quarta-feira, agosto 31, 2016

Pensem nas crianças

Se há uma disciplina que gostava de dominar absolutamente e que gostava que toda a gente entendesse como é importante, é o Naming. Pela subjectividade e pela facilidade de aproximação, pelo uso da criatividade, o Naming é o parente mais pobre do design. Se toda a gente é capaz de criar, antes disso toda a gente é capaz de dar um nome a algo que nem sequer criou. Assim como o outro virou o urinol, pessoas todos os dias podem tranformar toda a ordem de coisas em urinois com o poder do Naming. Pessoas todos os dias condenam outras a nunca mais conseguirem virar o urinol de volta à posição devida. Daí o perigo do Naming:
Pessoas, dar nomes é uma tarefa complexa, de enorme responsabilidade. Qualquer Fábio pode dizer-vos isso, se tiver estudado o suficiente para notar. Quando alguém vos chama Fábio, está a condenar-vos. Não é chamar-vos urinol, entendam. Mas é virar-vos de cabeça para baixo. Um Fábio nunca é observado pelo angulo certo. E desenganem-se, não estou a ser elitista. Se forem a um pequeno almoço na Graça, podem ver por lá a quantidade de Noas a serem educadas à Montessori e que estão igualmente condenadas. Infelizmente, não são só os humanos que estão condenados. Todos os produtos, instituições, marcas, discos externos, redes de WIFI ou pens USB estão à mercê de mau naming.
Da próxima vez que ouvirem alguém dizer "não tenho jeito para dar nomes", aceitem essa frase como uma chave de um auto-conhecimento profundo: Só alguém com a noção de que não sabe dar nomes, que digo eu, é a mais básica das funções - pior, só não saber usar um dedo para apontar - tem o conhecimento mínimo para o fazer, porque pelo menos entendeu a diferença entre os 2 estados do urinol.
Ajudem o mundo a ser melhor.

A tormenta

Imaginem um tipo acessível, pronto ao diálogo, prestável, que apoia as decisões dos outros, que reforça positivamente, que dá espaço ao improviso, que resolve problemas, que é empático, que tem e reconhece os seus erros, e finalmente trabalha as suas falhas e o seu ego para melhorar o seu e o trabalho dos outros, dia a dia. É tão mais fácil ser um labrego como patrão que já nem consigo censurá-los.

terça-feira, agosto 23, 2016

Urgências


Lá fui eu ao hospital às tantas da manhã, o cenário é sempre igual, por mais que eu ache que vou morrer, logo esbarro em alguém que está realmente a morrer e posso dar-me ao luxo de apreciar como funciona um hospital e como é que pode ser melhorado. Desta vez percebi que há problemas simples e comuns aos que encontro todos os dias no trabalho. É mesmo só porque não meteram um designer a pensar em tudo. Dito isto, as urgências funcionam. Podiam funcionar melhor? sim, mas também todas as empresas que por aí andam.

quinta-feira, agosto 18, 2016

Entrei no ginásio um banana e saí um capitalista 2

(Continuação)
De repente, percebi.
Tudo estava construido para pessoas que não sou eu. Eu era o gajo mais gordo do ginásio e eu não sou uma batata. Toda a gente que lá andava já estava em forma. Eu não. Eu sou o gajo que quer ficar vivo. Quero fazer uma corrida para apanhar o 27 e não cuspir os pulmões a meio. Quero baixar-me para apanhar uma caneta do chão.
Eu não sou o target, eu só quero durar mais uns anos. Assim como não vou a discotecas da Praia da Rocha, não devia entrar em ginásios destes.

Porque é que entrei neste? explico: O anterior, que aguentei bastante tempo no engano, era impossível. Na minha inocência fiz-me crer que a falta de vontade de entrar no ginásio era só o meu cérebro a dizer-me "volta para o sofá, caralho!" mas hoje posso dizer a verdade: sim, aquele ginásio cheirava a um composto de borracha velha, suor, sovaco e chulé que me atacava o nariz. E sim, aguentei. Eu e mais um punhado de atletas olimpicas e um instrutor que nao desistiam também. Eu só fiz o possível.

Vim para este novo ginásio porque é ao pé do trabalho e vou continuar nele, apesar de ele me estar a tentar expulsar todos os dias: não vou ligar aos slides projectados com dicas moralistas sobre como a minha vontade de apanhar o autocarro é poucochinha e que eu devia almejar apanhar o Everest todos os dias antes das 6 da manhã com um PT a desviar-me para umas aulas extra de zumba. Ou como um tipo que não tenha um sixpack não tem confiança. Não vou dizer ao PT que quero ser uma pessoa nova até ao fim do ano ou até às férias de Verão e definitivamente, não vou fazer spinning e qualquer as actividades que tenham marca registrada, ou voluntariamente ter de aturar pessoal que gosta de tropa. Eu só quero é que não me chateiem.


quarta-feira, agosto 17, 2016

O inferno é já aqui

Um cliente do inferno mesmo profundo, é aquele que depois de mostrar, duas vezes, que sabe o que quer, pega nos frutos dessas duas vezes e cria um Frankenstein. Para os não-designers, um Frankenstein é um clássico do trabalho criativo, que ocorre sempre que um cliente tem acesso a várias soluções para um problema e não sabendo bem o que quer, as mistura todas numa nova solução que garantidamente, não funciona.

Entrei no ginásio um banana e saí um capitalista

Novamente, entrei no ginásio.
Já andei neste ginásio há uns anos, mas pareceu-me diferente. Ou se calhar sou eu:
À já habitual musica do inferno a passar alto, somaram-lhe televisões e projecções em barda. Corri 15 minutos a ver o reality show que é agora a MTV, meio episódio do NCIS, um debate na CNN, imagens dos fiordes noruegueses, uma projeção de testemunhos de clientes famosos do ginásio, um instrutor aos berros para virem para a aula de zumba, quotes do Elon Musk, quadros de honra e o cu da miuda da passadeira da frente. Tudo isto enquanto ouvia NIN em repeat para abafar a musica de carrinhos de choque.
Dei por mim em paz.
Como é que adivinharam que é assim que consumo media em casa?

Entretanto, fiz uma pausa na elíptica*, voltei à passadeira e dei por mim a reler com atenção os testemunhos das celebridades e a entrever um nicho de mercado por explorar. Um dia destes volto ao ginásio para confirmar.

*Escrevi esta frase de propósito, para se notar como é estranha se for escrita por mim.

terça-feira, agosto 09, 2016

Sê a diferença que queres ver no mundo

Ontem tive de informar um grupo de pokemon-haters que, verdadeiramente chato, é o Game of Thrones. Não estava nada a espera disto, disseram-me "isso é diferente".