definiram a preciosa função de sítios com a Amadora, o Cacém, o Cais do Sodré ou da Lapa é desafiar leis intemporais.
Em Lisboa tenta-se fazer do Cais do Sodré um sítio in. Eventualmente acontecerá, mas até lá, esperam-se sacrifícios regulares de inocentes. Este esfaqueamento da semana passada chegou às notícias porque implicou um tipo com dentição completa, licenciado, viajado, de-boas-famílias. No entanto, há esfaqueamentos no Cais do Sodré todas as semanas. Mas é só de pessoal xunga que, como eu, viajaram bem menos, chamam-se Santos ou Silva e assim levam a facada anonimamente, nunca entrando na conversa de café lounge vintage sobre insegurança. Este fenómeno cognitivo pode encontrar-se também em pessoas que usam frases como "eu até gosto de andar de transportes públicos" e "Não ando no Martim Moniz porque tenho medo de ser roubado".
Anselmo Ralph e concertos no geral: O porquê dos betos gostarem de kizomba e afins pode ser analisada de muitas formas mas a resposta é simples: kizomba nunca foi bom, é só falta de gosto. Misturem os fans reais do Anselmo com os que o ouvem à laia de very-tipical e há um choque de culturas. Afinal kizomba, como todos os géneros de musica, é uma coisa séria. Perguntem aos fans da Ana Malhoa.
A culpa disto tudo, como sempre, também é do Passos. Indo ao bolso de todos, meteu os novos ricos a pensarem que têm de ir a eventos gratuitos onde normalmente não iriam nem pagos para isso. Fiquem em casa. Por todos.

P.S. no surf observa-se o mesmo fenómeno: normalmente vendido como actividade zen e boa-onda, nesse floreado não entram os Locals. Os Locals provam que há uma zona natural para um tipo estar. Se estás a surfar numa praia que não é tua, podes ser só um palhaço do caralho que não sai da frente, ó filha da puta.

quinta-feira, agosto 21, 2014

Tudo menos putas

Alguém devia explicar ao gerente que a) o pessoal cá fecha os olhos à prostituição b) Entre os clientes habituais há GNR's.

A lista de actividades, em detalhe:

Shower Dance
Shower Mix
Show Vip
Erotic Bed
Table Dance
Private Dance
Private Touch

Pelo imobilismo - Uma praia é areia e água

Como quase todos os portugueses, só faço férias de praia. Sou meio masoquista e gosto de confusão, por isso tiro-as sempre em Agosto. E meto-me na boca do lobo, no Algarve. Não é que voluntariamente goste de confusão, apenas gosto de sítios que são sobre-populados durante 3 meses do ano. Essa falta de gosto - podia gostar de ir para o Gerês ou para o Alentejo - limita-se à escolha da zona onde fico. Não implica abdicar de mais nada, especialmente da combinação que vim cá à procura: Areia e água.

Mas as praias estão cheias de gente que não gosta de areia e água. Fazem de tudo para se abstrairem desse facto. Estou deitado na areia, em frente à água e vejo-os, sempre ocupados. Jogam à bola como se não houvesse amanhã, jogam paddle, jogam à bola dentro de água, jogam volley, jogam ao kames, jogam à sueca, jogam no telemóvel, ocupam a praia toda nisto, só actividades, tudo para esquecer a areia e a água, e eu deitado na areia em frente à água, a desviar-me do kames e do sol. Numa boa parte dos sítios, as actividades já não chegam e surgem empresas para ajudar a passar este bocado de tempo que nunca mais acaba. Massagens na praia. Gaivotas para alugar. Banana-boats. Escolas de Surf.
Até que em desespero, alguns tentam salvar toda a praia deste destino e metem musica ambiente na praia. Alto. Para todos irem para casa mais cedo e poderem descansar do inferno que tudo aquilo podia ser, só areia e água.



Notas laterais sobre customer service: Portugal oferece cada vez mais turismo de merda. Criado por labregos para labregos e todos os que não se acham labregos - eu - mas que têm de levar com ele.
O Turismo de Merda está em todo o lado onde há uma boa quantidade de turistas. Sobrepõe-se à realidade local, atropela-a, desvirtua-a, tira-lhe tudo o que é genuino, mete-lhe um galo de barcelos no cu e mata tudo o que há de genuíno num local. Eu que sou um purista, gosto de genuíno. Bom ou mau. Mas no entanto, e sem pagar nem pedir, oferecem-me:

Praias com musica lounge = merda.
Praias com techno = merda.
Praias com WIFI = merda.
Praias com DJ's = merda.
Praias que estão a 2 km de distância com sunset parties manhosas com o volume tão alto que se ouve como se estivesse lá = merda.
Artesanato com tampas de Nescafé = merda.
Bancas de Tererés = merda.
Bancas de caricaturas de merda = merda.
Preços inflacionados só porque sim = merda.
Restaurantes habituados a servir camones uma só vez e que por isso sabem que podem marimbar-se no que fazem = merda.

quarta-feira, agosto 20, 2014

Nada de novo

Passam-se os dias a subir e descer escadas e escarpas onde não há escadas, comem-se gelados e comparam-se níveis de queimadura solar. Encho o bandulho de gelados. Faço o possível para ter uma cama ao lado da mesa do almoço, dispenso a powernap mas aprovo a sesta depois de almoço. No Algarve não se passa nada, os camones validam todo o tipo de actividades portuguesas como sempre, especialmente aquelas que poucos portugueses praticam, paellas touradas e passeios de barco, sardinhas a 10 euros, mackerel e chourizo. Há mais pubs britanicos em Albufeira que em Lisboa, os putos alemães atiram-se de 15 metros para a água como quem come um prego. Os Algarvios não dizem nada de novo, já sabem o que vem a seguir, 9 meses de marasmo a bolos de alfarroba e medronho. Não se aprende nada.

