Até há pouco tempo, pensava que o que mais nos definia como um povo era sermos deprimidos. O português é muito deprimido. Especialmente se estiver ao lado de outros povos. Por contraste, a diferença torna-se muito mais óbvia. Somos menos expansivos, muito calados, muito cientes do perigo que é falar demais e deixar pratos limpos. Queimar pontes é impensável. Até que há dias mudei de ideias, sermos deprimidos é o menor dos males.
Pensava isto porque sou confrontado com isto todos os dias, a trabalhar com portugueses e estrangeiros no mesmo sítio.
Até que há dias, numa sala de espera de um hospital, ouvi alguém a ser atendido com maus modos quando estava apenas a fazer uma pergunta e reconheci um tom familiar, que tinha ouvido no dia anterior, num restaurante. O empregado insistia que já tinha dito que não tinha pudim flan. Isso fez-me lembrar que tinha apanhado quase o mesmo diálogo na semana anterior no café. No dia antes, também, mas com o canalizador que insistia que eu devia saber explicar-lhe como ligar a máquina da louça à parede.
Gostamos de provar que os outros estão errados, é isto.