Sobre o fenómeno que vou descrever, primeiramente questionei-me se este fenómeno não seria culpa minha. Mas entretanto percebi que quando chego a qualquer balcão e peço algo mais do que o que pretendo, esse detalhe faz o que seria uma mera transacção tornar-se num favor. Para usar um exemplo que toda a gente entenda, imaginemos ir comprar um livro e não nos lembrarmos do nome exacto do livro. O único livro que não me enganarei a comprar é a Biblia - Esse é o único livro que toda a gente sabe o nome sem margem de erro - Se chegar a um livreiro com um nome aproximado de um livro, já estou implicitamente a pedir um favor: que ele me venda livros é um dado adquirido, mas perceber que livro estou a tentar referir-me, é um favor que me faz.
É ainda importante ter em conta que este caso - não ter a certeza do nome correcto de algo - é muito comum em português. O português é uma lingua bastante limitada na definição de objectos, parece-me. É algo que me atormenta com frequência. O Acordo Ortográfico chateia-me, as pessoas que reclamam do Acordo Ortográfico chateiam-me ainda mais, o Acordo Ortográfico não ter resolvido esta falta de palavras ainda me chateia mais ainda mais mais ainda. Exemplo: Como é que chamam um esfigmómanometro senão aparelho-de-medir-a-tensão? Parece que só os objectos ingleses têm nomes exactos e bons, daqueles que o google conhece.
A vaca fria chega quando vou transaccionar algo que tenha uma função menos conhecia, concreta ou passível de ser descrita sucintamente. Experimentem encontrar o nome de uma peça da máquina de lavar responsável por ligar duas partes que têm uma dobradiça de plástico branco segura por um eixo curto com 3 centimetros e que deixa a máquina desligar-se quando o temporizador actua sobre ela. Estarão a pedir um grande favor a um canalizador, que ele se recusará a fazer. E rapidamente chegarão à conclusão que o desporto favorito de qualquer português que esteja atrás de um balcão é provar que os outros estão errados.
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