terça-feira, outubro 23, 2018
segunda-feira, outubro 22, 2018
Um exemplo prático do que pode estar aí à porta
A minha avó, que era muito boa pessoa e que teve uma vida tramada, com a qual nem sempre lidou da melhor forma. Na suas opiniões muito breves e claras sobre a vida, era claro que era digamos, eh na melhor das hipóteses, reaccionária. Mas como censurar alguém que, apesar disso tudo, fazia pastéis de bacalhau como ninguém?
Ela nunca teve outra opinião, simplesmente era muito reservada quanto a isso, como era habitual um português ser.
Acho que sempre votou PSD. Vá lá.
Temos pena, já vai tarde.
Um professor de design que tive há muitos anos, dizia frequentemente, sobre a televisão, que as pessoas tinham de passar a aprender a ler imagens, assim como liam textos. O Professor tinha razão.
Hoje tenho de assistir a toda a gente a partilhar imagens carregadas de ideologia - é o que é, não há outra forma de explicar isto - sem perceber que o fazem. Ou se calhar percebem, eu é que não consigo acreditar que sejam tão grunhos.Agora em português de rede social:
ESTE NOJO DESTES TIPOS que bateram nos velhos, COMO É QUE EU SEI se eles realmente bateram em alguém quando só vi uma foto (é bué facil tirar fotos, toda a gente tem telemovel) de 3 gajos no chão, sem ser confirmada por ninguém, já foram apanhados. Agora: A policia não pode fotografar-me e meter a minha foto na net por dá-ca-aquela-palha. Imagina que passar um vermelho, a policia mete-te a foto na net. Pagas a multa na mesma ou aceitas que a foto fique online? Eu cá não quero a minha foto online. E não digas que nunca tiveste uma multa, calha a todos.
Depois para convencerem as pessoas que não estavam a querer matar os 3 tipos à porrada, metem umas fotos que sacaram da net de uns velhotes da irlanda e do brasil que foram espancados por outros tipos quaisquer, do outro lado do mundo. Man, isto é tipo caça às bruxas, vale tudo desde que no fim a bruxa morra, ou vai ao fundo ou é queimada.
Agora em português de rede social, para twitter:
A polícia não pode divulgar fotos de ninguém a não ser que estejam em fuga. wtf as fotos dos velhotes afinal foram tiradas da internet. Lol onde é que ficam os tribunais no meio disto, já não são precisos?
sábado, outubro 20, 2018
Cuidado Casimiro
Há uns anos sou capaz de ter escrito sobre o excepcionalismo tuga, uma crença obscura baseada no excepcionalismo americano - esse com efeitos conhecidos por todos - que nos colocava num estado perpétuo de ignorância bondosa. Infelizmente tenho de reconhecer que essa teoria morreu e que somos tão maus como os outros, apenas mais tarde e numa escala mais maneirinha. Fujam do Twitter e do facebook.
segunda-feira, outubro 08, 2018
Temo pelo futuro
Sinto uma obrigação social de usar taxis, assim como comer em tascos e beber copos nos ultimos bares manhosos do Cais do Sodré.
Protejo um estilo de vida. É como proteger o cante alentejano, a janela do Convento de Cristo ou os travesseiros da Piriquita, mas acusam alguns, menos glamorouso.
Eu uso taxis todas as semanas, redistribuindo o dinheiro que podia gastar num carro e em gasolina, mas onde gastaria a minha paciência. É a minha versão privada de trickle-down-enconomics, no fundo. É parecida com a original, mas envolve várias dimensões para além da económica: há também uma transmissão de conhecimento, de ignorância e de poesia de andaime. No fim, fico eu a ganhar, como na teoria original.
Mas infelizmente, os taxistas estão a deixar de ter piada.
Estão a usar aplicações. São a única parte dentro de um taxi instalada depois de 1995. Como tal distraem-nos, tomam-lhes o foco. Perdem-se. Esquecem-se de ligar o taximetro. Esquecem-se do essencial, falar doutra coisa que não a aplicação - para isso tenho os gajos do Uber - e sofrem.
A pouco e pouco, fui perdendo os longos diálogos com os taxistas onde aprendia sobre a sua mitologia, os ritos, as celebrações: as histórias de juizes poderosos de lá da terra. Dos brutos GNR's do tempo da outra senhora, da tropa, do ultramar e de Lourenço Marques-nunca-Maputo e as histórias de gajas, sempre.