segunda-feira, agosto 18, 2014

Cascais no Algarve

Os maior perigo daqueles posts com títulos como "os 10 melhores sítios na costa vicentina" é que vão parar ao desktop de um beto. Os betos propagam-se como gafanhotos, tanto em termos bíblicos como em termos de descendência, e usam isso para ocupar terras inteiras.
Aconteceu aqui ao pé. Se em Lisboa os betos são atraídos por pastelarias caras e pelo santinni, no Algarve são atraídos pelo marisco e pelos restaurantes decentes. Como no Algarve há poucos, ao chegarmos a um restaurante minimamente decente, ele já estará a ser dizimado por betos. Armados de pólos às cores e pérolas nas orelhas, devoram tudo. Depois, fazem ninho. As proles, pequenos betos alvos e aprumadinhos pululam por todo o lado às dezenas. Ocupam parques de estacionamento, tratam-se por você, chamam-se Caetano e Constança. Uma praga.

sábado, agosto 16, 2014

Mudanças

Próximos tempos, as emissões continuam do Algarve. Esperam-se posts sobre esplanadas mal servidas, praias com musica de fundo, praias ao longe com musica de fundo, pessoas que ainda não têm tatuagens e técnicas de estacionamento avançadas. Nada de novo, e é assim que se querem as férias: nada de novo.

quinta-feira, agosto 07, 2014

a sharktankização

Quando era puto, as notícias sobre economia eram uma nota no fim do telejornal. Abrir noticiários a falar de bancos e taxas de juro era muito improvável. Passados 20 anos, o telejornal só fala de economia e daquele tipo em Cinfães que tem uma couve com 2 metros de altura. As mentalidades vão mudando, aos poucos, com o tempo.
Quando era puto, não havia empreendedores. Passados estes anos, estão em todo o lado. E o tipo da couve de 2 metros agora vê o Shark Tank e acha que vai poder pedir uma patente sobre o uso da couve e licenciar fotos da couve a 3ºs, recebendo royalties mas oferencendo 5% do revenue gerado por estes, depois de conseguir um bom canal de distribuição e investir 200K em televendas.
Daqui a 20 anos,  já ninguém dirá nada sobre isto.

sábado, agosto 02, 2014

A Torremolinização de Lisboa

A mecanica é simples: uma cidade tem algo com especial interesse para visitar. Facilitam-se as formas de a visitar. Criam-se estruturas para apoiar quem a visita. Ignora-se tudo o resto.

Passados uns anos, temos Torremolinos.

Lisboa está a caminho da sua torremolinização. A Baixa está quase, o Bairro também, a Bica pouco falta, Alfama para lá caminha. Hostels, hoteis, Airbnb's, lojas, cafés, os negócios vintage-fáceis estão a tomar conta destas zonas e quem ainda lá vive, já deixou de viver num bairro há muito.

Aqui ao pé de Lisboa, em Óbidos, está a acontecer o mesmo. Não é pior porque Óbidos não é tão espetacular para viver como Lisboa. É frio e não se pode estacionar o carro à porta de casa. Mas enche-se de lojas, de ginja, de restaurantes e habitantes, só velhos, são cada vez menos. Até que aquilo, um dia destes, é só um centro comercial a céu aberto. É uma vila na mesma, então?

sexta-feira, agosto 01, 2014

Lista de temas impossíveis na internet ( actualização )

Além de todos os temas do universo, há temas especiais que são famosos por serem impossíveis de abordar e encontrar uma oposição saudável na internet. Encetar uma conversa online sobre algum dos temas abaixo serve de revelador: descobrir-se-ão trolls, burros, anormais burgessos e aventesmas debaixo de uma camada de sais de prata.

  • Gatinhos
  • Anjos
  • Golfinhos
  • Vegetarianismo
  • Monsanto
  • PSD
  • Funcionários públicos
  • Estágios não-remunerados
  • Religião ( todas )
  • Israel
  • Gaza
  • Amamentação

domingo, julho 27, 2014

Sobre criatividade e trabalhar nela, para fechar

Isto são verdades absolutas e imutáveis, ponho-as aqui para servirem de recado para angustias vindouras:

  • Todas as pessoas são criativas, independentemente da sua idade, formação profissional, aceitação ou negação. Não existe a capacidade de não-criar.
  • A prática e aplicação da criatividade não é exclusiva a nenhuma área profissional em particular; Um designer, um talhante ou um matemático fazem-no regularmente.
  • A expressão mais universal da criatidade é o design e a comunicação visual.
  •  A prática de Olhar é comum - VER não é - e erroneamente convence quem olha de que o hábito lhe incutiu a capacidade de se expressar visualmente.
  • A vulgarização do acesso a imagem e a ferramentas de criação de imagem desbaratou-a, tornando-a mais e mais descartável.


