quinta-feira, agosto 02, 2012

Pois é, vora

Concêntrica como uma teia de aranha, tem por presas os pobres de deus que entenderam por bem viver sem um rio. Não se vê água ao redor e quando se segue a regra de Lisboa - para baixo é sempre rio - acaba-se por parar nos arrabaldes: Supermercados, estações de comboios, cemitérios, descampados. Aqui a regra é subir para ir ter ao Giraldo, centro cosmogónico, a fonte como deus sol, os bares planetas, a Praxis uma estação espacial abandonada. Praxis funciona como uma discoteca de adolescentes mas para adultos. Mulheres e homens, num ratio de 1 para 10 simulam rituais de acasalamento mas sem sucesso, é impossível 1) a música, Celine Dion com batida causa impotência frigidez e gonorreia está estudado 2) as mulheres estão - independentemente de serem Claudias Schiffer ou Dinas - com o ego sobrevalorizado dadas as abordagens 1 por minuto dos homens 3) eles são uns bimbos do caralho 4) a música é mesmo má 5) a música é mesmo má. Com toda a humanidade, toda a gente fez a mesma careta quando perguntei "o que é mesmo a Praxis?" o que faz daquilo um caso raro na historia da unanimidade ou da dislexia.
Já recuperado no dia seguinte pude ver as coisas que realmente interessam em Évora: a toponimia em azulejos amarelos e times new roman e a capela dos ossos.
Como já disse antes, quero relatar a capela dos ossos vista pelos ossos. Podem pensar lá está este com os lugares comuns, mas vou fazer um esforço:
Presa em uma sela turcíca, uma tíbia esperava pacientemente que me aproximasse, atraída pelo crepitar das minhas costas. Seguia-me como todos os outros ossos, calma e cegamente. Os ossos, mesmo os das caveiras com aquelas órbitas abertas onde cabem metáforas e outras figuras de estilo, são cegos. Como é óbvio e seguindo o mesmo pensamento, isto também se aplica a todos os outros ossos inclusivé aos dois cadaveres pendurados na parede: pai e filho podem falar latim memento mori mas não vêm um palmo à frente do ex-nariz. Quando lhes passo à frente, podem apenas adivinhar quem sou pelo restolhar da máquina fotográfica - o pessoal de Évora não gosta de máquinas fotográficas: fui a um bar por som e mesmo sendo um anfitrião de primeira ( incomodei muito pouca gente, só tinha umas 15 pessoas na pista e tinha 1 música e meia por pessoa até sobrava foda-se ), ainda tive de gramar com duas putas a chagarem-me a cabeça porque não podia tirar fotos, ainda pensei sim tem razão a Keops só sem flash mas eu nunca o liguei, menina.
Évora, a reter: doçaria conventual, entremeada e saco de brasas 2.99€

6 comentários:

Cafeína disse...

Tens que mudar o nome do blog para Perdido pelas Cidades. :)

Prezado disse...

Sempre foi. O Passos é que não deixa ser mais.

Cafeína disse...

Percebo. Pois.

Anónimo disse...

Pensar que estive quase a mudar-me, por amor, de Lisboa para lá, ainda é assim assustador. Acabou-se logo o amor! É um bom retrato o seu.

Prezado disse...

Completo e fidedigno. Só não mencionei a maldição de Évora.

Anónimo disse...

Maldição?Ai, conte tudo por favor!