segunda-feira, abril 07, 2014

Sobre aquele tipo que pelos vistos era um porreiro e que morreu no fim de semana: Talvez seja da minha vida - ou antes, da do meu pai - mas esta ansia de encontrar heroismo numa doença soa-me sempre a sentimentalismo bacoco.
Assim como um touro não tem nem mais nem menos honra em morrer numa arena do que teve a vida toda, sobre isso da honra a natureza pouco diz, uma pessoa ter um cancro ( ou uma vida, para todos os efeitos ) e tentar sobreviver-lhe não é mais do que todos tentam fazer. Se uns o fazem mais graciosamente, tanto melhor. No fim, morrer não é um acto muito inspirador.
Pelo que o meu pai dizia, até dispensava essa parte.

16 comentários:

DN disse...
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DN disse...

as pessoas (ele, em particular) são inspiradoras em vida, e não por ter morrido ou ter morrido de cancro ou até por ter tido cancro. that's the difference.

Prezado disse...

Eu sei a diferença.

Mas até à doença, a inspiração não era conhecida. Ou conhecida para poucos. O que me refiro é a sensacionalização ( e vejo-a ) do que é natural a todos: sobreviver.

A. disse...

Amén.

O pior para mim é aquela conversa dos vencedores, dos que têm a sorte de sobreviver, como se a sua sobrevivência dependesse do seu esforço pessoal: não depende, é simplesmente sorte e medicina. E quem não consegue vencer a doença e morre dela não é um fraco perdedor, nem lutou menos que os que tiveram a sorte de ter um cancro menos filho da puta.

Prezado disse...

Amén.

Izzie disse...

Ontem, a propósito dessa morte, e entre outras coisas, passaram um clip do senhor a dizer que era católico, tinha uma fé profunda, e que portanto o medo de morrer era zero. Kudos, e novidades: esta ateia não tem medo de morrer, só acha que é uma grande chatice. Como o teu pai, dispensava essa parte, e também a de envelhecer.

Prezado disse...

Amén outra vez.

Morrer chateia-me profundamente. Tenho medo de ser cedo demais, porque tenho muita coisa para fazer, mas acho que a condição de morto é bastante fácil de lidar. Nem é preciso apoio psicológico, nem comprimidos, nem nada.
Dada a hipótese, prefiro continuar vivo, é bem mais interessante.
Ficar velho demais é o único motivo válido para deixar de preferir estar vivo.

Anónimo disse...

Finalmente... alguém sensato!

Beijinho
http://socorro-mudeioblog.blogspot.com

Anónimo disse...

Com o devido respeito pelo senhor e pela família, que imagino o quanto devem estar a sofrer (ou melhor, não imagino porque já passei por isso) há uma coisa no meio desta história que me faz imensa confusão. Portugal tem uma necessidade imensa de ver heróis em tudo e em todos. E se tiver tido um cancro tanto melhor. E se morrer? Faça-se uma estátua.
Até há dois anos atrás o senhor era o maior pulha, que pregava calotes com as várias empresas que tinha, sem respeito pelos funcionários que também tinham eles próprios dívidas e despesas e que não viam a luz do dinheiro a que tinham direito por terem prestado serviços as ditas empresas. Descobre-se o cancro, passa a ser herói. Com o cancro passa-se a dizer uma frases feitas, totalmente random no youtube, quase sem conteúdo nenhum... O pais precisa de mais homens como aquele. Chega a ser doentia a forma como em Portugal se fabricam "motivational speakers". Deve ser da crise não sei, deixa-nos mais lerdos e absorvemos tudo.

Cláudia G. disse...

Completamente! Haja lucidez que não há paciência para esta necessidade de se arranjar heróis às 3 pancadas!

Cláudia G. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Xiça, estava a ver que era a única!
Lamento, mas a minha opinião é que o senhor devia ser pastor na Igreja Universal do Reino do Empreendedorismo (http://visao.sapo.pt/igreja-universal-do-reino-do-empreendedorismo=f675982).
Ou seja, um Miguel Gonçalves com mais dois neurónios...

Prezado disse...

Calma lá.

Disclaimer: O Prezado trabalha com empreendedores. Ou se quiserem, está no empreendedorismo. Claro que não me identifico como empreendedor porque isso implicaria eu fazer coisas que não faço directamente. Tipo bater a portas e fazer networking enquanto almoço. Eu não. Mas estou, como dizem lá, no ecossistema.

Dito isto:
Olhem lá os insultos. Chamar alguém de Miguel Gonçalves, é no meu dicionário, coisa para se resolver à facada.

O que o RAP fala existe. Mas também existe a outra parte, onde se trabalha.

O senhor fazia coisas e tinha um bocado mais de neurónios que o Miguel Gonçalves, que é só uma espécie de Arara. A prova disso é que lhe correram mal. Ao outro aposto que nunca nada lhe correu mal, porque nunca fez nada de concreto.

Estávamos a falar de cancro, não era? ou de morte? gosto mais de falar de assuntos mais leves.

A Mais Picante disse...

Nunca fez nada de concreto? Por acaso fez. E muita coisa lhe correu mal, já agora. E também já era figura conhecida antes do cancro. Acontece que houve una série de imbecis a idolatrá-lo. E isso é culpa dos imbecis, não dele.

Prezado disse...

O "outro" é o Miguel Gonçalves. Eu sei quem é o Manuel Forjaz.

Anónimo disse...

Nem fazia idéia de quem era, quando vi no FB tanta gente com RIP.