Da janela desta sala vê-se o rio. Como em muitos anúncios de imobiliária, só em bicos de pés e em cima de uma cadeira. Alguns prédios mais abaixo, alguém resolveu continuar a ver o rio depois de descer da cadeira: não perdeu tempo e em dias já tinha começado a construir o segundo andar da sua casa. Teria de ser mais espaçoso, para não precisar de uma marquise, - esse milagre português que gera casas maiores de um dia para o outro; a cada ano conheço mais países e não conheço mais países que usem marquises - mais espaçoso que os outros andares mais abaixo. Andaime, cimento, tijolo, a andar.
Mas, aquele tempo que não perdeu devia ter sido empregado a pedir uma licença na camara.
Cresce o andar maior que os outros, como um tampo de balcão de um tasco por cima dos restantes andares quando o fiscal bandido da camara o interpela. Bandido não aceita luvas, pequenas de certeza bandido embarga-lhe a obra.
Tenho a vista para o Tejo como dantes - o andar extra só cresceu até à altura do parapeito das janelas e agora parece-se com algo saído do jardim de Serralves, um monte de chapas onduladas em concha a fazer de telhado, andaimes nas paredes, uma especie de tartaruga ninja de metal ancorada no topo do prédio, a tirar o brilho aos andaimes - só tenho de subir a uma cadeira.
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