A empregada doméstica de cá de casa é brasileira. Veio para Portugal com uma história de vida trágica. Tem a ajuda de muita gente à volta dela.
Infelizmente é bolsonarista.
Uma visão do mundo que não é muito compatível nem com o portugal inventado nem com o Portugal real onde vive.
O portugal inventado é, como chamam no brasil, o do "Tio do Zap", o que é construido de memes no whatzapp pela máquina de propaganda habitual. Cá também temos esse, construido pelo Chaga. No Portugal do Tio do Zap, Portugal é simultaneamente violento e um paraíso onde não existe a violência do Brasil. Ganha-se muito mais mas nunca se foi tão explorado. Há emigrantes a mais mas só dos emigrantes errados. Vive-se numa Venezuela eterna, mas no entanto vêm para cá à procura de uma vida melhor. As contradições são óbvias mas soam a indignação, e indignação é tudo o que é preciso. Algo está mal e tem de mudar, nem que seja pelas razões erradas.
A empregada bolsonarista veio cá no feriado. Mas trouxe o marido para ajudar. Com uma condição: ninguém pode ver o marido a limpar a casa.
Por isso lá fomos à marcha na Avenida da Liberdade. Para respeitar o desejo do marido para que a possa ajudar. Meio indignado, mas lá fui festejar a liberdade.