quarta-feira, outubro 28, 2009

Ao campo das cebolas

A dona Beatriz benze-se. Passa as mãos na caixa, feita numa amalgama de madeira e placas de metal a agradecer graças concedidas. Desde doenças a exames passados, o todo da caixa é coberto de placas de metal, como cartoes de visita. O vidro da caixa deixa ver uma figura de ar languido que faz de santa. Depois de contar às vizinhas assertivamente como a mãe, irmã e filho morreram depois de anos a cuidar deles, sai.
À saida, passa pelo Cristo. Baixinho, agradece-lhe todo o bem que lhe trouxe, meio a choramingar. Agarra-lhe as coxas e deixa cair as mãos pelas pernas. Nisto, olha-me de lado e sai, com as mãos a pingar água benta.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Do nazareno

Chateia-me esta conversa à volta do Saramago: é que se por um lado o velho é repetitivo e só diz baboseira, por outro é o dos poucos ateus militantes a quem é dado tempo de antena.
Tenho é a ideia que o tipo de argumentação [ bíblia = livro que ensina o mal ] é simplesmente parvoice - sendo que eu nunca a li de fio a pavio e pode ser que lá pelo meio possa ser um anarchist cookbook com tácticas de guerrilha contra centuriões ocupadores - quando tenho a ideia que a bíblia até peca por falta de objectividade em matéria de vinganças, castigos e penalidades ( não me ensina como aplicar uma praga de gafanhotos a quem não me paga a tempo, por exemplo ) . Não ensina o mal, porque ensina MAL. Imagino cada caloteiro a acordar com gafanhotos a entrar nas orelhas ou viver nas trevas 3 dias. Como cobrador do fraque, o Nazareno seria o empregado do mês ad eternum.
Fico com a ideia que o Velho não quer dizer nada de importante contra as crenças religiosas de ninguém, mas apenas vender mais uns livros.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Noves fora

Continuo a ser designer. É uma cruz.
Estou cheio de ver código, erros, virgulas a mais, virgulas a menos. Caixas altas a menos, hifens fora do sitio.
Cada vez gosto mais de desenhar e contar histórias.
Vivo em Lisboa, num bairro pacato com ligações de fibra óptica onde todos se deitam às onze.
Quando me farto de estar em casa, metos os headphones e vou andar até onde o conforto dos sapatos deixar. Ouço Stevie Wonder em repeat até atinar com o timbre do homem.
Prefiro a zona velha da cidade.
Ainda entro em todas as igrejas por onde passo.
Ando com a máquina fotográfica todos os dias, hábito que está cada vez mais presente.
As histórias dos taxistas, pensões e residenciais decadentes ficam-me sempre na memória.
Quando chegarem as chuvas, devo ir buscar o casaco-escafandro e manter esta rotina.

Maitê

Pronto, já disse.

quinta-feira, outubro 08, 2009

um nivel do c$#!#lho

Não sei se já observaram isto, mas há posturas muito distintas nos diferentes de transporte públicos. Distintas entre os autocarros, metro, etc etc. As posturas têm pouco de distinto. Aliás, nivelam pelas barracas, como mínimo denominador comum. Devo ter andado uns dias de seguida só de metro, e devo ter ficado habituado ao silêncio. Vamos por partes:
No taxi, o gajo com menos nivel, 'tá na cara, é o taxista. Apanha-se de tudo, mas se eu for caladinho, o taxista é capaz de arriscar um fugaz "então ontem o Benfica, aquilo é que foi??", o que no meu caso resolve a coisa. Tivesse o taxista saber a minha opinião sobre a revolução industrial no Burquina Faso e arrancava mais de mim. Na outra vertente, ele irá contar-me a verdade sobre o Cavaco, as mulheres, a gripe A e o Sebastianismo.
Já no metro, as pessoas ficam caladas. Vão sozinhas para o emprego, caladinhas como ratos. Não há muito barulho, tirando o filha-da-puta do chaval de ténis Lacoste com o telemóvel em alta voz a ouvir musica dos tops da Amadora.
No autocarro, a coisa complica-se. Para já, um autocarro é como um fractal: dentro de um autocarro, podem ir taxistas, o que é um fenómeno recursivo. Depois, há muita gente ávida de interacção social ( leia-se confronto ), velhos, grávidas, doidos, pitas, eunucos, macacos e anões. Os autocarros no inverno são verdadeiros campos de batalha.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Tenho andado pouco

Tenho andado pouco e vou andar ainda menos. A chuva não me impede dos passeios no centro da cidade, mas chateia. Dentro de pouco tempo, começo a sair com os blusões género escafandro e só volto à noitinha, quando já estiverem ensopados da chuva.

sábado, outubro 03, 2009

Informo

Depois de uma noitada à moda antiga, feita de inúmeras paragens por inúmeros locais de fama comprovadamente duvidosa, chego a casa e faço uns belos hamburgers, acompanhados de um belo arroz, que saboreio neste momento. Toma.