quinta-feira, dezembro 10, 2020

Nada de novo

Parece-me que já só volto aqui para dizer o que não vale a pena dizer noutro lado porque rapidamente fico atascado de merda até aos joelhos com comentários em que não queria deixar-me ocupar nem meio segundo. É a puta do racismo outra vez.
Repito-me, e poucos irão acreditar, talvez daqui a uns anos isto seja matéria de lenda urbana, mas o tempo do racismo envergonhado existiu. Os taxistas, sempre os taxistas como barómetro do que é um português excepcionalmente médio, dentro do seu taxi, eram livres de auto-censura, o taxi um casulo inerte onde de um momento para o outro, todos passámos, no quentinho dos bancos de trás, a trocar bilhetes com todos os clientes do taxi feito autocarro, bilhetinhos com recados só para si, que é cá dos meus e sabe a verdade, não se deixa enganar facilmente, sobre os pretos que tanto ajudámos antes de termos de vir à força para a metrópole, Lourenço Marques era um sonho, tudo tinha uma ordem e todos sabiam o seu lugar, mas o 25 de Abril e o Soares, essa corja e tudo e tudo e tudo salazar salazar salazar e agora temos de ouvir estes dinossauros a abrir a boca como se ainda dissessem algo que alguém queira ouvir.