quarta-feira, dezembro 26, 2018
A manif da semana passada
Na verdade a manif da semana passada foi muito mais fraquinha do que antecipava. Previ um pneu a arder e falhei. Ainda tive a ajuda dos telejornais do dia anterior e dos directos no próprio dia, mas ainda assim, nada. Eles bem fizeram uma pilha de pneus metafórica, mas ninguém a viu nem lhe pegou fogo. Felizmente há uma cultura política que ainda vem dos tempos da revolução e que deixa a imaginação do povinho um pouco condicionada: não há imaginação para ir para além da orientação dos subsídios do estado.
quinta-feira, dezembro 20, 2018
A manif de amanhã
Além de ser uma trampa de uma manif porque não é original e é só uma derivação, é uma trampa de uma manif visualmente. Está tudo errado e usar o paint só devia ser permitido depois de passarem por testes psicotécnicos. Digam o que disserem, uma manif do PC ou do Bloco é outro nível. Há pessoal com cabeça a fazer os posters - posso conceder que a nível de palavras de ordem, a coisa já foi muito melhor - e a qualidade nota-se. Nesta história dos coletes amarelos em Portugal, cada poster e meme que vejo, choro. Já nem vou para as palavras de ordem que claramente surgem da mente de seguranças, polícias, taxistas ou bombeiros. Podem ser os melhores a criar conspirações, mas são maus a escrevê-las. E parecem ser muito semelhantes às conspirações de outros países, mais derivações.
Se os memes manhosos no facebook funcionarem, amanha às 3 da tarde haverá um pneu de tractor a arder em frente à assembleia. No máximo.
quinta-feira, novembro 29, 2018
O Natal
Se quero oferecer alguma coisa, tenho de me despachar.
Se quero oferecer, tenho de comprar.A vida portuguesa tem canecos de barro a 10 vezes o que valem.
Supermercados só têm coisas que já nem se encontram na Amazon.
A Worten é a mesma coisa que os supermercados. Parece um museu.
O Media Market parece uma Worten aos berros.
Oferecer coisas-feitas-à-mão é no fundo dar dinheiro a alguém, porque o que é feito à mão parece sempre que é feito com a boca por refugiados sírios de 3 anos e não é para usar.
O Natal tem de ser reformado.
terça-feira, outubro 23, 2018
segunda-feira, outubro 22, 2018
Um exemplo prático do que pode estar aí à porta
A minha avó, que era muito boa pessoa e que teve uma vida tramada, com a qual nem sempre lidou da melhor forma. Na suas opiniões muito breves e claras sobre a vida, era claro que era digamos, eh na melhor das hipóteses, reaccionária. Mas como censurar alguém que, apesar disso tudo, fazia pastéis de bacalhau como ninguém?
Ela nunca teve outra opinião, simplesmente era muito reservada quanto a isso, como era habitual um português ser.
Acho que sempre votou PSD. Vá lá.
Temos pena, já vai tarde.
Um professor de design que tive há muitos anos, dizia frequentemente, sobre a televisão, que as pessoas tinham de passar a aprender a ler imagens, assim como liam textos. O Professor tinha razão.
Hoje tenho de assistir a toda a gente a partilhar imagens carregadas de ideologia - é o que é, não há outra forma de explicar isto - sem perceber que o fazem. Ou se calhar percebem, eu é que não consigo acreditar que sejam tão grunhos.Agora em português de rede social:
ESTE NOJO DESTES TIPOS que bateram nos velhos, COMO É QUE EU SEI se eles realmente bateram em alguém quando só vi uma foto (é bué facil tirar fotos, toda a gente tem telemovel) de 3 gajos no chão, sem ser confirmada por ninguém, já foram apanhados. Agora: A policia não pode fotografar-me e meter a minha foto na net por dá-ca-aquela-palha. Imagina que passar um vermelho, a policia mete-te a foto na net. Pagas a multa na mesma ou aceitas que a foto fique online? Eu cá não quero a minha foto online. E não digas que nunca tiveste uma multa, calha a todos.
Depois para convencerem as pessoas que não estavam a querer matar os 3 tipos à porrada, metem umas fotos que sacaram da net de uns velhotes da irlanda e do brasil que foram espancados por outros tipos quaisquer, do outro lado do mundo. Man, isto é tipo caça às bruxas, vale tudo desde que no fim a bruxa morra, ou vai ao fundo ou é queimada.
