O empreendedorismo que tanto odiava e que agora me alimenta todos os dias, mudou. Bom, na verdade está na mesma, simplesmente já lhe consigo ver as nuances. Passou a ter uma corrente mainstream. O ciclo temporal que define quão cool uma coisa é está a aproximar-se do fim ( sim, empreendedorismo pode ser cool ). Este fenómeno observa-se em tudo, desde a publicidade ou a plantação de oregãos, até à industria de congelados da Póvoa do Varzim. Os Early Adopters já sairam do jogo, uma segunda geração já vinga, a terceira limita-se a macaquear as soluções que já viu que resultavam. O jargão mantém-se, a postura muda. A publicidade passa por isto. Claro que há sempre pioneiros a mudar o mercado neste momento, numa cave algures, mas esses só serão reconhecidos passados uns anos. Parte desta nova vaga de empreendedorismo ( eu estou nela, mas sou diferente, claro ) é só uma bandwagon. Pegam em modelos de negócio bem conhecidos ( exemplo: um restaurante, venda de serviços ) e dao-lhe uma pincelada de inovação, e isso aparentemente chega. Mas não chega. Por isso é que já estou cheio da porra dos restaurantes da treta, das "novas soluções com um toque de tradicional" e essa bacocada toda. Façam coisas novas. Parem de tentar inventar novos pasteis de nata. Parem de fazer coisas com hamburgers. Parem de meter cadeiras de cores diferentes nos cafés, não pintar o tecto sequer e ainda assim cobrar 2 euros por um café. Façam-me perceber porque é que hei-de pagar mais só porque são iguais a mais 30 cafés na mesma zona. Parem de empregar primas betas que demoram 20 minutos para fazer um café. Parem de me foder a cidade. Morram longe.
quinta-feira, outubro 30, 2014
quinta-feira, outubro 23, 2014
Lisboa autofágica
O português tem um orgulho desmedido da sua comida. Vejo isto todos os dias, no orgulho com que recomendamos aquele tasco, o restaurante escondido que conhecemos e que, como iluminados, mais ninguém conhece, um prato de bacalhau que só há cá, o peixe só daquela tasca. É um dos produtos do país mais visíveis e dos que vendemos mais para quem cá vem, tanto comercialmente como culturalmente. Os restaurantes são do mais importante que temos, enquanto destino turístico. Mas não pela qualidade gastronómica. Os nossos pratos sabem sempre bem e isso é ponto assente. Não admira: usamos toneladas de condimentos, ervas, vinho, molhos, tudo para disfarçar o gosto original de tudo. E fica bom. Até pode ser carne má, peixe morto, não quero saber. Toda a gente sabe o que são as "grelhadas mistas" e a carne-ao-piri-piri. Não interessa. O que interessa é que lhe deram a volta e sabe bem. Os tascos funcionam assim e eu, declaradamente, gosto.
Vivermos habituados a este porto seguro que é a comida tem promovido a comida como negócio, repetindo-se até ao infinito em ofertas iguais, espalhadas pela cidade e pelo país. O modelo é sempre igual, pegue-se em algo tradicional e misture-se com o novo e é sempre bom. Soa bem? sim, mas a nossa comida real não é slow-food, essa espécie de versão heroica da fast food. A fast food usa truques básicos para nos enganar, adoçando tudo com açucar. A slow food que andam a vender adoça tudo com azeite premium, quadros de gis ( com letras manhosas ) e pechisbeques parecidos com antiguidades pelas paredes.
Isto dos restaurantes novos é como os minetes, toda a gente acha que é o melhor do mundo naquilo, mas na realidade só uns quantos é que se safam. É deixá-los estar.
Disclaimer: eu gosto de tascos genuínos e de tudo, desde que tudo seja só o que é.
Vivermos habituados a este porto seguro que é a comida tem promovido a comida como negócio, repetindo-se até ao infinito em ofertas iguais, espalhadas pela cidade e pelo país. O modelo é sempre igual, pegue-se em algo tradicional e misture-se com o novo e é sempre bom. Soa bem? sim, mas a nossa comida real não é slow-food, essa espécie de versão heroica da fast food. A fast food usa truques básicos para nos enganar, adoçando tudo com açucar. A slow food que andam a vender adoça tudo com azeite premium, quadros de gis ( com letras manhosas ) e pechisbeques parecidos com antiguidades pelas paredes.
