sábado, maio 23, 2009

Visitação

O meu pai veio visitar-me
num sonho dentro de um sonho.
Abraçou-me e desvaneceu.

terça-feira, maio 19, 2009

Entrevista

Fui ver marionetas. Para adultos. Tinha muita curiosidade de ver.
Não estava à espera dos Marretas, mas não estava à espera de adormecer.
Fiz duas coisas enquanto me debatia com as minhas pálpebras a cair como chumbo: apreciei a destreza e disciplina da artista, sozinha no palco, a fazer 3 personagens independentes impecavelmente. E descobri como ela não gosta de publico, porque embrulhou o que faz na embalagem mais lixadamente intelectual que já vi. Mas segui-a. Queria algumas respostas e ela deixou-me entrevistá-la:

Prezado - Bom, qual foi o critério para a escolha da banda sonora, que é o ponto de partida da peça? um momento fulcral, como sabe.
Artista - Bem, eu tinha escolhido o "Shinny happy people" dos R.E.M., mas mostrei a algumas pessoas e algumas ficaram felizes. Desisti depois disso.
P. - O processo de selecção foi comprometido por essa reacção positiva?
A. - Foi. De modo algum quero ver alguém bem disposto num espectáculo meu. Ao fim de muita busca, encontrei algo no registo minimal-industrial, algo capaz de deixar o João Baião cabisbaixo. Insisti que os primeiros 15 minutos da peça fossem preenchidos por esse som apenas.
P. - Quanto à escolha de cenários: a penumbra é ainda a única forma de demonstrar o desapego ao material?
A. - Sem dúvida. Tentei aplicar algum conteúdo, mas não senti a necessidade de passar informação desnecessária ao público final. Os meus amigos já percebiam. Ainda meti 2 plintos pretos! Acho que com essa vendi a alma ao diabo. Detesto ser demasiado figurativa, não deixar espaço ao pensamento.
P. - É verdade que teve de mudar o canhão da fechadura, depois de ter usado os dois plintos pretos?
A. - É. As pessoas não estavam preparadas para a denuncia social. Os plintos eram ligeiramente diferentes, afinal.
P. - Narrativamente falando, teve necessidade de contar uma história?
A. - Não. Fragmentos soltos bastam. Um bocado como acontece aqui no blog, quando escreve uma seria de frases curtíssimas e desconexas, onde só os amigos próximos que o acompanharam nesse episódio especifico é que percebem de que fala.
P. - Está a criticar-me o meu blog?
A. - Bom, é altura de denunciar a sua berrante falta de talento, teimosamente disfarçada pelo minimalismo formal dos conteúdos, uma espécie de ficção de cordel paupérrima, salpicada de detalhes que não trazem nada à história, simples fumo e espelhos.
P. - Chama-se Estética. É apenas mais uma corrente, minha cara.
A. - Claro. Os erros ortográficos e de gramática serão estética também. Punk, se calhar. É sabido que os blogs são exercícios puramente narcisicos, mas o seu é um novo patamar, um referêncial. Um psicólogo pagaria para o estudar...
P. - irra, ca besta... Para terminar, onde vai a tourné a seguir?
A. - Bom, pensei em ir ao centro do país, mas ouvi que lá não há quem me entenda, como você. Salto directamente para o Porto, estarei lá 10 minutos na rodoviária e depois vou para Paris. Lá tem o grosso dos leitores do seu blog, sabe.
P. - Claro, pessoal culto e de fino trato. Isso já sabia, minha cara.

segunda-feira, maio 11, 2009

Consciencioso

Só é explorado um único animal para assegurar a manutenção deste blog.

sábado, maio 09, 2009

Receita fácil

Com 4 latas de atum ou 3 de sardinhas, misturam tomate pequeno ou molho de tomate em quantidade que não preciso dizer. Piquem 3 dentes de alho chocho, 2 cebolas e pimentos. Faz-se um refogado com o alho e cebolas num fio de azeite. O arroz leva sal. pegam em manjericão, ou se não tiverem, em oregãos, duas colheres de sopa . já explico como é que se faz sopa de oregãos mais à frente. ao desfiar o bacalhau acabado de cozer, vão-se queimar. dica: metam as mão debaixo de água corrente o quanto antes. Cortem as batatas aos cubos, ou se precisarem, às fatias. metam louro q.b. no refugado, agora. Os pimentos comem-se à medida que estamos a cozinhar. Nesta altura, coloca-se cebola bem picada no arroz. Metam também mais sal no arroz. O molho estará nesta altura a precisar de cerveja: usem stout, ou loura, ou bohemia: eu uso uma destas, fica melhor. reservem. numa sertã pequena, coloquem o atum, a canela, o vinho, a cerveja, os oregãos, a pimenta, a beringela, o milho e os cogumelos na quantidade que entenderem mas por esta ordem certa. atenção: por vezes acabamos por meter mais do que cabe numa sertã pequena, tenham isso em conta. deixem apurar 20 ou alguns minutos.
sirvam.

domingo, maio 03, 2009

O sermão na montanha

S. Jorge está atento, com o francês com nome de espanhol e os desconhecidos de há muito tempo atrás. Fala-se de praias, sol e copos. Infância. O filme já passou, mas no Krew Hassan está a começar. Ouve-se Madonna e vende-se tralha. As paredes, com mais luz que é habito, mostram os grafittis com cores mais que muitas. Conversa-se ao piano, a enrolar o cabelo.
Sai-se e troca-se dois números de porta. Gente de Santarém surge sempre só à noite. Encontram-se cara conhecidas entre copos, muitos. A mesa é de 8 mas os copos são de 16. A Sara não consegue render o andamento. A miúda loura de boa vontade oferece bilhetes, que afinal são falsos. Professores e mestres de sempre na mesa ao lado. Quizes manhosos e batota à mistura. Corre-se ao bar seguinte a dar boleia ao d.j. atrasado 2 horas. A miúda do decote desproporcional tira a concentração a metade do bar. Fotos. Fecha-se a casa com o Nikita do Elton John e a Bé. Carro em direcção a Santa Apolónia. Encontra-se o gigante vestido de doutor, fato e gravata. Na pista de cima, pouca gente e o Stevie Wonder.
Ao fim de um bocado mais mexido na pista de baixo, um brinde a 3. O gajo está de olho negro, explica umas coisas.
Coma-se uma tosta na estação de comboio.
Discuta-se a vida com o taxista.

( este taxista foi porreiro, avisou-me para ter cuidado por aí, porque costuma levar a casa a Cleópatra, lendária mulher bombástica que só se denunciou por ter mãos grandes e másculas ao entregar a nota. Já sabem. )