    E esta é a explicação teórica para a merda dos clientes.

sábado, julho 26, 2014

Eu não sou o Target

É tudo bom, eu é que não sou o Target.

sexta-feira, julho 25, 2014

quinta-feira, julho 24, 2014

3 milhões

Gostava de estar lá a ver Ricardo Salgado a assinar o cheque de 3 milhões de euros para ficar fora da choldra. Queria perceber se 3 milhões é um valor absoluto ou ainda é relativo.
Que cara é que um tipo que respira, que lá no fundo tem uma vida como a minha, vai almoçar, tem familia, tem duas pernas, larga - porque não vai ficar onde um outro gajo qualquer, com uma vida, no fundo, como a nossa, que teria simplesmente de se aguentar e não refilar muito - várias dezenas de vidas de ordenado acumulado de um tipo normal?

  • Custa-lhe tanto como a mim largar o dinheiro da segurança social?
  • Custa-lhe como pagar uma multa de estacionamento?
  • É como ir na rua, meter a mão no bolso e dar pela falta de uma nota de 20? ( foda-se )
  • É como perder um braço?
  • Pensa "lá vou ter de cortar nas despesas."?
  • Pensa "já ontem me calhou a carta dos impostos no monopólio, isto é uma maré de azar".
  • Já não tem noção de nada só porque não sabe quanto custa uma carcaça?
  • O que é que diz à mulher? "foi só desta vez, querida."?
  • O que é que diz a ele mesmo? "Nunca mais faço uma destas, juro."?
  • Os zeros cabem todos no cheque ou só consegue escrever por extenso?
  • Pensa na quantidade de aviões que anda a cair por semana e acha-se um gajo com sorte?
  • Ainda usa cheques? Os zeros todos cabem no ecran do multibanco?
  • Qual é o código de multibanco de um gajo destes?
  • Afinal a nota estava no outro bolso.

Nisto houve uma coisa que me surpreendeu pela positiva. Já estava eu no trabalho a apostar em quantos quartos de hora ele estaria na rua - graciosamente, claro - quando descubro isto, que teve de pagar para sair. É um sinal dos tempos, e é um bom sinal.

Nos idos de 1980

Há 30 anos, a publicidade era uma industria de vanguarda. Cheia de talento, dinheiro e vontade. Se calhar isto é só mito e no fundo era um industra salsicheira como é hoje: a criatividade existe, simplesmente não é o motor que as faz andar. Esse é o lucro. Toda a industria anda como se esse lucro não tivesse origem na criatividade mas na produção de salsichas. E agora faz-se muita salsicha. O objectivo inicial perdeu-se e estão também a perder-se criativos e a ganhar muitos salsicheiros.
As Startups são agora a vanguarda - onde está agora o talento, o dinheiro e a vontade - com a premissa inversa: O que as faz andar é o lucro e o motor é a criatividade. Não há clientes na equação - poderá haver um equivalente, mas como esse cliente abstracto é ganancioso, só quer saber de números, não quer saber como chegamos lá ( como deveria ser um cliente de publicidade, no fundo ) - e só temos de fazer o melhor que sabemos para chegar lá.
Lembrei-me disto porque há uns tempos, a meio de uma reunião de produção, chegou-se a uma conclusão que cheirava a salsicharia da publicidade: uma ideia cega que não tinha em conta o mundo real e que só funcionava na cabeça de 2 ou 3 humanos. Em anos, foi a primeira vez.

Nota: As startups são apenas empresas. Só isso.

terça-feira, julho 22, 2014

Ando a ler um livro que me está a influenciar nesta opinião, e não deixa de ter piada a sua origem

Os sindicatos dos professores são paranoicos. Paranoicos porque funcionam num modo emocional. Só emocional. A parte racional parou em 1982 e desde aí empregam o mesmo racional por defeito, e actualizam ( não muito ) a indignação paranoica. Lidar com sindicatos é coisa para psicólogos, não para políticos.

Amanhã actualizo isto, quando ( se ) perceber realmente - ninguém explica isto racionalmente - o que se está a passar.

Update: Confirmo. O que se está a passar é o PC com o discurso parado em 1982, em loop. Nem se chega a perceber o que realmente está a acontecer, mas é "depois do 25 de Abril de 75."

segunda-feira, julho 21, 2014

Hiper-relativismo absoluto

Guerra:
Estudos indicam que as crianças portuguesas dos anos 70 são hoje adultos incapazes de considerar qualquer tipo de movimento militar ou político ou qualquer tipo de acontecimento isolado como capaz de despoletar qualquer tipo de conflito global devido a exposição prolongada ao conceito a) de guerra fria. Estudos indicam que até ao rebentamento de um obus ( ainda há obuses? ) nos pasteis de belém, não há motivos para alterar qualquer tipo de rotina nem considerar nenhum tipo de cenário hipotético.
Num teste cego com historiadores, escritores advogados militares e políticos frente a vários cenários - Vasco granja, Vasco Gonçalves, Estaline, um cesto de vi-me e vários exemplos de capicuas num crisma ( os cenários foram escolhidos por cegos ) - revelou-se um consistente incapacidade de, apesar dos profundos conhecimentos na área, conseguirem demonstrar algum domínio em futurologia. 3 em cada Nuno Rogeiro culpam a volatilidade do pensamento humano por este facto.

