Faço o caminho a pé. Deixei-me de metros, que não têm vista, e de autocarros, que me tremem a máquina fotográfica. Vou a pé. Pelo caminho, passo pelo grupo de queques que vão não sei para onde, pelos camones que saem do hotel e pelo pessoal que sai do teatro. Mais abaixo, passo pelo Licas. A memória visual é infalivel, mais do que a dos nomes. Este, por acaso, lembrei-me. O Licas era um daqueles rufias da preparatória. Quando todos fumavam cigarros às escondidas, o Licas fumava erva ou outra merda qualquer que não sabia distinguir na altura. Tinha chumbado tanta vez que tinha o caparro de um boi, comparado com os choninhas como eu, sempre a passar de ano, meninos ainda a tentar fazer do buço um bigode - ainda hoje não consegui, foda-se - e a não levarem tanto calduço. O maioral da escola. Estava o Licas na Avenida da Liberdade e lavar a rua, de farda retro-reflectora e mangueira. Não é karma, não. É mesmo a vida.
Depois passei pelo taxista, a olhar para o casal de lésbicas em romance, na rua, a dizer "que perda de tempo".
Bebi a minha superbock mais à frente.
Ouvi um cover de Stevie Wonder com ela, grande companhia.
Fui dançar. Sentei-me um bocado nos bancos do balcão, os das putas. E descobri que enquanto lá estou, ninguém me atende. Não servem para pedir bebidas, mas de trampolim para outro lado.
Vou.
E ajudem-me na porra do iPod. Será um grande acontecimento, o dia em que ele me vier parar às mãos. Juro. Donate. um euro. Não aceito dolares, tenham paciência.
5 comentários:
não tens multibanco.
Tu se calhar deixaste-o esquecido num bolso das calças. Tu vê lá.
Isto tudo corresponde a uma ida ao tokyo, traduzido para português corrente.
Só tenho paypal.
Vim cá de blog em blog e parei a ler este post!
Só para dizer: Adorei o texto, cada virgula, cada ponto.
(Porque é que é tão mais fácil de comentar um post de que discordamos e não gostamos, e raramente temos o altruísmo de parar e dizer: "sim senhor, bem escrito" ou apenas: "concordo"?)
PS: vou continuar a ler
Bem vindo,Yevgeny.
Obrigado.
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