Concêntrica como uma teia de aranha, tem por presas os pobres de deus que entenderam por bem viver sem um rio. Não se vê água ao redor e quando se segue a regra de Lisboa - para baixo é sempre rio - acaba-se por parar nos arrabaldes: Supermercados, estações de comboios, cemitérios, descampados. Aqui a regra é subir para ir ter ao Giraldo, centro cosmogónico, a fonte como deus sol, os bares planetas, a Praxis uma estação espacial abandonada. Praxis funciona como uma discoteca de adolescentes mas para adultos. Mulheres e homens, num ratio de 1 para 10 simulam rituais de acasalamento mas sem sucesso, é impossível 1) a música, Celine Dion com batida causa impotência frigidez e gonorreia está estudado 2) as mulheres estão - independentemente de serem Claudias Schiffer ou Dinas - com o ego sobrevalorizado dadas as abordagens 1 por minuto dos homens 3) eles são uns bimbos do caralho 4) a música é mesmo má 5) a música é mesmo má. Com toda a humanidade, toda a gente fez a mesma careta quando perguntei "o que é mesmo a Praxis?" o que faz daquilo um caso raro na historia da unanimidade ou da dislexia.
Já recuperado no dia seguinte pude ver as coisas que realmente interessam em Évora: a toponimia em azulejos amarelos e times new roman e a capela dos ossos.
Como já disse antes, quero relatar a capela dos ossos vista pelos ossos. Podem pensar lá está este com os lugares comuns, mas vou fazer um esforço:
Presa em uma sela turcíca, uma tíbia esperava pacientemente que me aproximasse, atraída pelo crepitar das minhas costas. Seguia-me como todos os outros ossos, calma e cegamente. Os ossos, mesmo os das caveiras com aquelas órbitas abertas onde cabem metáforas e outras figuras de estilo, são cegos. Como é óbvio e seguindo o mesmo pensamento, isto também se aplica a todos os outros ossos inclusivé aos dois cadaveres pendurados na parede: pai e filho podem falar latim memento mori mas não vêm um palmo à frente do ex-nariz. Quando lhes passo à frente, podem apenas adivinhar quem sou pelo restolhar da máquina fotográfica - o pessoal de Évora não gosta de máquinas fotográficas: fui a um bar por som e mesmo sendo um anfitrião de primeira ( incomodei muito pouca gente, só tinha umas 15 pessoas na pista e tinha 1 música e meia por pessoa até sobrava foda-se ), ainda tive de gramar com duas putas a chagarem-me a cabeça porque não podia tirar fotos, ainda pensei sim tem razão a Keops só sem flash mas eu nunca o liguei, menina.
Évora, a reter: doçaria conventual, entremeada e saco de brasas 2.99€
6 comentários:
Tens que mudar o nome do blog para Perdido pelas Cidades. :)
Sempre foi. O Passos é que não deixa ser mais.
Percebo. Pois.
Pensar que estive quase a mudar-me, por amor, de Lisboa para lá, ainda é assim assustador. Acabou-se logo o amor! É um bom retrato o seu.
Completo e fidedigno. Só não mencionei a maldição de Évora.
Maldição?Ai, conte tudo por favor!
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