quarta-feira, outubro 16, 2013

Capitalingo globamisto

- Boa tarde.
- Boa tarde, é um Cappuccino. Grande.
- Como é que se chama?
- Prezado.
- co-como?
- Prezado.
- Prezado?
- Sim.

Experiência atroz, o Starbucks. Faço a publicidade porque não adianta publicitá-lo: A experiência de um café destes não é para portugueses de 30 anos. Não é uma experiência de um café. É uma experiência americana. E eu gosto de cá estar.
Só procuram esta trampa porque foi vista em filmes. Quem se cola a uma cultura - baixa - com filmes e procura repetir a experiência do filme - basicamente a parte de chacha - são os miudos que enchem o youtube de cabelo nos olhos e calças nos joelhos. Sim, estou velho e eles estão a tomar o mundo, mas hei-de ter cafés à antiga, eu e o grupo de gajos-velhos-que-gostam-de-cafés-portugueses-à-antiga e que conseguem usar o hifen de hei-de com mestria.
Porque é que um café português é bom? porque não tem mestria. Não é um negócio. É só uma forma de adiar a morte. Vou a um café e não me tentam vender nada. Só querem viver em paz. Num Starbucks apanho com marketing estudado de ponta a ponta a justificar os preços de aeroporto e eu vejo-o, cancro do mundo vejo-o em raio-x, a puta dos copos Grande, Tall e Vasetti ou uma treta qualquer a armar a um pingarelho italiano que para nós não quer dizer nada. Dizia Grande, Gigante, Giganorme. Mas, são cafés, são só cafés, não usamos cafés para medir pilas. Isso fazemos com quantidades de super bock e histórias de grégo e gajas. Vi também Cappuccino, Latte, Mocha não sei quê e mais uns quantos. Ah, variedade? não brinquem. Carioca, escorrido, descafeinado, garoto, duplo, meia de leite - normal ou de máquina, bica, cimbalino. Como? em chávena fria, chávena escaldada ou abatanado? Espera. Curto, normal, cheio, com cheirinho? E se é pela cena de experimentar coisas diferentes, é para isso que serve o abatanado: Ninguém consegue explicar o que é aquilo afinal.
A atrocidade aumenta: Juntar tudo isto e somar-lhe o atendimento. Eu gosto de ser atendido por humanos, apesar de tudo. Mas Portugueses a seguir um guião americano não me convencem. Mas quero ser bem atendido. Mas não quero sair do café com mais amigos do que entrei. Mas só do lado de lá do balcão.
Depois, a cena do nome. Eu não quero dar uma palavra-passe para receber o meu café. Isto não é uma sessão de sado para ter uma safe-word para me poder levantar da cadeira e ir buscar o café ao balcão. Orgulho-me de ter alguma compreensão de linguagem corporal e perceber quando um empregado tem o café pronto só de olhar e ver que tem um café na mão. Sim, depois disso um simples "ó amigo" ou um "ó chefe" basta.
Finalmente, é tudo de pacote. Croissants de pacote, bolos de pacote, sandes de pacote. "Pode ser uma torrada.". Hosana, vem por barrar. Não, pessoal do marketing. Cá em Portugal um Starbucks está vazio seja a que horas for e vocês não são pagos só com gorjetas mandatórias. Imagino que tenham tempo de barrar a puta da manteiga na torrada. Não me custou muito fazer isso, é certo. Mas como sou um nazi capitalista, gosto de gente servil.

6 comentários:

Marta disse...

Até me apetece ir agora dar uma beijoca ao senhor Agostinho, que mal eu entro no café deixa e cima do balcão uma bica e um copo de água :) oh maravilha! Depois faz sinal com dois dedos na direção do meu (não) pedido e diz: menina. Perfeito!

Prezado disse...

É só isso.

Mas, que ele não fique com a mania que me conhece e que eu quero sempre a mesma merda.

SJ disse...

Até fiquei com vontade de começar a beber abatanados.

Mariam disse...

Eu um dia vou ser capaz de, numa das vezes em que me veja arrastada para lá, dizer: "Gisele Bundchen, mas não se esqueça no trema no U".

POC disse...

Touché.

calhou calhar disse...

E ainda têm aquelas frases "inspiradoras" nos copos? Nos States tinham...