terça-feira, julho 15, 2014

Demasiada informação

Há uns anos, um amigo meu fartava-se de gozar com os designers do IADE. Especialmente as miudas. Chamava-as de meninas-do-Keith-Haring, porque era isso que eram. Hoje tenho de lhe dar razão porque realmente havia ali uma falta de substância - em vários pontos, começando pela idade, ninguém espera que estudantes universitários sejam espantosos em muitos aspectos, especialmente no que toca a experiência de vida - que era colmatada com esta apropriação de trabalho dos outros, como se seguir ou gostar de um artista, corrente ou ícone nos aproximasse das qualidades que julgamos inerentes a esse dito... espera há pessoas com mais de 30 anos que ainda acham que isso também funciona com estas e todas as outras coisas, tipo restaurantes, galerias de arte ou concertos e coiso mas não, gostar de Damien Hurst não me faz mais inteligente, nem mais próximo de atingir o que ele faz, só faz mais disponível a aprender mais umas coisas no fundo sou burro como sempre mas com mais referencial para provar que não sou burro e agora estava ali a ver uns designers a fazer mapas de tasks na parede com dezenas de post-its e a pensar que os métodos muito elaborados de trabalho são um pouco como gostar de Keith Haring.

Estudos indicam que 1 em cada 2 cadeiras não tem par

Cronologia de cafés lisboetas em linha evolutiva:

O café Vintage Indie: há 10 anos, já havia cafés vintage. Estes primeiros cafés lançaram o estilo de todos os que se seguiram: O estilo Sortido. Cadeiras, mesas, candeeiros, pratos, copos. Nenhum destes itens deve ser encontrado repetido dentro do mesmo sítio, todas as peças devem ter pelo menos 30 anos. A decoração vai desde raquetes de badmington a bidés e jogos da Majora. Estudos indicam que nesta fase, estes cafés eram originais.

O café Vintage Indie proliferou, ao ponto de qualquer pessoa poder entender e copiar o estilo e trazer elementos novos. Surge o estilo Sortido-Amelie:
O mesmo sortido de cadeiras e afins, mas com um só tipo de copos. Copos que não casam é coisa de malucos e davam ar de falta de concentração. A decoração é geralmente opressiva. Geralmente deixa-se o bar atolar de tralha tirada da feira da ladra, a escolha dos objectos aparentando ser arbitrária. Revertem em foto-ops para o instagram facilmente.

Aparecem depois os bares estilo Amelie-Bandwagon. O somatório de tudo o que foi feito até aí, mas já apropriado por qualquer pessoa destituida de cérebro e vontade. A decoração comporta tudo o que já foi referido, o que os distingue é o espaço onde se inserem, que geralmente está à beira do desmoronamento mas com intervenções pontuais, ora extemporaneas, ora simplesmente erradas. Estas podem ir desde as lampadas de halogénio aos plásticos a tapar o buraco no tecto.

Finalmente, surge o estilo Vintage Gourmet-Bandwagon. As cadeiras, pratos, copos e mesas obedecem a um manual corporativo, a decoração é feita de tralha escolhida a dedo por decoradoras, de modo a não ofender o gosto pré-adquirido dos clientes, passando obrigatoriamente por pelo menos um quadro de gis com lettering mais ou menos cuidado ( vide instagram ). É a versão comercial do Vintage. Distingue-se pelo cuidado especial ao menu, que vai mudando conforme o que estiver na moda - vide Gin e Hamburguers - na cabeça dos hipsters.

Nota do Prezado:  Os diferentes tipos de café vintage têm em comum a sua génese. São empresas familiares de novos-ricos. Isto é comprovado pelo atendimento, que é sempre o pior possível no que toca a eficácia. Estudos indicam que 95% das pessoas que pedem uma tosta ouvem do empregado um chorrilho de queixas sobre o tempo que a máquina leva a ligar e têm uma tosta mista ao fim de 45 minutos.

domingo, julho 13, 2014

O Papa

Lembrei-me agora que esta semana vi o Papa a dizer que não ia rezar pela Argentina na final. Como muitas outras coisas que o Papa diz, Podia jurar que o disse como uma piada, juro que vi um micro-esgar de milisegundos, uma micro-pausa a esperar a resposta, a convidar ao escape do riso, uma culpa freudiana quase a rebentar.
Se dessem o público certo ao Papa, ele era um grande número de stand up. Era só à base de pausas certeiras.


terça-feira, julho 08, 2014

Freelance ( em Portugal )

Consegui ser pago. Ao fim de mais de um ano.

O problema com o freelance não é "só em Portugal". Freelance é freelance, independentemente do país. É igual. Prazos, entregas, discussões, orçamentos, fugas ao orçamento, horários, emergências, isto tudo por um budget que pode começar por parecer ganancioso, passando a mais que justo, injusto e finalmente, grátis. Isto acontece em todo o lado. Mas também acontece haver outro tipo de freelances. Mas poucos.

"Só em Portugal", são duas coisas: não valorizar o trabalhos dos outros ( seja qual for ). Sermos poucos.

segunda-feira, julho 07, 2014

Nova vizinhança

Os prédios, um pouco como as pessoas, começam por parecer normais até que ao fim de uns tempos começamos a perceber que afinal não há prédios normais.
Os vizinhos da frente são invisiveis e manifestam-se pela presença de terceiros. Ora é o eletricista ou o canalizador. Vejo que há uma força motriz atrás daquela casa mas não vejo nada. Devem ser forças da natureza.
A de baixo é surda, parto do príncipio que é uma velha. Só lhe ouço a televisão. Tem uma neta beta.
Os de cima não fazem barulho.
Os de cima de cima são os melhores: têm um cão que gosta de descer a escada a cavalgar o mais rápido possível mas que infelizmente não passa a obdecer a ordens por mais alto que as gritem.
Falta-me descobrir qual foi o vizinho que sussurou para a escada um SHIUUUUU muito alto para que os trolhas no rés-do-chão camartelassem mais baixo.

