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O Salazar a cada esquina |
Cheio da pica saio queria vencer a porra da proverbial depressão
domingueira porta fora raspo-me escada abaixo Estefânia vou PORRA já fiz
merda esqueci-me da máquina fotográfica paciência, já não volto atrás,
mas custa-me, só trouxe as canetas, os blocos, o ipod e o telemóvel, sem
máquina fotográfica sinto-me nu é como sair de casa sem meias descalço
com um caralho das caldas pintado de azul colado na testa, pronto
sinto-me estranho era só isso, a parte do caralho das caldas é fita, não
tinha de ser pintado de azul...
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Agora. |
Segui! Subo ao Liceu Camões, passo a antiga António Arroio. Ali
desvio-me da rua habitual e vou ao túnel do metro, tento apanhar um a
passar mas aquilo é demasiado rápido para apanhar, ainda mais com menos
carruagens. Desço para a rotunda do Marquês, passando pelas traseiras
dos hotéis. Um vento do catano. A feira do Livro já está na
pré-impressão. Subo às Amoreiras. Ainda estive para ir ao centro
comercial, pensei nuns headphones novos mas passou-me, quem sou eu para
salvar a economia? Atravessei a rua do Jafumega e apanhei a Ferreira
Borges. Parece uma aldeia. Ao fim da rua, perto da casa do Pessoa,
começo a ver para que lado irei apanhar o rio. Vou pela rua menos
habitual.
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Estrela |
Umas casas porreiras - um soco no autoclismo e ele desencrava, não falha
- não me importava de viver por ali, desemboco no Hospital Militar,
descubro uma tasca onde tenho de voltar um dia destes e entro de seguida
na Basílica da Estrela. Tirei os headphones sentei-me peguei na caneta e
pus-me a desenhar. A meio, fez-se hora da missa. Não me importei, os
betos até não incomodavam muito não não sente-se, pode cantar, os
pais-nossos não me quebram a concentração, mas só os betos são
católicos, olha-me isto, são todos louros e com sapatos de vela agora e
bandoletes já me sinto incomodado com aquilo nisto acaba o coro e o
padre diz que vamos rezar pelas almas no purgatório. Eu como não nasci
para nenhum calvário, pus-me a andar.
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Manifestação de pessoas satisfeitas com o país |
Como sempre, falhei os tempos, sentar levantar ele está entre nós
levantar sentar foda-se, levantei-me no tempo errado, desço a Calçada da
Estrela, boas casas, vivia ali na boa, passo pela assembleia, penso no
Passos, chulo, sigo o jardim do outro lado da Calçada, volto a subir.
Madragoa dentro. Zig Zag nas ruelas descobri umas quantas que não
conhecia, parei para desenhar um fiat 600, muito tasco tantos tascos,
andei cego.
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Carro azul |
Entrei na Igreja das Mercês. Aqui não há missa mas há muito movimento na
sacristia, um dia percebo se as igrejas precisam de sapatos de vela como
os dojos de kimonos, desço a Santos. Nada de novo, sigo para o Cais do
Sodré com paragem para comer um donner ali ao pé. Aqueci do vento que me
cortava as orelhas enquanto ouvia os italianos a cacarejar e segui. As
arcadas da Praça do Comércio vazias, autocarros poucos, sigo à Casa dos
Bicos, passando na Rua dos Bacalhoeiros ainda a semana passada jantei
lá, patrocinado pela minha vontade e pela menina do trombone que fez
anos e bancou o champomix.
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Restaurante desconhecido para mim. |
Depois das ruinas, dos sem-abrigo e da praça das esplanadas em Alfama,
uma trupe de velhotes acabados acabados de sair de uma noite numa casa
de fados esperava a camioneta de volta para Coruche e eu, mais à frente,
o Metro.
Devia ter voltado atrás para buscar a máquina, se não registo tudo passo a passo esqueço-me de por onde ando.
4 comentários:
Geee-sus, man. Tu andas que te fartas. Julgava eu que era andarilha, já levei chá de modéstia.
ah o flâneur!... e o "correlato objectivo"... acção, experiência sensorial e e e... cenas! fixe. tens jeito.
:)
(tem piada, o meu corrector queria chamar-te "flanela"...)
Izzie,
Foram umas horas. Com muita pausa. E jantar.
A ginástica rende, há uns tempos estaria morto depois de uma destas.
Calhou, por causa dessa tive de ir à wiki. Se fui Correlativo objectivo foi sem querer. ;)
calhou calhar seres correlativo, portantusss. :)
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