sexta-feira, maio 11, 2012

Eu até percebo

Eu percebo, Passos. Estás a falar com os miúdos e queres que eles espevitem, que não sejam lorpas encostados ao estado, sempre à espera de um tacho que lhes resolva tudo pelo caminho fácil, ajudados por padrinhos e a vingar ou, deus os livre, desamparados a cair no fado do trabalhador por conta de outrem. Eu percebo, queres um país de patrões. Até já alteraste a lei do trabalho de forma a proteger essa classe social emergente que vai substituir a classe média. É ler qualquer revista nas bancas e é só empresários. Estás num processo de democratização em curso e eu gosto disso. Da minha parte, posso confirmar-te que até hoje tentei ser um bom trabalhador por conta de outrem mas não me dei bem. É que dão muito valor a lorpas encostados. A grande frase que aprendi o ano passado foi "queres ter razão ou ter emprego?". E como eu insisto em ter razão - sou teimoso nisto - fiquei sem o emprego. Claro, dizes tu. Mas aprendi que posso ter uma empresa, já reparei que dava muita importância à questão do falhar: falhar pagamentos, falhar ética, falhar senso comum. Infelizmente falta-me aquela coisa, é ... tomates, não espera era qualquer coisa era qualquer coisa do Marx, bolas não me Capital isso capital, falta-me capital. Claro que não me deixei abater, tás a brincar? Não. Todos os dias tenho ideias novas. Sou humano e como tal preguiçoso, não consigo colocar todas em prática e desisto de muitas, mas tudo bem, todos os dias tento outra coisa. Ninguém me mandou parar de fingir que sou lorpa. Mas isso para ti é fácil, ó Passos.

6 comentários:

Stiletto disse...

Por acaso não me parece assim tão difícil. Conheço muita gente que o fez. E o capital não foi problema que as boas ideias são financiadas. E nem todas as ideias precisam de capital.
Mas também conheço muita gente que fica encostada ao subsídio de desemprego, à espera que o trabalho apareça porque afinal eles merecem.
Parece-me que as palavras de PPC não são mais que um alertar para o desemprego não ser vergonha nenhuma (em Portugal é, ao contrário por exemplo dos EUA onde as pessoas são despedidas e encaram a coisa como "normal"). E pode ser uma oportunidade. Tem de se procurar, ter iniciativa e alguma coragem. Apesar de não ser para todos, pode ser para muitos.
A ideia de emprego para a vida acabou e as pessoas têm mesmo de se habituar a uma nova realidade.
Sinceramente não tenho paciência para o discurso do ai coitadinho que eu sou, o Estado tem de tomar conta de mim. As coisas mudaram e é bom que os Portugueses percebam que têm eles próprios de tomar conta deles. Aqui ou lá fora.

Prezado disse...

Stilleto,
Ainda não li o teu comentário todo e posso já dar os exemplos opostos, das boas ideias que não vão para a frente. Mas adiante.

Talvez não tenhas reparado na ironia, mas o encostado ao estado que faço uma leve alusão é o próprio primeiro ministro.

Eu vivo no mesmo país que tu e ouvi o mesmo primeiro ministro. Claro que sim, o desemprego não é vergonha. Especialmente quando quase metade dos 3/4 da população activa do país estão a recibos verdes e sem direitos, o que neste momento é um género de desemprego a prazo.
Mas o desemprego tem estigmas. Ninguém o quer. Afinal, é este primeiro ministro que está a tentar acabar com esses que se encostam cortando a direito por toda a gente (diz ele).
Quanto à conversa do emprego-para-toda-a-vida-acabou, o PPC ( o blog, que apareceu bem antes do ministro ) não segue as directivas de moscovo nem vive em 1983, parece-me um argumento sacado de um taxista, esperava mais. Quem é que quer trabalho para a vida toda? farto de lorpas estou eu.

Stiletto disse...

