domingo, outubro 20, 2013

Simbolismo

Há anos que isto acontece assim: Há uma manifestação, eu e mais 5 mil pessoas estamos mesmo cheios do Passos/Sócrates/Cavaco/corja e vamos para à porta da assembleia. É simbólico. Não está ninguém na assembleia. Vamos mostrar-nos, só. Cada um tem razões diferentes para mostrar que está ali. Depois, há 30 polícias a tapar as famosas escadas da assembleia. Só as escadas. As escadas da assembleia são simbólicas, também. Há 3 crenças em volta das escadas: os deputados da oposição acreditam que o governo deve demitir-se caso as escadas sejam invadidas. Os jornalistas acreditam que passadas as escadas, estamos na Grécia. E os manifestantes acreditam que passadas as escadas, invadem a assembleia e o poder é restituído ao povo legitimamente. São escadas portanto com um poder simbólico muito grande. Convenção sem acordo, todos cumprem a tradição da escada, a cada manif. Uns comenta-na, outros protegem-na, outros tentam invadi-la.
Ontem a CGTP criou um novo paradigma de manif. Elevou a fasquia da manif simbólica para um patamar já conceptual e trouxe-a para o sec. XXI.
Começou pelo simbólico: A Ponte 25 de Abril. Uma marcha pela ponte, ao jeito de uma marcha pela Avenida da Liberdade e a relembrar os episódios da ponte doutros tempos. Com isto tornou-a uma manif CGTP/Almada-centrica. Quantos é que de Lisboa iriam a Almada de propósito?
Mas foram invocadas razões de segurança e proibida a passagem da ponte a pé.
Aqui entra parte do novo paradigma: A marcha de autocarros. Um ersatz de uma manif para cortar o trânsito da ponte a um Sábado - repara, o simbolismo - do sul para o norte. Fez-se.
Os autocarros fizeram a sua marcha lenta, ocupando apenas a faixa direita da ponte. Novamente o simbolismo em acção. Uma ponte invadida com uma faixa lenta de autocarros não é o mesmo que uma ponte cheia de autocarros em todas as faixas. Mas foi filmada, como sempre. Uma marcha sem pessoas, para televisão ver. E isso é a saída para o século XXI:
Esta manif foi totalmente pensada para redes sociais. A ponte filmada tem muito para ser um viral. A distância entre o tabuleiro/palco e as pessoas em Almada e Lisboa é tanta - mesmo que seja só mental - que só procurando fotografias e videos da manif no youtube e afins é que se teria tido uma ideia do que tinha sido a marcha a pé. Mal se ouvem. E à vista desarmada, de Alcântara, uma fila de autocarros na ponte não é uma boa performance.

Edit: Acho que foi tudo só uma ideia mal pensada da qual já não dava para voltar atrás.

2 comentários:

calhou calhar disse...

Eu acho que se a manifestação fosse a pé, o pessoal cansava-se a meio e voltava para trás. Ou alguém aproveitava para fazer um video turístico sobre Lx. Ou... não estava a chover? Então, aí, ninguém ia.

Prezado disse...

Eu queria ir, para fotografar a ponte. Mas lá está... Não deixam parar para fotografar a ponte.