sábado, novembro 15, 2014

O Natal é assim, diz a Worten

A Worten lançou o seu anúncio de Natal. Habituada a vender tablets, telemóveis e máquinas fotográficas de todos os feitios a toda a gente, este ano deve ter tido uma surpresa enorme quando o pessoal do marketing descobriu que o seu público deixou de ser toda a gente e tinha passado a ser a marca de eleição dentro de um fenómeno fruto das políticas do governo: A fuga de cérebros.




A Worten sabe que o Natal é sobre ligar as pessoas e torná-las mais próximas, como a nokia. E este ano resolveu fazê-lo ligando um família a que vou chamar de Família Vasconcelos de Sá. Cientes do novo target, - gostava de ver os estudos de mercado que indicaram isto, a sério - escolheram uma família perfeita(mente) queque. O piano delicodoce que me começa a encher um bocado a paciência acompanha o filme do princípio ao fim porque sem ele a realidade das imagens ia mostrar uma felicidade absoluta, sem espaço para a saudade, para a distância. A criança feliz brinca com a mãe numa casa de revista que podia ser nas Avenidas Novas de Lisboa ou em Cascais, mas não: Há lá pelo meio um plano com neve imaculada lá fora. Só pode ser um país mais a norte. O marido está no trabalho ( só pode ser engenheiro, com uma casa destas no norte da Europa ou da América ). Depois vamos descobrindo os seus pais, que ficaram para trás. Não sei se sentem que ficaram para trás. Mas não conseguimos descobrir onde ficaram.  Nada parece Portugal. A avó Vasconcelos de Sá lembra a neta enquanto toca piano, o avô Vasconcelos montou a árvore de Natal na sala com a janela panoramica a dar para o mar e para a piscina. "Está imenso frio aqui", diz a filha, lá no norte, enquanto os pais se banham na piscina. Aqui finalmente percebi que não estão em Portugal. Isto é quente mas não é o Rio de Janeiro. Pela arquitectura, diria que estão em Malibu. Ou então isto é só uma história de saudade dentro uma família rica, mas não o suficiente para ajudar a filha a não ter de emigrar, contada em Agosto.

5 comentários:

disse...

Bem visto!

"O Natal é quando um homem quiser"
também poderá servir de desculpa para quem meteu argolada ;)

CAP CRÉUS disse...

Vi este ontem pela 1ª vez e de facto, está muito bem visto.
Na mouche!

Sílvia Barros disse...

Sou da mesma opinião. Quando vi o anúncio percebi de imediato que não tiveram o cuidado de fazer algo que retratasse o nosso país e o nosso povo. Não tem nada a ver connosco.
Mas será que assim vende mais? Será que os entendidos de marketing perceberam que a nossa imagem não cativa nem a nós próprios,quando a mensagem subliminar é 'compre na Worten e pareça de outro país'?

Prezado disse...

O pessoal do marketing chama a essa imagem cativante "aspiracional". Tudo é aspiracional na televisão. Por isso é que os pequenos almoços na televisão são sempre gigantescos e metem sempre sumo de laranja. É suposto apontar sempre para algo mais alto. Mas desta vez apontaram alto demais. Calhou cocó.

Anónimo disse...

O anúncio reflete a cabeça de quem manda na Worten e de quem fez o anúncio. A nossa "elite" de betos/queques que vive com este imaginário. E o problema é que quase todo o país os tem como modelos a seguir. Acredito no sucesso do anúncio por mais agoniante que seja.