Claro que reparei na ironia e a quem ela era dirigida.
Eu interpretei as palavras do homem apenas como o desemprego pode não ser um drama, pode significar uma oportunidade. Procurem-na. Foi somente isto.
E eu credito em oportunidades, gosto daquela frase feita de quando se fecha uma porta, abre-se uma janela. Toda a minha vida me habituei a procurar "as janelas", nunca nada me foi dado sem que trabalhasse para isso. E a verdade é que não me dei nada mal.
Acho que a maior parte das pessoas são demasiado acomodadas. As oportunidades existem, nem sempre as que queremos ou julgamos merecer. Mas há que procurá-las.
Ficar sentado a lamentar é que não resolve nada.
Andámos anos a fio a gastar acima das nossas possibilidades (o Audi A3 é o novo utilitário, pelo amor da santa), agora temos de pagar. Dói? Ah pois dói, mas não há outra solução. Portugal tem que se reinventar e isso inclui empresas, cidadãos e governos, de esquerda ou de direita.
Dava jeito que fossem atrás da economia paralela, mas lá chegaremos (sou optimista)

Prezado disse...

Stiletto,

Já sei que as palavras do nosso primeiro não te apoquentam. Só gostava que percebesses também que existem muitas realidades além da que que vivem aquelas a que ele se estava a dirigir. Se ele próprio não abrirá - ou fará por isso - mais a boca para falar no assunto, que tem noção que foi um discurso trabalhado para um público muito específico - miúdos pequenos, um abuso, digo eu - e não para quem estava daquela porta para fora.

Tento pensar em termos médios. Mas quando penso em termos médios, tenho de ter mais atenção a quem está a fazer a média baixar. Quando me falas da facilidade de fazer empresas e dás o exemplo do Audi A3, que eu não tenho ( eu não tenho carro, vê lá, essa gente que não tem carro também pode ou não estar no desemprego e no entanto aproveitar janelas ) e que poucas pessoas que eu conheça têm, claro que me arrancas um sorriso e confirmas o que a maior parte das pessoas me dizem: "ó Prezado, não vale a pena."

Stiletto disse...

Eu estou de certeza a exprimir-me mal. Falei no A3 a título de exemplo. Basta ir à rua e ver a quantidade de Audi's, BM's e Mercedes que há e que remetem para um povo de nível médio elevado (o nosso parque automóvel é elevado, muito acima das possibilidades dos Portugueses). Não quis, obviamente, com isto dizer que toda a gente tem um A3.
Quanto ao discurso, não me incomoda e não acho que seja necessariamente dirigido aos jovens, apesar de não ser dirigido a pessoas de 60 anos. O que eu quero dizer com todo o meu paleio é que há mais possibilidades do que trabalhar por conta de outrém durante 20 ou 30 anos.
Conheço gente que abriu empresas, do mesmo modo que conheço gente que foi vender pão, que passou a ser freelance, ou organizou serviços vários. Pessoas que não eram quadros qualificados de empresas, ok? Não estou a falar meramente de gestores.

Se há quem não o consiga fazer? Claro que há. Mas se por cada 10 que não conseguirem 8 tentarem e 2 forem bem sucedidos isso é bom, ou não é?

Em conheço bem a média, até porque trabalhei com os extremos. E conheço muitos extremos que vão vivendo de esquemas porque não querem trabalhar. Como conheço extremos que querem trabalhar e não têm emprego.

A única coisa que estou a dizer é que as pessoas têm de tentar. Não se podem acomodar. Se alguns, mesmo que poucos forem bem sucedidos, o país ficará melhor. É só isso.

Se é justo para os que não conseguem? Se calhar não. Mas a verdade é que a única sociedade justa que me lembra é a de More. Não conheço mais nenhuma, nem de esquerda nem de direita, admito a ignorância.

Concordamos em discordar?

Prezado disse...

O A3 é um exemplo, só isso, está bem. Mas vá-se lá saber, eu não coloco a fasquia tão alta. Essa tal média feita com os mercedes e com os audis... É a média feita por cima. A maior parte do pessoal que vejo à minha volta reza para que o carro não se desmanche e aguente até às bodas de prata. É só isso, questão de ponto de vista.
Não preciso de justiça já ( até preciso ), mas preciso que haja gente que acredite nela e que a persiga. Assumir que as pessoas não querem trabalhar como regra geral e usar isso como argumento para justificar falta de medidas ou fazê-as por essa bitola é que é desonestidade intelectual, no mínimo.

E de acordo, discordamos sempre. Mas eu tenho razão, óbvio.