Isto dos restaurantes novos é como os minetes, toda a gente acha que é o melhor do mundo naquilo, mas na realidade só uns quantos é que se safam. É deixá-los estar.
Disclaimer: eu gosto de tascos genuínos e de tudo, desde que tudo seja só o que é.
terça-feira, outubro 21, 2014
Avarias, memória descritiva
Ano da Era do Senhor de 2014, a casa para memória futura e para a senhoria não dizer que fui eu que lhe lixei o apartamento:
Da entrada à sala vão dois passos, no primeiro a primeira tábua range ao primeiro calcanhar mas cala-se assim que passo além. Há tábuas comidas pelo bicho da madeira. O interruptor oscila no eixo do x mas também no y, o que é mau sinal. Dou-lhe pouco tempo, a andar assim de lado. Não arranquei os 3 pregos da parede da sala que parecem poder ter pendurado um baloiço em tempos. Todas as lampadas da casa rebentam de mês a mês, tirando a do frigorifico, que é azul e fraca. É pena, queria lá por uns leds do tunning que fizessem o frigorifico mais interessante para os que lá vivem. O corredor em meia cana está a abaular. Não fui eu. As luzes do corredor, não as substitui. Acho que os cantos queimados à volta dos casquilhos são prova do mau design original. Na cozinha, continuo a admirar a colecção de interruptores de parede que não dão a lado nenhum. Ainda não descobri para que serviriam. Não lhes vou mexer. As mini-gavetas onde só cabem facas na diagonal também não lhes vou mexer, continuo a usar só talheres de sobremesa. Lembrei-me disto tudo porque a toalha desequilibrou-se a secar no varão e caiu na sanita, e não fui mesmo eu.
Da entrada à sala vão dois passos, no primeiro a primeira tábua range ao primeiro calcanhar mas cala-se assim que passo além. Há tábuas comidas pelo bicho da madeira. O interruptor oscila no eixo do x mas também no y, o que é mau sinal. Dou-lhe pouco tempo, a andar assim de lado. Não arranquei os 3 pregos da parede da sala que parecem poder ter pendurado um baloiço em tempos. Todas as lampadas da casa rebentam de mês a mês, tirando a do frigorifico, que é azul e fraca. É pena, queria lá por uns leds do tunning que fizessem o frigorifico mais interessante para os que lá vivem. O corredor em meia cana está a abaular. Não fui eu. As luzes do corredor, não as substitui. Acho que os cantos queimados à volta dos casquilhos são prova do mau design original. Na cozinha, continuo a admirar a colecção de interruptores de parede que não dão a lado nenhum. Ainda não descobri para que serviriam. Não lhes vou mexer. As mini-gavetas onde só cabem facas na diagonal também não lhes vou mexer, continuo a usar só talheres de sobremesa. Lembrei-me disto tudo porque a toalha desequilibrou-se a secar no varão e caiu na sanita, e não fui mesmo eu.
Deixem-se de tretas
Se querem mostrar que são intelectuais, digam que não têm internet em casa. A televisão já não pega.
sábado, outubro 18, 2014
Dos copos
O mundo é sempre interessante e fico, dia a dia, mais admirado pela capacidade de muita gente disparar opiniões sanguíneas sobre coisas que não interessam muito. Os temas são muito sobrevalorizados. Estar ou ser é muito mais importante.
sexta-feira, outubro 17, 2014
Estudo: Os alicerces da piada
Há muitas regras e os bons ultrapassam as regras, mas isto pode ser basicamente algo como: Apresenta-se uma situação banal, coloca-se um evento no caminho e apresenta-se uma solução imprevista, inédita, chocante, grotesca, subversiva, freudiana co-relacionada com a situação banal. Todas as piadas de um-alemão-um-inglês-um-português-e-um-espanhol têm esta estrutura, por exemplo. O nível de banalidade, a verosimilhança do evento e a originalidade da solução a somar à distância entre estes 3 factores - e aqui há um desafio gigantesco, encontrar a palavra certa que é imprevista ainda que esperada desde o início, a palavra que faz a piada explodir no cérebro, distante que chegue do esperado mas não longe o bastante para perder a conexão com o que o cérebro pode processar - dita o nível atingido. Pessoas como o Nilton, o Sinel de Cordes e metade do canal Q ( não vejo muito, não tenho tempo para procurar a metade certa ) cumprem aquele mínimo de distância. Nunca me arrancaram uma gargalhada na vida.
