quarta-feira, setembro 23, 2015

Quero um gin gentrificado

Deixo aqui um apelo aos que têm de fazer frente à crise do gin e que têm perdido clientes por causa desta bebida demasiado apreciada.
Juntos podemos ultrapassar isto, sei que podemos.
Quero apelar aos donos dos bares, baristas, garçons e empregados de balcão:

Por favor criem uma fila só para gins no bar. Por favor.

Custa-me ver pessoas com famílias, pessoas de bem, com empregos, com casas para pagar, com uma vida lá fora, a afundarem-se em copos gargantuescos de gin. Custa-me que de repente estas pessoas passaram a discutir sobre bagas frutos e ervas,coisas a que nunca deram importância na vida, e agora vêem-se neste maelstrom de um bebida tão perigosa que quem a bebe só sabe falar dela. Custa-me resistir a esta bebida. Estoico, continuo no vinho e na cerveja, resistindo aos aquários de bagas e cores feitos com colheres espiraladas à minha frente no balcão. Por isso, criem uma fila só para gins no bar: Eu não tenho culpa de querer só uma cerveja barata e ficar na fila atrás com um beto que pede 6 gins que levam 1 hora a ser feitos.

sexta-feira, setembro 18, 2015

O óptimo é inimigo do bom

O óptimo é amigo mas conhaques à parte. O óptimo é igual ao bom se a cada grão a galinha encher o papo um pouco. O óptimo é bacano mesmo que devagar se vai ao longe.
Para que ser inimigo do bom quando se pode ser amigo do óptimo. O óptimo mora no andar de cima do bom. O bom é amigo da sombra do óptimo. Ao bom olha-se sempre o dente.
Se dá para fazer óptimo, que se foda o bom.

segunda-feira, setembro 14, 2015

Aquele carrinho de bebé na escada: um estudo

Todos já observaram este fenómeno: aquele carrinho de bebé nas escadas.
Quero explicar as origens do carrinho de bebé nas escadas do ponto de vista comportamental, demonstrar a sua universalidade e por que motivo este fenómeno não acabará nunca.

Historicamente, aquele carrinho de bebé nas escadas surge da escassez de espaço nos apartamentos das grandes cidades. Quase auto-justificado e por meio de empatia dos vizinhos também eles com apartamentos exíguos, este fenómeno propagou-se rapidamente.
Depois, surge a gentrificação deste fenómeno: Os carrinhos de bebé passam a ser separados por classes e há uma clivagem clara entre carrinhos de bebé clássicos - os ditos "normais" - e os novos carrinhos gentifricados, cujo ratio de espaço ocupado/espaço util só é superado pelo ser ratio de preço/conforto. Enormes conchas desmontáveis são colocadas sobre imponentes e apetecíveis chassis, que se revelariam impossíveis de colocar numa escada - e em carros gama baixa - caso isso fosse necessário de alguma forma. Afinal, estes pertencem a famílias de maiores posses e com acesso a apartamentos maiores.
Surge finalmente a austeridade, conceito vendido universalmente que ofereceu a todas as classes uma permissão e até um convite a abraçar a escassez material como sua, independentemente da sua condição social. Englobando esse movimento, surge a minha vizinha de baixo, com o seu carrinho de bebé na escada.
Socialmente beta mas vendo-se cercada pela austeridade, abraça-a, tomando para si o espaço da escada, como um manifesto popular. A escada, agora espaço de descontentamento, abriga a contradição: A burguesa das plantas em vasos neo-hippies é também a que agora dispõe aquele carrinho propositadamente low-end, provavelmente herdado de uma prima, como bilhete de entrada para uma humildade involuntária, forçada e artificial, no lumpen. Ocupa a escada como quem ocupa wall street, dirá. Mas não: Aquele carrinho na escada foi, é e será apenas um despeito ao espaço físico e mental alheio, que só quer sair de casa placidamente, sem tropeçar em tralha dos outros.

quinta-feira, setembro 10, 2015

O debate visto daqui


Apanhei o debate a mais de meio.
Como é sabido, já disse de Passos Coelho o que Maomé não disse do toucinho, já de António Costa, não me diz muito. Ontem a coisa vista por quem estava a jogar Dots e a comer ao mesmo tempo, foi assim:
Fiz mais um nível quando vi as coisas na mesma, Passos na sua introspecção ruminante, aquela certeza de que dizendo o menos possível tem muito mais hipóteses de se safar, e o Costa, finalmente a dar a cara e a dá-la toda, até demais.
Fiz outro nível.
Sendo que ambos sabiam que só tinham de jogar à defesa e tentar passar debaixo do radar, - aqui estou a misturar metáforas mas percebe-se ainda o que quero dizer - Costa arriscou. Leu os manuais e mesmo desconfortável, deu a cara. Olhou para a camara de frente e mesmo a vacilar, não desistiu. Do outro lado não houve outra hipótese senão evitar as balas, ficando à defesa e debaixo do radar. António Costa ainda mostrou alguma agressividade e o português não gosta disso. Só à distância ou como ultimamente se tem visto, pela internet. Agora quero ver as próximas sondagens.
Eu também faria a análise das cores das gravatas. Mas depois acabei mais um nível e o jantar.

terça-feira, setembro 08, 2015

Sobre isto dos terroristas e do karma

Em 2003, Durão Barroso autorizou Bush a usar a base das Lajes para atacar o Iraque. 12 anos depois, os terroristas chegam aos milhares, em botes sobrelotados. Eu sabia que aquilo ia dar mau resultado. Era uma questão de tempo.

segunda-feira, setembro 07, 2015

Limpeza ética

Tenho feito uma limpeza histórica nestes ultimos dias: a culpa, como tenho lido pouco antes de bloquear mais alguém no facebook, é daqueles malditos refugiados. Têm feito de tudo, pelo que tenho deixado de ler, já no pretérito futuro: têm chorudos subsídios, vivem em apartamentos de luxo, roubam, violam, matam, esgotam-nos os parcos recursos sem dizer água vai e no fim, mesmo vivendo a bela vida, ainda dão em terroristas e destroem o nosso belo país.
Em Portugal ouve-se muito este discurso. Felizmente nunca chega a votos porque ainda há consciencia do ridículo e alguma vergonha alheia.
Vantagens de sermos poucos.

quinta-feira, setembro 03, 2015

Sobre aquela imagem de hoje

É fácil criar histórias fáceis com imagens fáceis.
Uma história fácil é aquela que é construida sempre que há um bombardeamento ou um terramoto algures: Um fotógrafo pró-activo pega num peluche ou uma boneca que leva num saco, enche-o de pó, coloca-o numas ruinas, estuda a composição e está feito. Essa foto vai chegar às páginas de um jornal, e cada jornal terá a sua versão desta foto. A mensagem daquela foto perdeu-se por vulgarização, e entretanto cristalizou como formato. Deixou de ser um conceito e passou a ser um género. É só um género de foto, agora: a versão fotográfica do "menino chorando", o pathos-pop, pornografia para jornais. Já não choca porque é uma repetição, da exposição e do apelo.
Hoje apareceu aquela imagem daquela praia. Irá acontecer-lhe o mesmo.