terça-feira, julho 01, 2014

Preciso de água das pedras para o plágio

O pessoal gosta de chamar plágio a qualquer coisa e nomeadamente a tudo o que seja parecido com outra coisa ( tudo ). De tempos a tempos, acontece algo raro: a acusação de plágio ultrapassa o meio onde nasceu, a escrita, o design, a ilustração, a arte, e entra na conversa de café. Mais raramente, depois de entrar na conversa de café, pede-se a responsabilização de alguém. O que em Portugal, é um caso sério.
Não temos por hábito fazer isso às pessoas. Podem ser nossos primos, amigos, vizinhos, ex-amantes, guarda-freios, vendedores de cautelas, deputados ou anónimos ( mas amigos de um vizinho que ainda é primo de um deputado ). É o que dá sermos poucos e pouco dados a modernismo.
Tirando a Clara Pinto Correia, não me lembro de nenhum caso de plágio a chegar à conversa de café. Mas no canto dos cafés na agência, havia conversas de plágio.

O Plágio real é raro. Já a sensação de me estarem a enganar é vulgar. A acusação de plágio funciona nos mesmos moldes da acusação - aqui usa-se sempre o Picasso, já vão ver - de que até o meu puto de 5 anos pinta o mesmo que o Picasso. Sim, também qualquer pessoa copia qualquer coisa já feita. Mas é o contexto e a intenção em que o executa que faz a diferença. 
Pois, a porra das ilustrações das garrafas Castello é inspirada num autor conhecido. Mas é isso, inspirada, trabalhada sobre, iterada. O que é, mais coisa menos coisa, voluntaria ou involuntariamente, como a criativadade e o mundo andam para a frente. A ver o que os outros fazem, mas melhor.
O que está ali é outro trabalho, outra intenção. Trabalhada. Mas pouco.
Para sermos correctos, a ideia foi roubada.
E como se sabe, vergonha é roubar e ser apanhado.

quarta-feira, junho 25, 2014

Se fosse noutros tempos, eu topava a meio

- Porra, mas que horas são? parece-me que cheguei aqui de manhã, mas é noite.
- Não sei.
- E não me lembro mesmo como é que cheguei a casa. Como é que pode ser? nada. Eu não tava com os copos. Não me lembro de abrir a porta, de subir a escada, nada.

Eu devia ter reparado que estava no momento-inception do sonho.

O melhor do Bairro

O Mercado da Ribeira que eu conheço mete esta história: Numa noite memorável de copos, um tipo muito bêbado senta-se à minha frente num tasco de muito má fama e diz onde nasceu, a meio da verborreia sem sentido. Ali ao lado, no mercado da ribeira, parido entre duas bancas do peixe, há muito. Passados 60 anos, a vida passava-se toda ainda em volta do mercado da ribeira. Se o homem ainda é vivo, está ali à volta do mercado. Mas largou a bebida e meteu-se na coca.
Porque depois de ver o que fizeram ao mercado, é a unica forma de lidar com a realidade.
O mercado da ribeira está feito uma espécie de gare com restaurantes indiferenciados, um refeitório de luxo. Ir ao mercado da ribeira na esperança de comer coisas diferentes seria o mais natural. Como ir ao circo. A piada do circo é ser universal. Há de tudo. Quem não gosta de palhaços, vê os leões, quem não gosta de animais, vê o ilusionista, quem já conhece os truques, vê as trapezistas. Quem não gosta de circo, vai a restaurantes a sério.
O mercado é um circo só de palhaços. Eu com a mania traduzo para americano: é um one-trick-poney. Na senda do neo-vintage-neo-cool-neo-retro, meteram todos os números de circo do mesmo género, os tascos-do-bairro, a mercearia-do-bairro, o-melhor-bolo-do-mundo, a peixaria-ideal, os enlatados-portugal no mesmo espaço, normalizando tudo. Todos são tradicionais, todos adjectivam os menus, todos misturam abacate com salmão braseado e amendoins. Sim, já percebi: há coisas que parece que não casam mas para quem sabe apreciar, casam. Eu sei, eu sou um brutamontes, não sei apreciar pêra com farinheira. E bolo do caco. O caralho do bolo do caco. Com hamburguers. E farinheira. E sumos detox. E farinheira. E mais hamburgers.
Tudo novo mas a imitar velho mas com pratos novos mas com coisas antigas. No meio de tanto defeito, tentei encontrar outro motivo para tudo estar mal que não fosse eu. Acho que é a falta de genuinidade.

Comi bem. Nunca mais lá volto.

sábado, junho 21, 2014

Dantes não havia nada, foda-se.

A cena Vintage veio para ficar. Era fácil de gostar de coisas retro. Apelava a valores que achamos que vingavam noutra altura - na prática não fazemos ideia, não acredito que o pão de 1946 fosse melhor que o de hoje - tinha uma estética bem pensada, eram very-tipical.
Mas isto vem de lá-de-fora. Onde há uma tradição de design, do marketing, dos serviços. Há um contraste e há uma história. 
Mas nós sempre fomos retro-vintage. Ou quase, porque no fundo nunca tivemos nada que se assemelhasse ao comércio que agora simulam. Eramos só pouco endinheirados. Aquelas tralhas todas-diferentes-todas-iguais retro vintage que agora ocupam a praça da ribeira, que nivelam tudo por igual nunca foram Portugal. São tiradas do imaginário americano. Onde o Retro convive com milhares de outras coisas. Aqui tudo é retro, tudo é actual, tudo enjoa. Logotipo antigo não é logotipo bom, é só uma visão do antigo. Não passa disso.