As do Nilton são as mais espetaculares, o homem deve lembrar-se delas enquanto caga, são sempre qualquer coisa como ( leiam depressa e com voz de otário-que-não-percebe-o-mundo ) "A minha vizinha no outro dia ia a descer a escada e eu ia cheio de pressa para ir para a rádio, eu faço umas coisas na rádio não sei se sabem, e a mulher tem um cu tão grande que eu não conseguia passar! Aquilo devia ter uma placa "veiculo longo" atrás.". Tem piada? ... alguma? Dá trabalho? não. Mas há um público para isto.
Edit: Esta chegou até mim há minutos.
As do Nilton são as mais espetaculares, o homem deve lembrar-se delas enquanto caga, são sempre qualquer coisa como ( leiam depressa e com voz de otário-que-não-percebe-o-mundo ) "A minha vizinha no outro dia ia a descer a escada e eu ia cheio de pressa para ir para a rádio, eu faço umas coisas na rádio não sei se sabem, e a mulher tem um cu tão grande que eu não conseguia passar! Aquilo devia ter uma placa "veiculo longo" atrás.". Tem piada? ... alguma? Dá trabalho? não. Mas há um público para isto.
Edit: Esta chegou até mim há minutos.
Parodiantes de Lisboa, Versão 2014 |
segunda-feira, outubro 13, 2014
Ébola em Portugal
O futuro do mundo passa pelo A/B testing. Depois de todos os não académicos se aperceberem das vantagens desta ferramenta, todos os processos ( internos, externos, comportamentais, profissionais, etc ) podem ser testados por meio da formulação de teses e pela medição repetida de resultados das provas baseadas nessas teses, o mundo vai ser bastante mais eficaz a longo prazo, mas muito estupido a curto prazo. Exemplo: Este post sobre o impacto do ébola em títulos de posts é feito com base numa tese. Os resultados serão publicados brevemente.
Globalização
Hoje descobri que na Grécia também vão a rastejar para uma capela no meio de nada que foi construida num sítio visitado pela virgem Maria. As aparições da virgem dão-se, parece-me, em pelo menos um sítio em cada nação. Acho que dá para fazer um tour à volta do mundo de joelhos à conta destas aparições sem nunca perder a rede, género wifi-spot-beato.
domingo, outubro 12, 2014
Por isso é que inventaram os telecomandos
Estava aqui distraido e deixei a televisão ficar na TVI, pela primeira vez ouvi a Teresa Guilherme mais de 10 segundos de seguida e descobri que há um discurso introdutório à casa dos segredos. O que não imaginava é que fosse tão complexo e longo. Acho que é feito para rir mas não tenho a certeza. Só pode ser arte e da mais pura que já vi: não percebi nada, achei tudo pretencioso e não deu para rir sequer.
A Teresa Guilherme é uma absurdista.
A Teresa Guilherme é uma absurdista.
quinta-feira, outubro 09, 2014
O patronato user-friendly e o F.A.Q do universo
Não brinquem: nestes ultimos meses de trabalho, tenho aprendido umas coisas que me aproximam, dia a dia, do satori absoluto. Se relativizava muita coisa por achar que sou só mais um que anda aqui na nave, agora tenho de incluir cada vez mais coisas na lista de coisas relativizáveis e suspeito que até ao fim do ano sou capaz de entender o Marinho Pinto e o Hitler. Trabalhar com gente parva? já sei como é. E com gente brilhante? idem. Velhos? sim. Novos? sim. Outra culturas? Check. Outras culturas mais novas? idem. Com horários? sim. Sem horários? sim. Só me falta deixar de ser um outsider. Para fechar no mesmo estilo, este post é um AMA.
terça-feira, outubro 07, 2014
Ébola: Estudos
Esqueçam a época da gripe, está aí a época do ébola. Aqui ficam algumas conclusões tiradas de estudos anteriores. Há vários.
