sábado, outubro 12, 2013

O tal do empreendedorismo, visto daqui

É complicado ser ex-bloquista e anarco-primitivista e ao mesmo tempo andar na senda do empreendedorismo. Seria fácil comparar-me com, por exemplo, um político do PC de uma terra aí algures que simultaneamente é empresário, dono de uma fábrica, mas onde não são permitidas greves ( é de Peniche ).
Aqui o pessoal do 5 Dias, que vou seguindo, relata umas verdades sobre o empreendedorismo que não são a verdade toda. Cito:

"Não há jornal ou revista que nos últimos três anos não tenha apresentado uma ou mais reportagens sobre “empreendedores” de sucesso vário. Normalmente a reportagem apresenta X portugueses que triunfaram na sua área / abriram um pequeno negócio de sucesso / tiveram uma ideia genial / regressaram da emigração (riscar o que não interessa)."


Eu próprio digo isto dentro da empresa. É verdade. E enjoa. Não estimula o espirito critíco. Qualquer trampa é vista como uma ideia genial, uma ideia de chacha mas visível é promovida como a ultima coca-cola no deserto. Mas os telejornais começaram a passar conteudos de qualidade a partir de quando?
O português é Saloio e não é de hoje. É um fascinado.

"O “empreendedorismo” não é a renovação do tecido empresarial do país, a excelência criativo-técnica da sociedade ou o sentido de aventura dos jovens, mas sim a crise, a austeridade e a precariedade pintadas de amarelo e azul com o lettering em helvetica neu."

Verdade. A renovação não está no empreendedorismo. Está nas universidades e depois está nas empresas. Mas, disseste Helvetica Neu. Sim, de facto, é melhor usar helvetica neu e renovar a imagem das empresas. A começar por qualquer coisa, porque não pela imagem? Sim, um político dirá que se começa pelas políticas, eu digo que se começa pela imagem. É que a imagem actual é uma miséria. O pouco que de melhor se desenha nas empresas ora cai no neo-vintage que nunca tivemos ( não tinhamos produção industrial nessa altura) e limitamo-nos a copiar o estilo americano dos anos 50 ou vamos para pós-pós-moderno dos hipsters em que seja o que for que se venda, o logotipo mete cruzes, ancoras, triangulos e é sempre a preto. Mas é melhor que o resto do cenário.
 E agora a parte da desonestidade intelectual, cruzada com a falta de noção como remate nesta tirada ( esta é a parte que eu gostei mais ):

"PS: Na altura de postar procurei no google images “empreendedor”. O resultado é profundamente sinistro, cínico e esclarecedor.  O momento empreendedor de orgasmo divino no escritório é todo um novo programa de alegria no trabalho.


(...)"


Meu mas que ideia de merda para acabar com um post que tinha lógica e vais dissertar sobre umas imagens sacadas da net, semiótica para deputados é isso? porra mete a mão na consciência eu sei que não curtes a conversa dos betos que nunca se viram à rasca com dinheiro mas assim não dá. Eu até estava quase a acabar de ler o post e a pensar "é isto, ele tem razão, vou mas é emigrar para a Holanda para uma comuna vegetariana" E dou com isto.
Mas alguém com cabeça usa estas imagens de merda?
As minhas discussões diárias com clientes são à conta deste tipo de mentalidade de mínimo denominador comum. Discuto e discuto e discuto e apanho com um "ah, mas o Zé usou na apresentação dele". Por isso é que se fala da tal renovação do tecido empresarial. Estas imagens são usadas por vendedores de carros de Frielas em acções de team-building no Natal. As tais empresas de chacha é que usam isto, cliparts 3D é uma casse particularmente mal vista, até por aqueles que usam cliparts. E como são a maioria, o Google entrega o que a maioria gosta: Merda.


nota: O autor tem uma opinião séria sobre empreendedorismo, renovação de tecido empresarial e preconceitos. Mas isso não é para aqui.

6 comentários:

calhou calhar disse...

Também reparei na imagem que acompanhava o texto, eh eh eh, e lembro-me de ter pensado se não tinham encontrado nada melhor.

Mas ainda sobre a imagem, por caso sempre pensei que se havia coisa que mudavam logo nos políticos, era a imagem... ou que a 1ª coisa que mudavam numa empresa, porque imaginava eu que fosse mais fácil e mais imediato, fosse a imagem (logotipo, cores e essas "cenas")...

Prezado disse...

O pessoal acha que mudar imagem é pouco e é superfluo. Por isso, deixam isso nas mãos de um qualquer, o que auto-confirma a teoria.
Não resolve tudo. Mas é um começo.
O outro que tem a teoria de que o país mudava se mudássemos de bandeira tem alguma razão. Só não lhe dão é mérito.

calhou calhar disse...

Curiosamente, e de uma maneira geral, as miúdas quando querem mudar algo na sua vida vão logo cortar o cabelo ou pintar - mas assim aquelas coisas (aparentemente) radicais. Mudam de imagem para ficar tudo na mesma, na maior parte das vezes. Resumindo: mudar de imagem pode ser uma coisa de impulso ou pode ser, de facto, a única coisa que se tem à mão/que se controla. Também acho que é um começo, mas não sei se é o mais importante.

SJ disse...

Uma vez pesquisei no google "Ilha da Madeira" e apareceu-me um pénis gigante. O que quererá isso dizer?

SJ disse...

Só deviam passar notícias sobre empreendedorismo de sucesso se as merdas se aguentassem mais de 1 ano. Ou que atingissem o break even, vá.

Prezado disse...

Freud havia de dizer que é uma manifestação de qualquer coisa, provavelmente validação externa. Mas também é acabar com uma ideia cristalizada. Tirando o mambo jambo, sobra que o impulso serve para qualquer coisa. Nem que seja como o caso da SONAE, para o vazio.

São, Break even é pouco. não há custos de produção, só ordenados.
E Um ano não é nada. As startups são como as baratas, não morrem com uma merda qq.
Acho que seria... Criar X postos de trabalho, ter lucro.