sexta-feira, junho 24, 2016

Isto não vai lá com paninhos quentes

A internet promove a troca de ideias e isso é uma clara vantagem para a humanidade. Infelizmente isto só é possível porque democratiza o discurso de todos, reduzindo-o a um pedaço de texto, preto, Arial, tamanho 14, umas centenas de caracteres e 8 segundos de atenção para cada pessoa.
Este jogo é complexo do ponto de vista de quem tem mais de 2 dedos de testa e sabe que estruturar uma ideia ou pensamento de modo a serem entendidas por todos é complexo e demorado. Já veicular ideias mal formadas é bastante mais simples.
Uma demonstração disto são os comentários online do Correio da manhã e o twitter do Trump.
Mesmo sabendo que isto é só um problema que me atormenta por achar que tenho uma moral de melhor qualidade do que o habitual e que no plano maior do universo, a humanidade está muito melhor assim, deixo aqui o meu apelo à sociedade para que promova o desenvolvimento de um código linguistico politicamente incorrecto progressista de esquerda, a unica forma de ideias racionais terem seguidores na internet.
Seguem alguns exemplos práticos:

"Não vacinar os meu putos? Havia de ser bonito, esses gajos do SNS arranjam tudo para não ir além das 35 horas semanais!"
"Tens de ver este video que o meu vizinho fez a expor a maneira como o estado usa o teu guito pra fazer estradas e hospitais. E ainda dizem que não há conspirações."
"Sair do Euro? isso é coisa de rotos."
"No outro dia vi uma gaja a passar com uma saia do tamanho de um cinto. Se não estivesse em cima do andaime, tinha-lhe mandado uma boca."
"Esses gajos do Correio de Manhã são uns meninos, na secção de comentários do Le Monde Diplomatique é que dizem as verdades."
"Um amigo meu no outro dia apanhou um taxista que foi o caminho todo a contar-lhe como foi bem tratado num centro de saude público. Aqueles gajos às vezes até acertam umas."
"Agora fazem as vontades todas aos putos, havia de ser como no meu tempo, no infantário subsidiado pela junta de freguesia quem mandava eram as educadoras."

terça-feira, junho 21, 2016

Os States lá longe

Felizmente, e não parecendo se derem ouvidos ao pessoal do PC, há uma moral de de esquerda de esguelha, socialmente progressista, que orienta Portugal silenciosamente. É isso que faz com que, por exemplo, não haja tempo de antena nos jornais e nos canais de televisão portugueses para o pessoal do PNR, que também tem direito ao seu ponto de vista. Olho daqui para os EUA e fico contente de sermos moralistas, é um descanso.

quinta-feira, junho 16, 2016

A alegoria da caverna com o dragão

Pessoas: o Game of Thrones são só sombras. Lá fora há um mundo de pessoas (eu) que se estão a cagar para histórias com dragões que duram séculos e onde (não sei porquê, toda a gente sabe tudo de antemão porque 1) está na net 2) é uma rotina conhecida) recorrentemente morrem (e ressuscitam) personagens badass. Ainda assim, não tenho nada contra esta bosta desta série, só estou cansado de tentar explicar que ver esta série não é obrigatório, ainda.
Bons tempos em que ver televisão era considerado alienante.

quarta-feira, junho 15, 2016

Não, espera, volta: Rui Sinel de Cordes e as redes sociais

Rais parta, não percebem que o rapaz é sensível?
O rapaz não pode sair das redes sociais, é necessário. Talvez ninguém esperasse que o rapaz se fartasse, pelos manifestos que faz cada vez que leva bordoada. O rapaz lá no fundo só quer ser compreendido e não ter de explicar, nestes manifestos cada vez mais extensos e explicativos, todas as piadas que faz. Claro que cada manifesto era uma chamada de atenção; primeiro a proverbial cabeça no forno, depois a overdose de comprimidos, mais à frente os pulsos cortados. Todos os manifestos gritavam "ajuda, por favor" e agora foi mesmo a sério. A esta hora o rapaz está trancado na garagem a queimar gasolina em vão.
Eu julgava que o rapaz ia estar cá para sempre, porque julgava que os manifestos eram mesmo manifestos. Pessoas com convicções remam contra a maré porque sabem que estão certas.
É por isso que precisamos, todos, de ter o rapaz de volta no Facebook. Por causa de convicções. As mesmas que muitas outras pessoas, mais obstinadas que o rapaz, teimam em não largar: homofobia, xenofobia, sexismo, racismo (e infelizmente, mau gosto, que a tal piada era fraquinha). Pessoas que encontram neste rapaz um ombro amigo, onde o humor se confunde com opinião. Precisamos do rapaz no facebook para poder encontrar as pessoas que têm estas opiniões.
O rapaz é um aqueles galos que mudam de cor com o tempo. Não diz nada que eu não esteja à espera, mas diz muito sobre as pessoas que gostam de ter um galo que muda de cor em casa.

quinta-feira, junho 09, 2016

Pessoas com tempo a mais: um estudo rápido

Tenho ouvido gente com tempo a mais. Têm ideias mas demoram muito a executá-la. A tal da obsessão com a produtividade é uma falácia: simplesmente não há nada que garanta que uma ideia precise de muita maturação para ser boa. Diz-se que Cossery escrevia uma linha por semana, tudo bem eu respeito na boa mesmo conheço gente assim e já lá estive um gajo estar em casa desempregado e com subsídio dá uma margem de manobra porreira e descobre-se que a má vida é boa dependendo de dias mas voltando de certeza que o tipo conseguia sentir-se bem usando o resto do tempo para o que lhe era mais importante -  fazer nada - o que é bastante meritório porque a mim fazer nada custa-me, e agora quando vejo o tempo que se perde com medo de arriscar ou na ilusão de que toda a gente está tão atento aos detalhes para notar essa tal maturação faz-me comichão. Arrisca. Rápido.