quarta-feira, outubro 01, 2014

O Processo

Profissionalmente, tenho de escrever quase todos os dias. Faço por escrever com humor*. O humor escrito para Interfaces de sites aligeira a abordagem de problemas sérios e humaniza a comunicação. Um site deixa de ser maquinal e passa a ter uma personalidade, gente real atrás daquela interface, gente que se frusta, que se alegra, que empatiza.
Há uns anos, estava cheio de design porque via como garantido o caminho que nos levou até onde estamos hoje: um Designer é um género de algoritmo bom a criar versões da solução que toma como ideal e esse processo acaba quando o tempo designado para o processo acaba. Não parece muito interessante ser designer, visto assim.
Escrever seria uma forma de continuar a criar, mas sem perder tempo com 6 ou 7 interfaces em programas diferentes e processos criativos diferentes. Na minha ideia, escrever não precisava de esboços. Não havia maquetes. Não tinha de fazer export para PDF. Nada. Era só eu e um editor de texto.
Mas escrever profissionalment é tirar a piada de escrever. Estão lá os processos todos na mesma, afinal. Escrever com humor dá muito trabalho e tem pouca piada. Escrever um email com 2 parágrafos leva-me 10 minutos. Escrever 2 parágrafos com piada leva-me meia hora. Vencer a tendência portuguesa de falar de coisas sérias com um tom salazarento e mostrar que é possível ter piada e ganhar milhões na mesma, leva-me mais 2 horas.
O email de 2 parágrafos terá umas 3 versões, a autocrítica não deixa serem menos. Depois, as opiniões. E há que dissecar todos os elementos da piada, como a um sapo. A cada análise, o sapo vai esmorecendo mais um pouco. Quando chego à 7ª versão do email, a piada morreu e o sapo também já quer dar uma opinião.
É fácil desistir quando este processo se arrasta por um bocado. A ideia original, que parecia viva, intencional, espontânea, já foi tão debatida e adulterada que já não a consigo ver assim. Não és tu, sou eu. Não dou mais que isto, cheguei ao limite do neurónio responsável por escrever com piada. Os 2 parágrafos que já tomaram 2 horas têm de ser fechados e surge a tentação de resolver tudo rapidamente, em 2 a 5 minutos, com a não-ideia, run-of-the-mill, chapa 10, que não ofende mas não resolve: Adia. Ninguém ganha. Nem o sapo, que se engole no fim.

* Não tenho pretensão de dizer que tenho piada a escrever neste blog, mas tento, obviamente. Escrevo todos os dias em inglês. Não é fluente, é como digo sempre, mangled. É mau. É um misto de inglês de Wiki com Stand-up e Sitcoms americanas.

3 comentários:

Terapia das palavras... disse...

E sempre um prazer ler , quem bem sabe fazer uso das palavras..

Continua, que eu ca vou estando para te seguir :)

Reflexos... disse...

Gosto de ler o que escreve e é por aqui que me perco muitas madrugadas...

e tem humor, sim senhor!!

Um dia feliz :)

Uva Passa disse...

Eu não tenho qualquer dificuldade de por as pessoas a rir com o que escrevo. Porque eu sou uma miúda cómica. Sou cómica, pronto!