Agora em português de rede social, para twitter:
A polícia não pode divulgar fotos de ninguém a não ser que estejam em fuga. wtf as fotos dos velhotes afinal foram tiradas da internet. Lol onde é que ficam os tribunais no meio disto, já não são precisos?
sábado, outubro 20, 2018
Cuidado Casimiro
Há uns anos sou capaz de ter escrito sobre o excepcionalismo tuga, uma crença obscura baseada no excepcionalismo americano - esse com efeitos conhecidos por todos - que nos colocava num estado perpétuo de ignorância bondosa. Infelizmente tenho de reconhecer que essa teoria morreu e que somos tão maus como os outros, apenas mais tarde e numa escala mais maneirinha. Fujam do Twitter e do facebook.
segunda-feira, outubro 08, 2018
Temo pelo futuro
Sinto uma obrigação social de usar taxis, assim como comer em tascos e beber copos nos ultimos bares manhosos do Cais do Sodré.
Protejo um estilo de vida. É como proteger o cante alentejano, a janela do Convento de Cristo ou os travesseiros da Piriquita, mas acusam alguns, menos glamorouso.
Eu uso taxis todas as semanas, redistribuindo o dinheiro que podia gastar num carro e em gasolina, mas onde gastaria a minha paciência. É a minha versão privada de trickle-down-enconomics, no fundo. É parecida com a original, mas envolve várias dimensões para além da económica: há também uma transmissão de conhecimento, de ignorância e de poesia de andaime. No fim, fico eu a ganhar, como na teoria original.
Mas infelizmente, os taxistas estão a deixar de ter piada.
Estão a usar aplicações. São a única parte dentro de um taxi instalada depois de 1995. Como tal distraem-nos, tomam-lhes o foco. Perdem-se. Esquecem-se de ligar o taximetro. Esquecem-se do essencial, falar doutra coisa que não a aplicação - para isso tenho os gajos do Uber - e sofrem.
A pouco e pouco, fui perdendo os longos diálogos com os taxistas onde aprendia sobre a sua mitologia, os ritos, as celebrações: as histórias de juizes poderosos de lá da terra. Dos brutos GNR's do tempo da outra senhora, da tropa, do ultramar e de Lourenço Marques-nunca-Maputo e as histórias de gajas, sempre.
Ver as redes sociais a discutir Bolsonaro e o Ronaldo e deixar de denunciar a apropriação do que era apenas do domínio dos taxistas é grave. É mais um ataque a quem vê o seu estilo de vida ameaçado todos os dias. A opinião sobre putas que antes ouviria de um taxista entre um serviço de Santa Apolónia até Santos, ouço-a agora no conforto do meu lar, no telemóvel, vinda de uma dona-de-casa amiga da minha tia ou de um tipo que até estudou com quem trabalhei em 2001 e que parecia normal. Nunca mais ouvi um taxista a apontar como o problema sexual da gaja do carro da frente lhe afecta a condução e a solicitude com que ele o resolveria de bom grado. Muitos, como eu, estão a deixar de debater estes temas com os taxistas e a afastarem-nos do progresso alcançado na ultima década, quando as putas e stripers dos reality shows portugueses passaram a ver mulheres-poderosas e mulheres-independentes. Ouvir um taxista perguntar "o que acha da Daniela? aquela mulher leva tudo à frente!" é histórico. Tudo isso foi fruto do trabalho emocional feito com taxistas, diariamente, por activistas como eu, prontos a diminuir a distância gigante que separa o banco da frente do banco de trás e a desafiar o status quo e a perguntar: tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta? se aceitar fazer um serviço a um preto, é mais ou menos prejudicado do que se o fizer a um cigano? um gajo rico rouba mais ou menos que um pobre? As putas devem passar recibo ou não? Se um taxista não passa recibo, está a fazer como as putas?
É por isto que apelo à razão e em concreto, à contenção: se as redes sociais promoverem temas controversos e opiniões politicamente incorrectas, lembrem-se onde e a quem pertencem: dentro dos táxis, com os taxistas.
Protejo um estilo de vida. É como proteger o cante alentejano, a janela do Convento de Cristo ou os travesseiros da Piriquita, mas acusam alguns, menos glamorouso.
Eu uso taxis todas as semanas, redistribuindo o dinheiro que podia gastar num carro e em gasolina, mas onde gastaria a minha paciência. É a minha versão privada de trickle-down-enconomics, no fundo. É parecida com a original, mas envolve várias dimensões para além da económica: há também uma transmissão de conhecimento, de ignorância e de poesia de andaime. No fim, fico eu a ganhar, como na teoria original.
Mas infelizmente, os taxistas estão a deixar de ter piada.
Estão a usar aplicações. São a única parte dentro de um taxi instalada depois de 1995. Como tal distraem-nos, tomam-lhes o foco. Perdem-se. Esquecem-se de ligar o taximetro. Esquecem-se do essencial, falar doutra coisa que não a aplicação - para isso tenho os gajos do Uber - e sofrem.
