Grande. |
Uma Lisboa aumentada e extendida ao comprido, com o tempo de Sintra. Tentei, como tento sempre em todas as viagens, andar a cidade toda a pé. É uma mania que vem de Lisboa e que não tem em conta cidades planas. Em Lisboa as caminhadas são ditadas pela orografia, os limites de cada passeio são fáceis de prever. Numa cidade que é plana ( tem dias ) e cujo mapa mostra ruas rectas com 2 km, é dificil criar limites para o andar a pé. Aqui apanhei um autocarro só para ir até ao fim de uma rua, depois de já ter andado mais de metade e perceber que não ia acabar. Foi uma decisão inteligente, especialmente porque os autocarros são um cenário igual aos de Portugal mas em versão cut-the-bullshit. Se na carris tenho de levar com a velhinha saudosa do Salazar, cá apanhei a velhinha que tinha andado agarrada ao cracka contar a vida dela e que não julga ninguém porque a vida dá muitas voltas e a vida toda do bairro à volta do autocarro, a rua recta é a aldeia, as histórias passam-se ao longo da rua, as personangens habituais entram e saem, o motorista preto já as conhece todas e fala-lhes naquele tom de preto-bacano-do-filme, a vida é dura mas passa-se, um tipo trabalhador e honesto há-de ser recompensado um dia.
Na rua outra vez, os contrastes são muito grandes, se uma rua é de lojas impecáveis e hipsters a passear o skate, o bloco à frente já é de sem abrigo e putas na rua, céu aberto que aqui ainda não vi uma geografia própria para a miséria, tanto as ruas boas como as más são abertas, a tal recta não se interrompe para mudar de anual income, é tudo a direito, na rua dos sem abrigo e dos seven-eleven vão os mesmo hipster de skate. (continua)