Famosos com Ébola:
Terapias aconselhadas:
- O Ébola espalha-se pela televisão.
- O Ébola anda a consumir o Marinho Pinto há meses.
- É melhor apanhar a vacina da gripe, pelo sim pelo não.
- O Ébola apanha-se nos tampos das sanitas, como todas as outras doenças conhecidas.
- O Ébola apanha-se em bancos de jardim.
O Ébola desenvolveu-se de forma a reproduzir-se nas caixas dos trocos das cabines telefónicas.- O Ébola desenvolveu-se de forma a reproduzir-se nas caixas dos trocos das máquinas de bilhetes do metro.
- O Ébola é pior que o Nilton - só porque o Nilton é a nova versão dos Delfins - nunca foi bom nem deu sinal que o seria, e mesmo assim parece que criaram grandes expectativas a cumprir.
- O Ébola passa-se só por fluidos corporais ao redor de aeroportos.
- O Ébola causa mononucleose, sapinhos e canalQ.
- A televisão propaga o Marinho Pinto tanto como o Ébola.
Famosos com Ébola:
- O Rei do Mónaco
- Toda a gente na casa dos segredos ( isso queria eu )
- O Cavaco
Terapias aconselhadas:
- Rorshach
- Sumol
- Gel efeito molhado
- Fazer reféns em jardins de infância
segunda-feira, outubro 06, 2014
Sobre o Marinho Pinto, agora com PDR
Tenho a certeza que ele está a por em prática uma ideia que tenho há uns anos. Sempre que me perguntam "se tivesses x dinheiro, o que é que fazias?", respondo "um partido ou uma religião". Só para ser troll e provar que é possível, por pior que seja a fazê-lo. O Marinho Pinto é o mesmo, só que quer encher os bolsos com isso.
sexta-feira, outubro 03, 2014
Leitura Matinal II
Ainda puto, lia uns livros manhosos, pretos com letras douradas, sobre todo o tipo de "mistérios inexplicados" o material das teorias de hoje, e lia todos os que apanhava. Ao fim de uns anos a ler os livros - relia-os, porque achava aquilo fascinante - comecei a achar estranho algumas das coisas serem ditas de certa forma, consistente entre todos, um padrão. Havia sempre referências bastante más a judeus, havia sempre ligações entre tudo e tudo, havia ligações entre algumas fotos e umas legendas bombásticas, mas nunca ficava convencido que as fotos eram o que a legenda dizia nem que os judeus conseguiam fazer tanta coisa sem ninguém perceber. Parecia tudo demasiado importante para ser ignorado. Em 2014, as mesmas conspirações alimentam uma boa parte da internet - e de algum espaço político dos U.S.A. - e incrivelmente, há mais factos, provas e entrevistas sobre um evento que ninguém sabe se realmente aconteceu do que havia há 20 anos. Lembrei-me disto porque achei um artigo que consegue provar que Tesla era um génio, que foi assassinado pelas SS, as ligações com os Bush, e que Hitler está vivo. É quase tão bom como ler o Correio da Manhã.
quinta-feira, outubro 02, 2014
Leitura matinal
Cruzo-me com o hooligan simpático - o vizinho de lá de cima que tem tatuagens a subir-lhe pelo pescoço acima e tem o pitbull mas que até agora é o unico que com que deu para comunicar normalmente - e diz-me que alguém deixou um recado na minha porta, mas que não tinha conseguido ler tudo. "Veja lá o que é, eu não percebi.".
quarta-feira, outubro 01, 2014
O Processo
Profissionalmente, tenho de escrever quase todos os dias. Faço por escrever com humor*. O humor escrito para Interfaces de sites aligeira a abordagem de problemas sérios e humaniza a comunicação. Um site deixa de ser maquinal e passa a ter uma personalidade, gente real atrás daquela interface, gente que se frusta, que se alegra, que empatiza.
Há uns anos, estava cheio de design porque via como garantido o caminho que nos levou até onde estamos hoje: um Designer é um género de algoritmo bom a criar versões da solução que toma como ideal e esse processo acaba quando o tempo designado para o processo acaba. Não parece muito interessante ser designer, visto assim.
