Após muitos anos a coleccionar almoços em tascos seleccionados, onde pude observar milhares de vezes a única body language portuguesa conhecida universalmente, o gesto faça-me-aí-a-conta, pude hoje adicionar 2 novos fenómenos que acho que devem ser património imaterial da humanidade:
É sabido que num tasco a função do empregado de mesa é dizer em voz alta o que queremos. É um facilitador: assim como no autocarro as pessoas mais acanhadas não se metem aos berros para abrir a porta de trás e vão até Pedrouços ou até Caneças, num tasco limitamo-nos a apontar para algo no menu e o empregado é que então berra "SAI MEIA DE FEBRAS!" e um gajo ainda diz "só com arroz, se faz favor." e berra "SÓ COM ARROZ", e é isto, o empregado é alguém de se desenvolveu de forma cénica, não tem problemas com fazer-se ouvir e ver. Esta facilidade abriu uma nova categoria de serviço quando hoje, depois do almoço terminado no tasco habitual, o empregado resolveu ser possível atender-me a 10 metros de distância, por meio de linguagem gestual e berros.
A 10 metros, pedi as febras grelhadas e a imperial.
Apesar de tudo, manteve a premissa de que um cliente não berra e ainda o premiaria com a confirmação de que tem a acuidade visual e cerebral capaz de perceber o gesto para ainda-vai-beber-café-não-é? seguido do gesto de bica-cheia-certo?. Finalmente, apesar de eu estar a 15 metros da cozinha e ele só a 2 metros, ainda teve de berrar "SAI MEIA DE FEBRAS", o que pode invalidar a teoria das linhas anteriores e expor uma nova, todos os cozinheiros são surdos.
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