sexta-feira, dezembro 27, 2013

Odisseia: mini-série

Depois da Odisseia original, não a de Omero que essa é fraca comparada com a minha, o quotidiano passou a ser um mau descafeinado para mim, para o Pascoal e para o Januário. Hangover tuga sem droga, a Odisseia está dependente de uma boa dose de inconsciência, boa vontade e cerveja. Infelizmente o carro do Pascoal não anda alimentado a boa vontade, por isso ficámos por Lisboa, desta vez. A zona da Praça da Alegria estava por explorar há anos. É decadente, vive ainda na sombra do Parque Mayer e ainda não tem os preços do nível final de Odisseia ( elefante branco, hipopotamo e afins ).
Depois de vaguear à porta de não-sei-quantos bares duvidosos, escolhemos um que parecia ocupado e festivo.
Grave engano.
Estava vazio e era do tamanho de um maço de cigarros. Se enroscassem uma stripper no varão de pernas abertas, não cabia na sala. Imaginei uma pirueta a partir copos, bolas de espelhos, lasers, tudo. Fomos para o balcão. Depois de largar uma soma considerável por duas cervejas, reparei em duas coisas: as mesas tinham pratos com croquetes e pasteis de bacalhau em cima de guardanapos de papel e vinham duas putas na nossa direcção. Já estava a fazer as contas para responder o mais evasivo possível ao "pagas-me um copo" quando as duas senhoras se apresentaram. É interessante esta formalidade quando já tinham passado a zona de conforto há 30 cms atrás. Era suposto esta proximidade ser uma tentação. Mas Deus, eram feias. Feias como poucas mulheres que tenha visto até hoje. Ou se calhar era a distância a menos. O que se passou a seguir deve ter-se passado em 2 minutos, mas pareceram 20 minutos. Quando um gajo acha que já viu muita coisa no mundo - e isto é mesmo verdade e não é só uma frase muito repetida - acontece uma provação destas e um gajo percebe que é um menino na mesma. Não, meu caro, já foste a muita coisa muito decadente mas nunca tiveste decadente ao colo. Naqueles 2 minutos em que as senhoras faziam uma conversa que garantidamente só pode resultar em cama porque não podem resultar em mais nada, não é material para ensaios, teorias, mestrados ou workshops. Nem servem para esquecer. Naqueles 2 minutos o Pascoal parecia que tinha engolido um garfo e eu acabei com a cerveja toda. Ainda meninos, pedimos licença porque precisavamos de apanhar ar.
Os croquetes e pasteis de bacalhau estavam lá porque o barman fazia anos, já agora.

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