domingo, agosto 18, 2013

De volta à cidade II

Todos os dias pela manhã, os vizinhos do lado encetavam uma conversa. Nestas, revisitei 2 conceitos bem conhecidos: A vergonha alheia e o silêncio incómodo. Rapidamente recordei como no início dos meus estudos do Taxismo, estas duas ocorrências deitavam-me por terra todas as tentativas de decifrar a mente taxista.
Mas se nos taxistas isto se deve a uma tentativa consciente de universalizar a comunicação com o cliente ou simplesmente burrice, no caso dos vizinhos do lado, como pude apurar rapidamente, era simplesmente burrice.
Está um gajo ainda a acordar refastelado à porta da caravana e o vizinho, já acordado há horas, lança enigmas como: 

" Isto é que é, han? "

" Já viu o que é que eles inventaram? "

" Há bocado estive aí. "

 "Então e hoje? "

 Tudo frases que pressuponham uma continuação, que não me era estranha por via do taxismo já referido, isto é simples, se eu consigo falar 20 minutos  - o tempo de ir a casa até ao bairro alto de taxi - de futebol sem saber a ponta de um corno de bola, só sei que o Cardozo é do Benfica e que ultimamente este dado não é absolutamente correcto e sei do Jesus e não sei mais nada mesmo -  de um tema que não percebo um caralho, portanto conseguia retorquir a estas frases facilmente:

" Pois, ontem estava mais sol. "

" Não tenho andado a ver as notícias..."

" Estou a ver quando é que saio para a praia, mas antes descanso um pouco."




Mas, e aqui está a queda de todo o léxico que o Taxismo fornecia, o tipo era capaz de responder a uma frase com algum nexo com uma nova rajada de frases de-encher-chouriço, a tender para o infinito, caso nenhum puto o interrompesse. Via-me obrigado a recorrer a golpes de que não me orgulho nada como o " pois é, é a vida ", ou " pois, lá tem de ser. "
Ao fim de 2 dias desisti de tentar comunicar com todos e limitava-me a andar sempre de óculos escuros para poder fingir que estava a dormir.

Amanhã: Burrice e genética.

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