sábado, fevereiro 19, 2011

Revoluções ao sábado


Passando ao mercado de Arroios, a revolução já começou. As velhinhas, vermelhas de fúria, azuis de farandol, gritam aos talhantes assassinos assassinos comedores de carne onde já se viu comerem o tó e a galinha balbina animais são os senhores animais assassinos a comer carne - gritaria pegada, paro passo e penso como finalmente funcionaram aqueles stencils vegan a denunciar o holocausto semanal que nas barbas de todos os inconscientes se repete - os animais são nossos amigos não se come os nosso amigos gritam foda-se para as velhas, não aguento este ritmo e tanto ódio nos olhos, o mundo não está mesmo preparado para ser vegan. Passo ao largo.
Da rua bipolar sigo até ao cemitério do alto de São João. Passo pela velhinhas de Sentinela na mão. Olhares desconfiados.
Como num café na Senhora do Monte. Não digo o nome porque não quero promover um sítio onde regresso para ter o melhor gosto em ser mal atendido. Demoram tanto a atender, mas são tão simpáticas e atarantadas que não há forma de reclamar. Aquela troca os pedidos todos, mas as meias de rede ficam-lhe bem. Nada a fazer.
Depois de uma pausa, mais um bocado em passo acelerado e entro na Feira da Ladra, que a esta hora já não é tipica nem tem turistas. Resta só um grande quadrado de gente lá mais para baixo, mais velhos, mais homogéneos: os que vendem para ter o mínimo dos mínimos. É tudo roubado. Coisas de supermercado. Tudo menos o que rapaz dos óculos fundo de garrafa me pede para comprar, isso notava-se que era dele. Pediu-me para comprar tralha, coisas de casa, dele.
Cruzo-me com mais um par de revista Sentinela na mão. Nada novamente. Deixei de ter salvação parece-me ora porra agora que até me dava gosto dizer uma barbaridade qualquer, género sou médium sou enviado de belzebu pratiquei fornicação mas só por motivos rituais atenção, qualquer coisa.
Desço ao Museu do Fado. Passo a fonte bizarra. Paro um bocado em frente a um portão que me diz coisas familiares, de tempos passados. Tiro-lhe um retrato, como retribuição.
Sigo em direcção à Casa dos Bicos, ultrapassando o velhote bêbado que mal se aguenta de pé. Sigo para o Rossio e apanho os manifestantes que tinha visto juntarem-se lá mais atrás, na Voz do Operário. Estes só para serem chatos ou porque precisam do dinheiro, fazem a manifestação ao sábado. Tanta polícia. Tanta. Junto-me aos perigosos agitadores e sigo com eles a rua a que agora cortam o transito e sigo para casa. Tanta polícia, devem estar à espera das velhotas vegan.

1 comentário:

prezada disse...

muito bom prezado