Lembrei-me disto porque hoje de tarde passei por 4 VW beatles dos antigos, fila indiana, cada carro descapotavel com uma pessoa só, de boina. Um serviço de turismo, mais um, onde cada um anda num VW à laia de carrinho de choque. Uma pessoa por carro. A ocupar espaço.
Lisboa, especialmente na Baixa, está cheia destes serviços. Que ocupam tudo com histórias que não são as nossas. Nós não tivémos retro nem vintage, só tivemos probreza da boa. Não havia Santinni para pessoas pobres mas honestas. Havia pastéis de bacalhau. Não havia Padaria Portuguesa com bicicletas paradas à porta. Havia alguém a fazer entregas na bicicleta, Lisboa abaixo e acima, de tudo o que calhasse. Era trabalho. Se querem achar que algum tipo de trabalho honesto tem glamour, imaginem o vosso trabalho de hoje a ser descrito com glamour daqui a 80 anos. O meu não tem muito. Depois, os hotéis. Mais que a gentrificação, - é ver como está o Cais do Sodré - a quantidade de hotéis, airbnb's e hostels na Baixa começa a enjoar. A cidade só tem piada se tiver as pessoas dessa cidade a viver lá, e não um aglomerado de quartos para alugar a estender-se desde Alfama até Santos.
Vejo isto, penso na Lisboa do Facebook e da internet, aquela que é a mais bonita da Europa, que tem o melhor qualidade de vida votada por alguém algures, um relações públicas algures encarregue de vender um hotel novo e lembro-me do sul de Espanha, que era um sítio bonito e que foram enchendo com apartamentos à tripa-forra até ao ponto em que milhares de turistas puderam finalmente pagar uns dias de férias com vista para outros apartamentos. E quem lá vivia, foi-se.

segunda-feira, junho 16, 2014

Inédito

O Prezado vai falar de bola.
É preciso.

Há 10 anos, deu-se o euro 2004. Isto, para quem não se lembra, foi o apocalipse now da bola para quem não gosta de bola. E eu na altura, não gostava activamente de bola. Era coisa para, como bom velho do restelo sindicalista, reclamar por manifs contra, fechos de canais de televisão e bombardeamentos em estádios. Como no Brasil, em Portugal também havia gente a dizer que era só dinheiro mal gasto, o país no estado em que estava - a tal crise, mas uma outra que aparentemente não devia ser esta mas que no fundo é a mesma - e o pessoal a enterrar dinheiro em estádios para serem usados 3 vezes. Eles lá estão, uns elefantes brancos lá para Vila Nova da Fateixa ou Cerzimunde ou outros sítios onde judas perdeu as botas ( não são Lisboa, por isso é sempre longe ). Eu sabia! Eu avisei.
Dizia, 2004. Publicitário. Fiz eu fiz campanhas de publicidade para o Euro. Só para melhorar a coisa. Eu, que continuo a saber de bola pouco mais que nada. O campeonato a começar em Junho e eu já cheio de mupis, folhetos, brindes, posters, cartazes, pendurantes, jingles, press releases e o diabo a sete desde 2003. Depois, a histeria. Para quem não se lembra, aquilo a que se assistiu naqueles tempos foi o sonho molhado de todos os deputados: um povinho obcecado até à doença com a bola, completamente alienado, a bola só a bola, durante não sei quanto tempo só se falou de bola, só fiz campanhas com bola, tudo vendia com bola pelo meio, desde sabonetes a seguros, de cotonetes a shampoo anti-caspa. Tudo. Olhando para trás, não sei como é que ninguém aproveitou para fazer um golpe de estado. Ninguém ia notar. Nem houve incendios esse ano.
Dizia, 2014. Tolero a bola. Aprecio a bola como aprecio concertos de B Fachada: encosto-me ao bar, bebo uma imperial fresquinha e estou na conversa um bocado. Sei tanto de jogadores como sabia há 10 anos: há o Meireles, o do cabelo. Há o Fábio Coentrão que tem um nome sinestésico, tão mau que vejo cores e ouço sons e assim não esqueço, há o Ronaldo, que pelo que ouço é o maior do mundo mas tanto no sentido de ser uma besta como no sentido de ser bestial. E há o selecionador, o cabisbaixo do risco ao meio.
Apesar disto, vi mais jogos no ultimo ano que nos ultimos 10. Não mudei de opinião, só o tolero pelo que é. Assim como aceito que o mundo tem guerras, fome e doenças incuráveis, aceito que tem bola, e que lá no fundo, um jogo de bola não muda nada.
Até hoje. Foda-se um gajo está com boa vontade para ir beber umas jolas e curtir 90 minutos e estes labregos metem toda a gente pior do que estava?
Por isso é que não curto bola.

sexta-feira, junho 06, 2014

TV WC

Nos anos 80, uma musica dos Taxi dava o mote para os pós-modernos-de-bairro-alto de 90 afirmarem a uma posição. "não tenho televisão sequer" era dito com garbo ( ainda é, pelo pessoal que ainda pensa em televisão e não em Smart-tvs e Vimeo em couch-mode ) . Hoje a coisa inverteu e parece-me que aquela lenga-lenga, ponto assente, que gostar de televisão é coisa de conformistas, como diriam os góticos do SouthPark, morreu.
Ainda assim: Não, eu não vejo o Game of Thrones. Não, não seguir séries não é estranho, nem é uma opção que tomei. Nem é um "statement". Seguir uma série é que é uma opção. É só tv.