A pouco e pouco, fui perdendo os longos diálogos com os taxistas onde aprendia sobre a sua mitologia, os ritos, as celebrações: as histórias de juizes poderosos de lá da terra. Dos brutos GNR's do tempo da outra senhora, da tropa, do ultramar e de Lourenço Marques-nunca-Maputo e as histórias de gajas, sempre.
Ver as redes sociais a discutir Bolsonaro e o Ronaldo e deixar de denunciar a apropriação do que era apenas do domínio dos taxistas é grave. É mais um ataque a quem vê o seu estilo de vida ameaçado todos os dias. A opinião sobre putas que antes ouviria de um taxista entre um serviço de Santa Apolónia até Santos, ouço-a agora no conforto do meu lar, no telemóvel, vinda de uma dona-de-casa amiga da minha tia ou de um tipo que até estudou com quem trabalhei em 2001 e que parecia normal. Nunca mais ouvi um taxista a apontar como o problema sexual da gaja do carro da frente lhe afecta a condução e a solicitude com que ele o resolveria de bom grado. Muitos, como eu, estão a deixar de debater estes temas com os taxistas e a afastarem-nos do progresso alcançado na ultima década, quando as putas e stripers dos reality shows portugueses passaram a ver mulheres-poderosas e mulheres-independentes. Ouvir um taxista perguntar "o que acha da Daniela? aquela mulher leva tudo à frente!" é histórico. Tudo isso foi fruto do trabalho emocional feito com taxistas, diariamente, por activistas como eu, prontos a diminuir a distância gigante que separa o banco da frente do banco de trás e a desafiar o status quo e a perguntar: tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta? se aceitar fazer um serviço a um preto, é mais ou menos prejudicado do que se o fizer a um cigano? um gajo rico rouba mais ou menos que um pobre? As putas devem passar recibo ou não? Se um taxista não passa recibo, está a fazer como as putas?
É por isto que apelo à razão e em concreto, à contenção: se as redes sociais promoverem temas controversos e opiniões politicamente incorrectas, lembrem-se onde e a quem pertencem: dentro dos táxis, com os taxistas.
Ashtags da semana
#santo #deusnocomando #putas #oqueelaqueriaseieu #armadilha #inveja #goldigger #feminazi #CR7santificadoja #cr7perseguição #pobrededeus #conspiração #realmadridtemdedonisto #fakenews #p#bolsonojo #bolsonazi #venezuelanunca #petralhanao #elenunca #queputedosenhoralfredo #meeto #notallmen #notmespeciallynotme #queroveromundoaarder
segunda-feira, setembro 24, 2018
Tudo gente séria
Apanho um Uber, por causa da greve dos taxistas. Pelo caminho, o condutor do Uber começa por descrever o seu modelo de negócio, usando todas as plataformas online. Ao contrário dos taxistas, uns generalistas, os condutores da Uber só falam de negócios. É uma rotina que têm. Explica-me como todos os serviços fazem lucro de forma eticamente reprovável e demonstra-me como os condutores as pressionam de forma concertada - sem nunca lhe chamar uma greve - para melhorar as condições contratuais. Ponderado, conta-me como é honesto enquanto todos os outros não o são, numa versao educadas desta rotina, famosa por ser contada por qualquer taxista em qualquer viagem que faça. Fecha a conversa contando que já tinha sido taxista e no mesmo fôlego descreve que esquema ilegal usava para fazer mais dinheiro.
quinta-feira, junho 28, 2018
Isto não está abandonado
No dia em que soube que a Pastelaria Suiça vai fechar, tenho de pensar em São Francisco. Há tempos, numa cidade que tem uma falta crónica de casas, um laundromat - uma lavandaria - chega às notícias porque é proposto que seja tido como de interesse histórico para impedir a construção de um prédio de habitação. Só consigo entender o valor estético do laundromat. Fica bem em filmes americanos, tem uma luz interessante, espaços para diálogos mais intimos e honestos dos que um bar ou um elevador oferecem. Ninguém está a beber, há um tempo para gastar, tudo está à vista: as pessoas e a sua roupa suja. Encontram-se as outras pessoas do prédio, da vizinhança.
A pastelaria Suiça é mais antiga e interessante que o laundromat mas, parece, tem o carisma de um pneu. Fim.terça-feira, maio 15, 2018
Ando distraído com isto
Estava a ver as notícias vindas de Israel, da Palestina, onde não se passa nada
- a grande novidade é ter um presidente americano que (é burro e) tem o apoio de evangélicos (que por acaso são anti-semitas e têm a certeza que o papa é o anticristo) e que vêem a inauguração da embaixada em Jerusalem (decidida unilateralmente do acima referido burro) como um sinal (positivo) da proximidade do arrebatamento e da segunda vinda de Cristo (para alguns) (judeus não incluidos) - de novo.
