quinta-feira, maio 13, 2021

Universidade da Vida

Se há coisa que sempre me irritou na universidade a sério, eram uns silos muito altos e estanques a que era fácil aceder se se gostasse dos livros certos, das ideias certas, das políticas certas, das músicas certas. Não era censura, nem era nenhum problema com o Politicamente Correcto, o papão de sempre, mas era uma falta de visão do mundo. As universidades a sério, ao contrário do que é ensinado na da vida, são instituições bem conservadoras e esse era o problema: os autores certos era os dos velhos. os herois dos professores, não dos alunos.
O que podia fazer? somos um país pequeno, não há tempo para ouvir toda a gente. Ficamo-nos pelo genérico, uma monocultura intensiva, homogénea, plana como uma paisagem alentejana. Mas isto nunca foi um problema. Nunca, até aparecer aí um partido composto de gente da universidade da vida (são uns fanfarrões, têm curso da universidade a sério mas falam como se não tivessem aprendido a dizer mais do que aparentam dizer) que promove as piores cadeiras da universidade da vida como sendo conhecimento válido e lhes dá material de estudo e TPC's diarimente, muito mais conservadores que a universidade real. É tudo pelo whatsapp, pelo youtube e pelo facebook e ninguém acha estranho.

quarta-feira, maio 05, 2021

Diário de Viagem

Há muitos anos, eu tinha medo de perder os meus sonhos.
Porque se eu um dia acordasse e não me lembrasse que tinha estado a andar em Tokyo num dia de chuva e a tentar apanhar um comboio para ir para outra ponta da cidade a perceber que as avenidas não tinham fim porque a cidade se estende por dezenas de quilometros e lá pelo meio dos prédios conseguisse entrever uma estátua do Godzilla de ferro, mais alta que todos os prédios juntos, e pelo caminho, de mochila às costas. debaixo de uma passagem de peões aérea esbarrasse num grupo de japoneses e no meio deles sair o Adolfo Luxuria Canibal, que durante meio segundo olhou para mim e fizemos ambos a mesma cara de "um tuga, até aqui?" mas que rapidamente deixei de ver porque entrei numa casa onde uma familia de japoneses me acolheu e me deu a ler um jornal de bairro com uma capa verde muito minimalista, com um único tipo Kanji e com centenas de páginas - é um bairro japonês, tem de ter milhoes de pessoas, pensei que o numero de páginas estava justificado - que tentei ler durante um bocado, sem nunca perceber como abrir as páginas, se da direita para a esquerda se de cima para baixo, eu acordava menos animado.

Há algumas semanas, este blog fez 15 anos.