quarta-feira, junho 04, 2014

Só naquela

Não é que António Costa seja genial. É um produto do aparelho do PS, afinal.
Mas Seguro é igual ao Passos, por isso não pode ser. Já chegou.

terça-feira, junho 03, 2014

Os saloios

Disclaimer: ser tuga não é uma cruz nem somos especialmente diferentes de qualquer outro povo senão no número. O número ( pequeno )  condiciona tudo o resto. Sermos poucos torna-nos mais visíveis. Sermos poucos torna-nos todos primos uns dos outros. Isso compromete-nos. Juntem a isso umas condicionantes lixadas, tipo cultura, educação, dinheiro e está a caldeirada feita. Ainda assim, não somos diferentes dos americanos, noruegueses moldavos ou australianos. Só somos poucos e temos mais duns tugas que doutros.

Temos mais saloios. Somos saloios. Os saloios são rápidos a achar que lá fora é que se trabalha e que se faz e acontece. Mas não. Cá faz-se o mesmo e se não se faz é porque outros saloios, primos de certeza, não querem que a coisa mude. Os saloios são bons a queixar-se de tudo mas péssimos a chegar-se à frente quando chega a vez de pagar a multa de estacionamente, usar o saúde 24, ir votar - nem que seja no CONTRA -  ou simplesmente fazer qualquer coisa despreocupadamente. Devolver, como diz o gajo zen do trabalho.
O pessoal saloio gosta de dar o exemplo - que toma como real e jurará a pés juntos que só cá só cá - de comportamento tuga aquela imagem do trolha no buraco a cavar com 6 tugas, um carteiro, 2 polícias, 3 reformados, reformados 3 mesmo, não são 3 polícias reformados porque eram só 2 eu disse 2, mas essa imagem é tão tuga como ter sede ou nascer com 2 rins. Essas manias são dos humanos. Nós temos é um excepcionalismo sebastianista.

segunda-feira, junho 02, 2014

Estudos indicam coisas

Há uns anos ouvi uma mini palestra de chacha em que um tipo dizia que iamos, em x anos, fazer upload de mais de x gaziliões de fotos por dia. Estávamos no início das máquinas fotográficas digitais, dos telemóveis com máquina fotográfica, não havia twitter, não havia instagram. Hoje já passámos desse número por vários gaziliões e vejo os putos a terem fotografias de si mesmos de todos os dias que viveram - eu sempre achei que só ter umas 6 ou 7 fotos de quando era puto era pouco mas também não é preciso isto - e pergunto-me várias vezes quais serão os efeitos práticos disto, se sequer tem efeito, se as fotos são simplesmente ignoradas, se não deixam a memória fazer o seu papel, se a memória passa a ser sempre assistida, se o ego passa a ser uma construção muito mais sólida ou se pelo contrário fica mais volátil, dessensibilização por excesso, eventualmente as fotos desaparecem - isto é improvavel - em favor de outro formato qualquer - o 3D vai invadir tudo, imagem, video, objectos - que preserve memórias de uma forma mais económica, menos quantidade, menos repetição, mais presença e coiso.
Se calhar fica tudo na mesma.

quinta-feira, maio 29, 2014

quarta-feira, maio 28, 2014

Era só isto

Street coiso
Disclaimer: há uns anos, o Prezado fazia street art. Porque achava piada. Depois deixou-se disso, quando leu as entrelinhas do movimento demasiadas vezes. Diziam "diarreia visual".

Eu gosto de street art. Há dezenas de técnicas a serem exploradas e há algumas coisas bastante interessantes por aí. Mas raramente passam de algo apenas formal, nem ultrapassam os mesmos conceitos reciclados, gags visuais, ( esperadamente ) inesperados, o rendilhado absurdo, a repetição, o pop. A street art é vazia e visual. A mensagem é a mesma, a ideologia é sempre a mesma e qualquer fuga da ideologia deixa de ser street art. É uma liberdade muito estrita, horizontal, que não se supera. Como é feita por amadores num tempo em que a arte é feita por profissionais, a vanguarda está com os poucos que têm domínio na expressão ou no conceito. Que eventualmente passam a profissionais. Dizia, é tudo muito igual. Se um enche paredes de bananas, outro enche de chouriços. Isto não me diz muito, no fundo estão os dois a fazer a mesma coisa.

Mas tudo bem. Siga.
Agora, há algo pior que paredes com chouriços: o marketing. O marketing é - e agora estou a lembrar-me do Hicks - é tipo virus. Gonorreia. Sifilis. Alberto João. É pior que a peste. Exemplo: Primeiro apareceu a GAU. Galeria de arte urbana, que distribui espaços para street art FODA-SE como é que distribuem a rua mas que tipo de gente é que alinha nisto, uma marca, vinda do nada do zero, da cabeça de alguém resolve vender - na prática é vender sim porque é um item, é um espaço que não era de ninguém e passou a ser uma marca por decreto - o espaço público como galeria retalhada por autorização, pessoal que alinha nisso é totó, pessoal que não pinta por cima é totó também. Depois aparecem estes artistas da Embaixada, a vender sapatos da moda - isto choca com a tal ideologia que a street art não larga -  que dizem que estão a fazer street art pendurando um vinil impresso a laser sobre o predio e a chamar-lhe intervenção não caralho não, intervenção é pintarem a puta da parede toda com o que lhes dá na telha bom ou mau, meter um vinil à frente de uma fachada é o que as marcas fazem, meter lá isso ou fotos de gatinhos é a mesma coisa, qual é o risco de desenhar um vinil, vão errar? vão perder a noção de espaço? E para uma marca? É o mesmo que fazer uma campanha. E de publicidade está o mundo cheio.

