Tenho saudades dos tempos de menino, como o outro. Nos tempos de menino, um canal único, com apenas umas horas diárias de emissão, passava notícias monolíticas sem contraditório, sem imagens e quase sem oráculos num tom monocórdico. Era a voz do regime. Embalava, como uma máquina de white noise. Preto e branco. Só tinha de me lembrar que tudo podia rebentar a qualquer momento e que nunca daria para perceber como tudo teria começado. A não ser que estivesse atento ao tal pendulo da história, diziam-me. Se bem que este, tão tosco e tao mal definido, nunca chegaria a passar 2 vezes pelo mesmo sítio.
Eram tempos simples.
Hoje em dia, deixei de ver as notícias, vejo apenas os comentários dos que confirmam o que já sei e a informação nova chateia-me. Não quero perder tempo a descortinar qual é a verdade sobre a Venezuela ou o Brasil porque não há como consegui-lo em tempo útil, e eu tenho pouca utilidade para o tempo que não passo a ver memes no telemóvel. Talvez fosse útil aprofundar melhor o meu conhecimento sobre o universo mas dizem-me que a Venezuela só é uma ditadura se fizermos uma excepção às regras das ditaduras, o Trump é um estratega genial se ignorarmos 90% do que diz, o PNR é um partido como os outros porque no papel diz que não é racista, Portugal precisa de partidos liberais porque são diferentes do resto e todas estas considerações que o meu cérebro recusa aceitar depois de ponderar meio segundo.
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