Estava a lembrar-me do meu pai e dos debates à mesa do jantar e dos argumentos que ele apresentava nos anos 80 e de como era díficil apoiar um lado deste debate incondicionalmente. Passados 30 anos da primeira intifada, os argumentos, por mais internet, twitter, videos e fotografias que os acompanhem, não mudaram nada. segunda-feira, março 26, 2018
Vão para o trabalho
Os artistas chateiam-me mais e mais. É da idade e do trabalho. A idade tira-me paciência para aturar gente que não se esforça, o trabalho tira-me paciência para aturar gente que me faz trabalhar. Por exemplo, o Markl fez uma série que lhe deu bastante trabalho e está muito feliz com ela, pelo que leio. Eu dei-me ao trabalho de ver 2 episódios e bastou-me. Não tenho de me dar mais ao trabalho, aquilo é fraquinho. O tempo que perdi a trabalhar a minha falta de paciência para diálogos americanizados e maus actores cansou-me. Para me cansar, o que é que já tenho? Trabalho, exacto.
- ah, mas queres consumir sem esforço?quinta-feira, março 22, 2018
O mito da estupidez bondosa
Humanos que acreditam numa conspiração maquiavélica da industria farmaceutica mas não acreditam na conspiração maquiavélica dos homeopatas, hosteopatas, naturopatas, acupuntores e todo o pessoal do género - os piores são aqueles que dizem "mas também sou enfermeiro, as duas medicinas são compatíveis" - a vossa confiança nestes profissionais é fascinante.
Nunca pensei viver tempo suficiente para voltar à idade média de forma voluntária, sempre achei que ia haver um cataclismo que nos obrigaria a isso.sexta-feira, março 02, 2018
Se calhar não sou eu, mas
Ando um bocado cansado de ouvir os outros. Os outros são o inferno, como disse o outro num adágio conhecido. Já se sabe. Os outros andam a ver se me cansam, comportando-se da forma típica que as pessoas que não são eu se comportam. Têm demasiadas opiniões que não a minha, comportam-se de forma pouco minha, dizem-me coisas que eu não diria, pedem-me coisas que eu não pediria. Pior que tudo, os outros não só são muitos, são todos.
sexta-feira, janeiro 19, 2018
Não comam cápsulas de detergente, uma ode à Unilever
Não comam cápsulas de detergente
Não comam minha gente
Não comam cápsulas de detergente
Não bebam shots de diluente
Não façam sandes de Skip
Não lambam Cif do bidé
Não façam Nutella de 3 em 1
Não comam de pé
Não tomem abrilhantador Sun
Não emborquem Vim
Não comam cápsulas de detergente
Não encham até ao fim
Não comam minha gente
Não barrem torradas com Omo
Não comam cápsulas de detergente
Não comam minha gente
Não comam cápsulas de detergente
Não bebam shots de diluente
Não façam sandes de Skip
Não lambam Cif do bidé
Não façam Nutella de 3 em 1
Não comam de pé
Não tomem abrilhantador Sun
Não emborquem Vim
Não comam cápsulas de detergente
Não encham até ao fim
Não comam minha gente
Não barrem torradas com Omo
Não comam cápsulas de detergente
De manhã
A parte boa de trabalhar uma manhã num café é que, além de me poder isolar para pensar noutras coisas, posso apanhar uma senhora que está há meia hora a contar tudo o que está mal no mundo e percebe-se que investe algum tempo a investigar isto, porque já passou por advogados, políticos, internet, os jovens, os impostos, o governo, a polícia, as drogas e diversos outros temas, tudo calibrado pelo Antigamente, essa bitola dourada que deve andar aí a ser partilhada num GoogleDocs entre taxistas, reformados e ressabiados.
quinta-feira, janeiro 04, 2018
Estava aqui a adiar o que tenho para fazer hoje
Lembrei-me de uma entrevista de trabalho numa agência de Lisboa, daquelas grandes e importantes, onde apanhei 2 labregos que, pelo jeito, tiveram um impacto positivo na minha vida: depois deste episódio, perdi a paciência para as agências de publicidade e fui para outras bandas. Dizia: deram-se ao trabalho de me chamar, de marcar uma entrevista no seu escritório artsy para apenas perder o meu e o seu tempo porque quiseram armar-se em espertos o tempo todo e fazer uma macacada de uma entrevista em que deviam ter acabado de fumar qualquer coisa e que me faz lembrar aquele silêncio incómodo de quando apanhei mais de 3 argumentistas na conversa a masturbarem as piadas uns dos outros e a exibir a sua inteligência muito bonita e luzidía mas claro fora-da-caixa também.
Pensando bem, não devem ter fumado nada. Era mesmo assim.
Pensando bem, não devem ter fumado nada. Era mesmo assim.
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