Escrever seria uma forma de continuar a criar, mas sem perder tempo com 6 ou 7 interfaces em programas diferentes e processos criativos diferentes. Na minha ideia, escrever não precisava de esboços. Não havia maquetes. Não tinha de fazer export para PDF. Nada. Era só eu e um editor de texto.
Mas escrever profissionalment é tirar a piada de escrever. Estão lá os processos todos na mesma, afinal. Escrever com humor dá muito trabalho e tem pouca piada. Escrever um email com 2 parágrafos leva-me 10 minutos. Escrever 2 parágrafos com piada leva-me meia hora. Vencer a tendência portuguesa de falar de coisas sérias com um tom salazarento e mostrar que é possível ter piada e ganhar milhões na mesma, leva-me mais 2 horas.
O email de 2 parágrafos terá umas 3 versões, a autocrítica não deixa serem menos. Depois, as opiniões. E há que dissecar todos os elementos da piada, como a um sapo. A cada análise, o sapo vai esmorecendo mais um pouco. Quando chego à 7ª versão do email, a piada morreu e o sapo também já quer dar uma opinião.
É fácil desistir quando este processo se arrasta por um bocado. A ideia original, que parecia viva, intencional, espontânea, já foi tão debatida e adulterada que já não a consigo ver assim. Não és tu, sou eu. Não dou mais que isto, cheguei ao limite do neurónio responsável por escrever com piada. Os 2 parágrafos que já tomaram 2 horas têm de ser fechados e surge a tentação de resolver tudo rapidamente, em 2 a 5 minutos, com a não-ideia, run-of-the-mill, chapa 10, que não ofende mas não resolve: Adia. Ninguém ganha. Nem o sapo, que se engole no fim.
* Não tenho pretensão de dizer que tenho piada a escrever neste blog, mas tento, obviamente. Escrevo todos os dias em inglês. Não é fluente, é como digo sempre, mangled. É mau. É um misto de inglês de Wiki com Stand-up e Sitcoms americanas.
Há uns anos, estava cheio de design porque via como garantido o caminho que nos levou até onde estamos hoje: um Designer é um género de algoritmo bom a criar versões da solução que toma como ideal e esse processo acaba quando o tempo designado para o processo acaba. Não parece muito interessante ser designer, visto assim.
Escrever seria uma forma de continuar a criar, mas sem perder tempo com 6 ou 7 interfaces em programas diferentes e processos criativos diferentes. Na minha ideia, escrever não precisava de esboços. Não havia maquetes. Não tinha de fazer export para PDF. Nada. Era só eu e um editor de texto.
Mas escrever profissionalment é tirar a piada de escrever. Estão lá os processos todos na mesma, afinal. Escrever com humor dá muito trabalho e tem pouca piada. Escrever um email com 2 parágrafos leva-me 10 minutos. Escrever 2 parágrafos com piada leva-me meia hora. Vencer a tendência portuguesa de falar de coisas sérias com um tom salazarento e mostrar que é possível ter piada e ganhar milhões na mesma, leva-me mais 2 horas.
O email de 2 parágrafos terá umas 3 versões, a autocrítica não deixa serem menos. Depois, as opiniões. E há que dissecar todos os elementos da piada, como a um sapo. A cada análise, o sapo vai esmorecendo mais um pouco. Quando chego à 7ª versão do email, a piada morreu e o sapo também já quer dar uma opinião.
É fácil desistir quando este processo se arrasta por um bocado. A ideia original, que parecia viva, intencional, espontânea, já foi tão debatida e adulterada que já não a consigo ver assim. Não és tu, sou eu. Não dou mais que isto, cheguei ao limite do neurónio responsável por escrever com piada. Os 2 parágrafos que já tomaram 2 horas têm de ser fechados e surge a tentação de resolver tudo rapidamente, em 2 a 5 minutos, com a não-ideia, run-of-the-mill, chapa 10, que não ofende mas não resolve: Adia. Ninguém ganha. Nem o sapo, que se engole no fim.
* Não tenho pretensão de dizer que tenho piada a escrever neste blog, mas tento, obviamente. Escrevo todos os dias em inglês. Não é fluente, é como digo sempre, mangled. É mau. É um misto de inglês de Wiki com Stand-up e Sitcoms americanas.
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