segunda-feira, fevereiro 25, 2019

A televisão, 2019

O impacto da Cristina sair da TVI foi subestimado. Despoletou uma reacção cuja bola de neve está ainda no início da descida. A SIC mudou de escritório. A mesa da SIC está maior e tem mais curvas. Parece um ambientador. Quando apresentam infografias no telejornal, acrescentam-lhes efeitos sonoros. A TVI pinta as reportagens com photoshop, metendo layers de riscos e vidros partidos, tudo saido de um daqueles pacotes de texturas comprados na internet por 10 euros. As notícias têm musica de fundo. Ou será só um beat? A TVI faz um programa chamado Circulatura do Quadrado, quebrando a ultima barreira da quase-saudável auto-censura tuga que nos impede de cometer actos conscientemente maus. Temos HBO. O Correio da Manhã anda a vender-se como paladino da verdade e é tão verosímil como vender porno com um olho no pulitzer. Os programas reaccionários da manhã agora também são da noite. A Cristina também passa ao domingo. Até teria pena de quem não tem internet, se não conhecesse o youtube.

domingo, fevereiro 24, 2019

Já não tenho idade para isto

Quando o tempo útil das bandas esgota e continuam a recusar a morte, as bandas fazem albuns-de-merda. Os albuns-de-merda são  proclamados reinvenções, renovações, mudanças de paradigma. Uma tentativa de justificar o esgotamento do que tinham para dizer nos moldes em que se tornaram conhecidos. Exemplo: Os Arcade Fire cansaram-se de fazer o mesmo - até entendo, não podiam fazer aquele revivalismo mais tempo - e passaram a ser revivalistas dos ABBA. Mas quando estes albuns-de-merda começam a ser comemorados, é tempo de largar estas bandas. Uma banda tem um tempo útil (talvez os Depeche Mode sejam os únicos que resistem).

terça-feira, fevereiro 19, 2019

A era da excepção

Tenho saudades dos tempos de menino, como o outro. Nos tempos de menino, um canal único, com apenas umas horas diárias de emissão, passava notícias monolíticas sem contraditório, sem imagens e quase sem oráculos num tom monocórdico. Era a voz do regime. Embalava, como uma máquina de white noise. Preto e branco. Só tinha de me lembrar que tudo podia rebentar a qualquer momento e que nunca daria para perceber como tudo teria começado. A não ser que estivesse atento ao tal pendulo da história, diziam-me. Se bem que este, tão tosco e tao mal definido, nunca chegaria a passar 2 vezes pelo mesmo sítio.
Eram tempos simples.
Hoje em dia, deixei de ver as notícias, vejo apenas os comentários dos que confirmam o que já sei e a informação nova chateia-me. Não quero perder tempo a descortinar qual é a verdade sobre a Venezuela ou o Brasil porque não há como consegui-lo em tempo útil, e eu tenho pouca utilidade para o tempo que não passo a ver memes no telemóvel. Talvez fosse útil aprofundar melhor o meu conhecimento sobre o universo mas dizem-me que a Venezuela só é uma ditadura se fizermos uma excepção às regras das ditaduras, o Trump é um estratega genial se ignorarmos 90% do que diz, o PNR é um partido como os outros porque no papel diz que não é racista, Portugal precisa de partidos liberais porque são diferentes do resto e todas estas considerações que o meu cérebro recusa aceitar depois de ponderar meio segundo.
 

quarta-feira, fevereiro 13, 2019

Scrolling down to oblivion

O spotify anda a enterrar os meus albuns favoritos no fundo de um longo scroll e a meter-lhes uma data bem perto do seu nome, de maneira a que não me escape que todos têm pelo menos 8 anos e que continuo a achar que são dos ultimos. Não posso fazer nada. Os Arcade Fire, por exemplo, deram uma de Cure e para não morrerem de velhos, suicidaram-se num album que parece de outra banda, que infelizmente é ABBA. Agarro-me ao que há, até ao dia em que me meterem os albuns debaixo de um "show more" ou finalmente, numa assinatura premium.