segunda-feira, maio 30, 2016

Devagar com o andor

Estive uma semana fora e não apanhei estas manifestações do pessoal dos colégios privados que querem continuar a ser financiados pelo estado, mantendo alunos que, por opção, querem que o estado pague a sua educação. Algumas notas sobre isto:

1. O nosso ensino público é bom.
Pude ver videos das manifs feitas pelo pessoal dos colégios e constatar a diferença: ninguém vindo de uma escola pública faria aquela figura porque sabia que levava na tromba. Amarelo? Mais beto não dá. Palavras de ordem? Onde é que andaram quando havia manifs a sério para tirar notas?
2. A Dupla-Tributação está entre nós.
Dupla tributação é um argumento fraquinho. Não me lembro de ser bem usado. Neste caso é bem mal usado. Vejam lá: "Eu já pago impostos, nao posso pagar o colégio do meu filho para ter acesso a ensino de qualidade.". Porque depois aparece um outro tipo, tipo eu (com filhos na escola pública, por exemplo) e diz "eu já pago impostos, os meus putos estão na escola pública, não posso pagar a minha pública e a tua privada", estão a ver como é fácil. Corolário do argumento da dupla-tributação: A única coisa que não pagas duas vezes é o sol, porque não pagaste uma primeira. (Atenção: Como não tenho filhos sequer, ainda acho isto mais parvo).

3. Os impostos são de todos. A gestão dos dinheiros públicos não funciona como um kickstarter. Eu não tenho poder de escolha sobre para onde vão os meus impostos. Para isso é que voto num programa de governo. Sim, sociologicamente era mais interessante. Mas duvido que fosse bonito de ser ver. Eu, por exemplo, nunca ia ajudar o funding do exercito, dos hospitais a sul de Benavente e dos transplantes de orgãos para pessoas com multas de transito por pagar.

4. Dependendo da ocasião, a esquerda portuguesa é mais neo-liberal do que a direita
Ver a esquerda em bloco defender que o mercado é que manda e ver a direita preocupada com os professores que perdem o seu emprego e a perda de qualidade de vida das pessoas implicadas é refrescante. Se ao menos houvesse memória para perceber como também é irónico.

5. Tudo acontece por um motivo
Portugal é um país pick-and-chose. Não interessa a ideologia, ela adapta-se caso a caso, conforme o que for preciso resolver. Vivemos numa espécie de ditadura regida pelo Paulo Coelho.