Se a Ana Malhoa tivesse menos piercings diriam que se reinventou, no telejornal. Mas como é um fenómeno global a uma escala local, essa ideia só ressoa na margem sul.
Esta miuda é quase um génio do marketing. Quase, porque nunca acerta no cérebro reptiliano de ninguém, ficando-se por quase passar de raspão na tangente da superficie de uma ideia que podia ter potencial, eventualmente.
A Ana tem um problema que é tipicamente tuga: Quer fazer tudo ao mesmo tempo.
Os tugas têm medo de perder o comboio. Os clientes de publicidade mais sofregos mostram isso. Perguntamos sobre quem é o target da campanha e muitas vezes são capazes de dizer "toda a gente", ou mais contidos, "todos entres os 8 e os 65 anos". O tuga faz isto porque tem medo. Vive com este medo de meter dinheiro num projecto, numa ideia, num filme, num anuncio, e não agradar a toda a gente. Que alguém se ofenda. Mas na verdade, toda a gente esquece.
Por partes: A Ana tem um novo logotipo. Tem medo que não o entendam. Então faz o esquema logotipo-arvore-de-natal. Mete o logo no meio e umas frases à volta a explicar os seus significados ocultos. Porque não pode deixar de fora as pessoas que não percebem que aquilo é um logotipo do top gun redesenhado.
a) Mapa gnosiolígico-tipográfico. |
"A musica da rua". Uma aproximação ao povo, ao popular, às raizes. Certo. "ANA MALHOA LA MAKINA", com o logo top gun no meio: aqui começam os problemas. Deus, a rua, e agora um logo militar. Máquina com "K", um erro ortográfico para destacar a makinicidade. "Code" com letra a armar ao Terminator de 98. "De fiesta", sim é música de festa. Sigo. "Música do Povo". Sim, a música da rua, escrita de outra forma, para confirmação do target. "talento de calle". Novamente, a importancia de ser popular, da rua, mas agora em espanhol, porque "calle" é das poucas palavras espanholas que sabemos traduzir bem. Plátano é banana.
Portanto o logotipo da Ana Malhoa lê-se: A Ana é uma makina de fiesta militar com deus nas ruas da américa latina. Isto é o mote para o teaser online.
Animação 3D de 2001 para intro, um crescendo de expectativa que desemboca numa guitarrinha cigana. Ana Malhoa costuma fazer isto: Já com o videoclip anterior, tinhamos 10 minutos de expectativa e o problema era semelhante: a expectativa crescia e crescia mas desembocava no mesmo, uma música da Ana Malhoa.
Ana Malhoa agarra-se ao terço de taxista, ao volante um grande carro. Novamente, aquele medo que alguém perca algum tipo de informação, logo, coloquem-se todos os logotipos possíveis ao longo do carro, capacete, fato, la makina parece um showcase de vinil autocolante. Mas, musica de rua? do povo? Estás num carro do racing, Ana. Ou é musica de street-racing?
Este visual entre o Drive e o Fast and Furious com gipsy kings expressa bem o conceito comum a todos os videoclips: A musica é de fusão, mas não é pan-cultural, é pan-conceptual. Ana Malhoa pega na ideia de um Melting-Pot, torna-o primeiro latino, depois global, e depois cruza e mistura tudo o que pode no mínimo de tempo possível.
A Ana não é parva. Ela no fundo faz tudo o que um produtor de Hollywood faz, mas tudo mal.
Qualquer semelhança entre este processo criativo e o de qualquer agência de publicidade, é pura coincidência.
* análise só para designers que não gostam de perder tempo: o logo tem 3 tipos de fontes diferentes. Está tudo dito.