A psique tuga

Desde há uns tempos, há um estrangeiro no trabalho. Em conversa ao almoço, comparámos a reacção portuguesa e a reacção americana sobre a vinda de um americano para Portugal. É bastante previsível:

O Americano:
- oh, Portugal? where is it? that's so cool, hope you enjoy it there.

O Português:
- Vieste para cá?? Para quê?

A resposta real não funciona ( trabalhar, ter uma vida, como os outros ) e o tuga só larga a cara de incredulidade quando diz "Aqui faz bom tempo". Aí tudo faz sentido.


domingo, maio 25, 2014

Marinho Pinto?

O Marinho Pinto ganhou. Não deixo de me sentir responsável, depois de ter apelado ao voto CONTRA em Marinho Pinto. O poder de influência deste blog é conhecido mas subestimei-o.
Agora pergunto-me o que vai acontecer. Vejo dois cenários.
Marinho Pinto vai amainar. No meio dos outros Eurodeputados, depressa descobrirá que é preciso ter maneiras à mesa ou vai para a mesa dos míudos. Os gestos à italiano vão desaparecer porque não vai querer ser tomado por italiano. Vai começar a tratar de burocracias num ambiente calmo e regrado, o que o vai acalmar.  Ou então não. Vai ser a nova Cicciolina do parlamento, mas em vez de mostrar as mamas mostra o intelecto só para chocar os outros. Vai ter ideias peregrinas e postar youtubes com as medidas para melhorar a vida dos taxistas todos os meses.

Provavelmente vai ser os dois.

Ainda sobre eleições: a França promoveu a extrema direita a partido de primeira divisão. A Italia teve lá a Cicciolina durante uns anos. É por isto que o Prezado tem a teoria que os portugueses são principes: Estamos tão longe desta gente.

sábado, maio 24, 2014

Votem

Votar CONTRA é importante. Mais do que a abstenção, o voto CONTRA é o voto que pesa.
Imaginem um Passos triste. Imaginem um Alegre triste. Imaginem um Seguro a morrer de velho. Espera, esta já é só estupida e demora muito.

Votem CONTRA. Votar CONTRA, mais que a abstenção, carrega responsabilidade mas torna um niilista num cidadão activo. Não, o voto em branco não é tido em conta. Estudos indicam que não serão tidos em conta até que surja um novo método de votação, o que pode acontecer nas próximas 2 gerações ( quando o google passar a fazer isso por nós ).
Votem CONTRA. Votar CONTRA é poder dizer num jantar de descontentes "eu não votei nesses, já sabia o que ia dar".
Votar CONTRA é tomar as rédeas do destino do país quando alguém puxa demasiado na rédea para a direita. O pessoal quer que o cavalo ande em frente.
Votar CONTRA, nem que seja no partido dos animais ( piada fácil aqui, vou passar ) também pode ser como votar em branco: um comentador político da treta encarregar-se-á de indicar que é um voto de protesto.
Votem CONTRA, é mais fácil. Numa prova cega de boletins de voto, há mais probabilidades de acertarem num CONTRA.
Votem CONTRA, o voto consciente. Só gente masoquista ou muito bem na vida ou inconscientes ou psd's não vota contra.
Votem CONTRA. É o mais nacionalista / comunista / liberal / progressista / fascista /anarquista que podem votar.
Votar CONTRA é dar tema de conversa aos taxistas. Um taxista calado é um muro limpo.
Votem CONTRA, com desprendimento. Não devem nada a ninguém. Um pássaro na mão é sempre melhor que dois a voar. E a cavalo dado não se olha o dente. Sei lá.
Votem CONTRA. É poupança cognitiva. Durante 4 anos mal vão ouvir falar de quem votaram, porque não é PSD nem PS nem PP. Vai fazer a sua parte e não precisa de atenção. Pensem num eurodeputado como uma espécie de cacto.
Votem CONTRA mas a tempo.
Votem CONTRA. Façam Portugal viral: Um Marinho Pinto como eurodeputado daria virais portugueses todas as semanas, como o drone da marinha.
Votem CONTRA mas epa pensem bem que tipo de gente é que vota PNR? como é que alguém com os dentes da frente e sem problemas de auto-afirmação / inveja do pénis / impotência / primos debeis  mentais / necessidades de tacho é que dá carta branca para um artista daqueles abrir a boca?
Votar CONTRA é pim. É dar o sinal claro que sim percebemos que uma campanha intelectualmente séria, com debates baseados na transparência e na visão ideologicamente fundamentada de cada partido seria pouco popular e dificilmente geraria grandes ajuntamentos e arruadas, que em vez disso os candidatos preferem jogar num plano inferior mas mais imediato e simples, composto de picardias pessoais e soundbytes, sem ideias de longo prazo ou impossíveis de condensar numa frase de 5 palavras para assim conseguir capturar votos em quantidade, mas que não temos nada a ver com isso.
Votem CONTRA.