Ver as redes sociais a discutir Bolsonaro e o Ronaldo e deixar de denunciar a apropriação do que era apenas do domínio dos taxistas é grave. É mais um ataque a quem vê o seu estilo de vida ameaçado todos os dias. A opinião sobre putas que antes ouviria de um taxista entre um serviço de Santa Apolónia até Santos, ouço-a agora no conforto do meu lar, no telemóvel, vinda de uma dona-de-casa amiga da minha tia ou de um tipo que até estudou com quem trabalhei em 2001 e que parecia normal. Nunca mais ouvi um taxista a apontar como o problema sexual da gaja do carro da frente lhe afecta a condução e a solicitude com que ele o resolveria de bom grado. Muitos, como eu, estão a deixar de debater estes temas com os taxistas e a afastarem-nos do progresso alcançado na ultima década, quando as putas e stripers dos reality shows portugueses passaram a ver mulheres-poderosas e mulheres-independentes. Ouvir um taxista perguntar "o que acha da Daniela? aquela mulher leva tudo à frente!" é histórico. Tudo isso foi fruto do trabalho emocional feito com taxistas, diariamente, por activistas como eu, prontos a diminuir a distância gigante que separa o banco da frente do banco de trás e a desafiar o status quo e a perguntar: tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta? se aceitar fazer um serviço a um preto, é mais ou menos prejudicado do que se o fizer a um cigano? um gajo rico rouba mais ou menos que um pobre? As putas devem passar recibo ou não? Se um taxista não passa recibo, está a fazer como as putas?
É por isto que apelo à razão e em concreto, à contenção: se as redes sociais promoverem temas controversos e opiniões politicamente incorrectas, lembrem-se onde e a quem pertencem: dentro dos táxis, com os taxistas.
Protejo um estilo de vida. É como proteger o cante alentejano, a janela do Convento de Cristo ou os travesseiros da Piriquita, mas acusam alguns, menos glamorouso.
Eu uso taxis todas as semanas, redistribuindo o dinheiro que podia gastar num carro e em gasolina, mas onde gastaria a minha paciência. É a minha versão privada de trickle-down-enconomics, no fundo. É parecida com a original, mas envolve várias dimensões para além da económica: há também uma transmissão de conhecimento, de ignorância e de poesia de andaime. No fim, fico eu a ganhar, como na teoria original.
Mas infelizmente, os taxistas estão a deixar de ter piada.
Estão a usar aplicações. São a única parte dentro de um taxi instalada depois de 1995. Como tal distraem-nos, tomam-lhes o foco. Perdem-se. Esquecem-se de ligar o taximetro. Esquecem-se do essencial, falar doutra coisa que não a aplicação - para isso tenho os gajos do Uber - e sofrem.
A pouco e pouco, fui perdendo os longos diálogos com os taxistas onde aprendia sobre a sua mitologia, os ritos, as celebrações: as histórias de juizes poderosos de lá da terra. Dos brutos GNR's do tempo da outra senhora, da tropa, do ultramar e de Lourenço Marques-nunca-Maputo e as histórias de gajas, sempre.
Ver as redes sociais a discutir Bolsonaro e o Ronaldo e deixar de denunciar a apropriação do que era apenas do domínio dos taxistas é grave. É mais um ataque a quem vê o seu estilo de vida ameaçado todos os dias. A opinião sobre putas que antes ouviria de um taxista entre um serviço de Santa Apolónia até Santos, ouço-a agora no conforto do meu lar, no telemóvel, vinda de uma dona-de-casa amiga da minha tia ou de um tipo que até estudou com quem trabalhei em 2001 e que parecia normal. Nunca mais ouvi um taxista a apontar como o problema sexual da gaja do carro da frente lhe afecta a condução e a solicitude com que ele o resolveria de bom grado. Muitos, como eu, estão a deixar de debater estes temas com os taxistas e a afastarem-nos do progresso alcançado na ultima década, quando as putas e stripers dos reality shows portugueses passaram a ver mulheres-poderosas e mulheres-independentes. Ouvir um taxista perguntar "o que acha da Daniela? aquela mulher leva tudo à frente!" é histórico. Tudo isso foi fruto do trabalho emocional feito com taxistas, diariamente, por activistas como eu, prontos a diminuir a distância gigante que separa o banco da frente do banco de trás e a desafiar o status quo e a perguntar: tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta? se aceitar fazer um serviço a um preto, é mais ou menos prejudicado do que se o fizer a um cigano? um gajo rico rouba mais ou menos que um pobre? As putas devem passar recibo ou não? Se um taxista não passa recibo, está a fazer como as putas?
É por isto que apelo à razão e em concreto, à contenção: se as redes sociais promoverem temas controversos e opiniões politicamente incorrectas, lembrem-se onde e a quem pertencem: dentro dos táxis, com os taxistas.
Ashtags da semana
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