Tenho de agradecer a este governo o surgir de uma nova orientação política, muito em voga porque pelo menos um tipo importante eu faz parte dela. Reparei hoje que na manif dos miúdos da Antonio Arroio, que por momentos me encheu o coração - era puto com a mania que ia ser artista, não fumei lá nada juro, andei com tudo quanto era droga ao meu lado, mas a asma sempre a asma - uma miúda de uns 15 ou 16 anos recebia o nosso presidente com um cartaz com 2 versos de Sérgio Godinho. Isto é a esquerda portuguesa moderna: Só velharias. Percebo.
Quando há coisas como o B Fachada aí à solta, é natural que muitos joguem pelo seguro e fiquem pela qualidade, ignorem a inovação e abracem a Zé dos Bois.
Aqui entra o neo-nacionalismo-relativamente-progressista. Mantenha-se a estética de Abril, mas para ser contra-corrente e ser eficaz, agora é necessário ser nacionalista. Esqueçam a internacional-socialista, a missão que tinha já foi conseguida com a internacional-capitalista, que o nosso governo bem defende. Abolição de fronteiras, união dos povos? Já está feito. Mais uns anos e o Passos faz-nos todos chineses. Injustiça social? Esperem por outros. Por isso, o caminho da esquerda é ser nacionalista. Eu já sou. Defendo o proteccionismo do pastel de nata. Quero nabiças da horta recém-normalizada frente ao Colombo, não podendo pagar em escudos, troco-as por prestação de serviços, posso por exemplo escrever actas em português pré-acordo e guardá-las em cadernos selados a lacre. Defendo a ASAE da velha guarda, a que fechava restaurantes chineses mas deixava os pastéis de bacalhau em paz. Quero passar pela praça do Chile e levar com aquele cheiro a couratos da tasca da esquina nas ventas. Quero os pires de sal com ovos cozidos em cima. Recuso-me a ouvir música feita para lá de Olivença e de 1986. Só ando a pé porque não vou em modas de bicicletas hipsters e os autocarros são o transporte dos fascistas. Povo que é povo anda de carro que é mais barato.
Isto é o caminho certo para todos os que estão cansados do anarco-sindicalismo-primitivista. Se não é o vosso caso, ainda assim, evitem B Fachada.
9 comentários:
:D Andas inspirado.
Só um aparte: não embarco em biclas hipster e B Fachada, desisti aos primeiros arpejos, portanto deixa-me cá continuar com a minha relação de amor com a carris, que quem me tira as velhotas da carreita 797 (ex-107, já há um movimento pela sua não extinção, já agora), tira-me tudo.
Obrigado, tenho pouco que fazer.
797? estamos no mesmo código postal.
* grunhido *
Confessa: não andas de bici porque te falta forcinha nas pernocas para subir as 7 colinas. É ou não é? É ou não é?
Marta, não quero ser comunista chinês, prefiro ser capitalista polaco, islandês ou americano. Brasileiro não.
Rachelet, tu sabes bem que meter bicicletas em Lisboa é uma mota, é só para aqueles putos do fixed-gear pavonearem as bicicletas com cores esquisitas e mostrar aos outros como são fashion, não tem a ver com mobilidade nem nada... CLARO que não tenho pernas pra subir do cais do sodré às Picoas. Sou só humano.
( Mas já atravessei Amesterdão de lés a lés, com os copos, às 6 da manhã de bicicleta, como os locais. Na planície é cagativo, obrigado. )
moda* - lapso freudiano, só uma MOTA é que dá para andar em Lisboa.
Indeed. Aqui também estão a tentar fazer o mesmo, mas tirando o calçadão da Foz, pedalar numa cidade onde as estradas, além do grau de inclinação exagerado, são pavimentadas com pedra calcetada e onde os carros estacionam a torto (quase nunca a direito) é coisa para desencorajar a maioria dos meninos.
Verdade, aí o piso é bem pior. Mas pronto, quem gostar de andar ao longo do rio, força. Isto é Portugal. Não é a Holanda.
Prezado faltou referir que um destes dias não muito distantes, vais ver o MOTA, a ir de Audi À sopinha.
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